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O Mundo Agora

Mundo está ameaçado por guerras cada vez mais violentas

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O hiato simbólico é terrível. Por um lado, os países europeus não param de comemorar os 70 anos do começo do fim da Alemanha nazista e da pior guerra da história da humanidade. Por outro lado, uma guerra de verdade está sendo travada no solo europeu – na Ucrânia. E quem não sabe que conflitos armados na Europa são sempre prelúdios que acabam engolfando o resto do planeta?

Mulheres palestinas observam escombros de um prédio residencial em Gaza, em 24 de agosto de 2014.
Mulheres palestinas observam escombros de um prédio residencial em Gaza, em 24 de agosto de 2014. Reuters
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 A Ucrânia é só um dos exemplos das ameaças que pairam sobre a paz mundial e todas as instituições criadas no final da Segunda Guerra Mundial.

O Oriente Médio inteiro, do Afeganistão à Síria e do Golfo Pérsico à Líbia - está se desintegrando numa orgia de violências bárbara – massacres de massa, genocídios e terríveis limpezas étnicas ou religiosas. A ordem imposta na região no final da Primeira Guerra Mundial – certamente injusta, colonial e ditatorial – garantia assim mesmo um mínimo de previsibilidade e de violência relativamente controlada. Hoje, essa ordem está se desmanchando rapidamente e ninguém tem a mínima idéia do que pode substituí-la.

A Europa, onde mais de 60 milhões de pessoas morreram nos conflitos entre 1914 e 1945, e que apesar da Guerra Fria conseguiu viver meio-século de paz e prosperidade, está mais uma vez afundando numa crise econômica e social generalizada. Os velhos fantasmas da extrema-direita xenófoba, populista e autoritária, com seus ranços nacionalistas agressivos estão de volta. A integração europeia, baseada nas economias abertas, no estado de direito e nos valores democráticos, protegeu os europeus até durante os piores momentos do enfrentamento entre o mundo ocidental e o império comunista soviético.

Hoje, já são muitos os que pensam que a União Européia pode implodir e que a volta dos nacionalismos exacerbados pode até provocar conflitos armados. Sem falar nas tensões entre a China e seus vizinhos, o rearmamento do Japão e a corrida armamentícia entre Pequim e Nova Déli.

Na verdade, todo o sistema das Nações Unidas, todos os grandes acordos diplomáticos e regras de direito internacional – em soma, o multilateralismo que emergiu dos campos de batalha europeus e asiáticos depois de 1945 – tinham por missão tentar conter a violência das relações entre Estados e promover regras do jogo bastante estáveis para que as populações do planeta pudessem se dedicar às artes da paz: crescimento econômico, cultura, liberdades políticas e promoção dos direitos individuais e coletivos. Mas essa grande arquitetura institucional internacional está ruindo.

A razão é simples: não há segurança, nem regras do jogo e valores universais que se sustentem sem alguém com meios suficientes e disposição para garantí-los. Nos últimos 70 anos, foram os Estados Unidos que assumiram essa função, junto com a Europa ocidental e uma certa ajuda do Japão. Só que hoje, a Europa está se desmelinguindo e os Estados Unidos de Barack Obama não estão mais a fim de pagar o preço da proteção dos valores e das regras universais. O problema é que não há lei sem polícia. E não serão nem a China, nem a Rússia e ainda menos o Brasil ou outros países emergentes que terão os meios e a vontade de manter as regras básicas da convivência internacional.

Sem um Ocidente próspero, unido e com força de vontade para defender o direito internacional e os valores de liberdade e democracia, estamos ameaçados de cair numa nova idade das trevas, com guerras cada vez mais cruentas e níveis de violência sem precedentes, externa e interna. E as principais vítimas desta nova Idade Média serão os mais fracos: as populações dos países pobres e emergentes.

Numa publicação recente, o arqueólogo americano Eric Cline conta a história do desaparecimento brusco e brutal, em poucas décadas, de todas as civilizações e grandes cidades da Idade do Bronze, dois milênios antes de Cristo, no Mediterrâneo oriental. A História demonstra, mais uma vez, que as civilizações são perecíveis quando não há mais ninguém para  defendê-las.

 

* Alfredo Valladão é professor no Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences PO)

 

 

 

 

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