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Reportagem

Um mês após atentados em Paris, identidade de cúmplices ainda é mistério

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Os atentados que abalaram a França completam um mês neste sábado (7). Os ataques levaram o país a adotar uma série de medidas contra o terrorismo, mas as investigações ainda têm pontos obscuros, como a existência de cúmplices dos irmãos Chérif e Said Kouachi e de Amedy Coulibaly, responsáveis pelas 17 mortes.

Imagens de irmãos Cherif Kouachi Said Kouachi aparecem em televisões do Iêmen dias depois dos atentados em Paris.
Imagens de irmãos Cherif Kouachi Said Kouachi aparecem em televisões do Iêmen dias depois dos atentados em Paris. REUTERS/Khaled Abdullah
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No total, cerca de 30 pessoas foram detidas no país, suspeitas de estarem relacionadas com os crimes no jornal Charlie Hebdo, contra uma policial em Montrouge e um mercado judaico. Destas, apenas quatro foram indiciadas por terem fornecido apoio logístico aos terroristas, principalmente armas.

As provas para determinar a cumplicidade nos ataques, no entanto, não foram estabelecidas. Nenhum dos suspeitos tinha antecedentes por atividades terroristas.

A polícia também não conseguiu determinar quem colocou na internet um vídeo realizado por Amedy Coulibaly, dois dias depois da morte do extremista, no mercado Hyper Cacher. Os investigadores acham que as imagens podem ter sido enviadas pelo terrorista para um aliado no exterior, antes do ataque ao estabelecimento judaico.

Passados 30 dias de investigações, a pista de um quarto atirador parece ter sido descartada. No mesmo dia do massacre no Charlie Hebdo, um homem que praticava esportes na periferia de Paris foi atingido a tiros, que saíram de uma das armas encontradas com Coulibaly. Mas a descrição do agressor, fornecida pela vítima, não correspondia às características do autor do atentado aos judeus. As investigações, entretanto, indicam que o autor dos disparos era mesmo Coulibaly, que estava encapuzado e estaria testando a arma à noite, no parque, quando atingiu o esportista.

Ajuda americana

Neste momento, o maior desafio das autoridades francesas é descobrir se, entre os amigos, familiares ou conhecidos dos terroristas, há alguém determinado a cometer novos ataques. Para isso, vai ser necessário melhorar a eficiência dos serviços contra atos extremistas, na opinião de Louis Caprioli, ex-sub-diretor de combate ao terrorismo da polícia francesa.

“O que é preciso é dar mais recursos e finalizar a reorganização dos serviços de luta contra o terrorismo, para que haja mais unidade. A dispersão de algumas estruturas impede uma melhor coordenação do conjunto dos serviços encarregados de identificar os projetos de terrorismo”, afirma.

Caprioli destaca que, após o atentado ao Charlie Hebdo, foi a polícia americana quem informou que os irmãos Kouachi poderiam estar ligados à Al Qaeda no Iêmen. Uma situação semelhante já tinha acontecido depois dos atentados cometidos há três anos por Mohamed Merah no sudoeste da França.

“A verdade é que os serviços franceses não têm a dimensão da NSA americana. O aperfeiçoamento do aparato técnico é indispensável. E fazendo isso, a massa de informações também vai aumentar e terá que ser analisada”, explica. “Entramos em uma dinâmica em que haverá cada vez mais alvos para monitorar.”

Nos dias que antecederam os atos terroristas, vários conhecidos de Said e Chérif Kouachi e de Amedy Coulibaly partiram para a Síria. As autoridades turcas e búlgaras conseguiram prender dois deles, que foram extraditados para a França, onde estão detidos provisoriamente para responder aos investigadores.

“Riscos só vão aumentar”

Enquanto isso, o alerta contra novos ataques permanece no nível máximo, o de atentado. A presença policial nas ruas das grandes cidades é ostensiva, assim como os controles na entrada dos estabelecimentos públicos ou comerciais.

Mohamed Douhane, secretário-nacional do sindicato policial Synergie Officiers, explica que as folgas, férias e horas-extras dos agentes permanecem suspensas, para garantir a segurança da população em um período que continua de extrema tensão.

“Diante da ameaça terrorista, nós devemos ficar mobilizados mais do que nunca, afinal é uma necessidade nacional. Para uma situação excepcional, medidas excepcionais”, ressalta Douhane. “A ameaça é real e precisa de uma resposta. Infelizmente nós pensamos que os riscos não vão evoluir em um bom sentido nas próximas semanas: eles só vão aumentar.”

Em março, o Parlamento francês vai analisar um pacote de medidas para ampliar os poderes dos investigadores de terrorismo, abrindo a possibilidade de os policiais fazerem mais interceptações das comunicações e deslocamentos dos suspeitos. O governo prometeu a contratação de mais de 2.600 policiais, especializados, nesta área nos próximos três anos.
 

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