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O Mundo Agora

Em 10 anos, economia digital vai reger crescimento e poder político

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Na sua crônica semanal, o cientista político Alfredo Valladão analisa a quantas andam as economias globais. O panorama se modificou, com novas acelerações e inesperadas desacelerações. Quais os desafios diante deste cenário?

As novas tecnologias serao determinantes no crescimento e na política do futuro.
As novas tecnologias serao determinantes no crescimento e na política do futuro. elrepuertero.cl
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A França está estagnada com 0% desde o começo do ano e um número recorde de desempregados. A Itália despencou de novo. Até a Alemanha, que é a única locomotiva da Europa, não anda lá muito bem das pernas, sofrendo o impacto econômico das sanções contra a Rússia. Não dá para esconder o sol com a peneira: as principais economias europeias não estão saindo do buraco.

É claro que essa falta de dinamismo do Velho Continente tem impacto global. Afinal de contas, a Europa representa um terço do consumo privado mundial. Quando os consumidores europeus param de comprar, todos os países emergentes e em desenvolvimento que apostaram nas exportações têm dificuldades em vender. E o mercado interno americano, que também consome um terço da produção do mundo, não é bastante para puxar o crescimento global. Sobretudo que a nova revolução industrial que está sendo inventada nos Estados Unidos está dando uma vantagem decisiva às empresas americanas: muitas já podem produzir mais barato do que na China. Hoje, os consumidores americanos têm interesse no Buy America, sem precisar invocar motivos patrióticos.

Mais inquietador ainda é a freada dos grandes países emergentes. Claro, a China e a Índia continuam crescendo a taxas invejáveis. Mas nada a ver com os sucessos da primeira década do século XXI. O crescimento chinês já está no limite baixo para poder manter a bicicleta econômica do país. A Índia está atolada num mar de burocracia, clientelismo e ineficiência que o novo presidente eleito Narendra Modi vai ter que suar para mudar alguma coisa. A Rússia, já está pagando caro as suas aventuras na Ucrânia e tem que enfrentar uma economia interna exangue. O pior dos BRICS ainda é o Brasil, com a queda do crescimento em 2014 e que pode chegar à eleição presidencial em estado de recessão ou de “pibinho” mais do que pífio.

Mas o principal desafio não é bem os PIBs fracos, mas são as respostas políticas. Na França, no Brasil ou na China, os dirigentes políticos insistem em tentar a resolver as coisas só com pequenos ajustes aqui e ali. Sem ter tutano para enfrentar as reformas indispensáveis para que suas economias nacionais possam sobreviver num mundo globalizado que está vivendo uma revolução produtiva tão devastadora quanto a revolução industrial do século XIX e começo do século XX.

Na próxima década, o crescimento econômico, os empregos, a tecnologia, a educação, a saúde, os investimentos e até o próprio poder político vão estar estreitamente vinculados à nova economia digital. Basta um simples exemplo: a indústria automobilística. Hoje, os carros estão se tornando produtos extremamente sofisticados – concentrações de eletrônica e software embrulhados num envelope de metal produzido por robôs, com uma mão de obra mínima. É claro que sempre haverá indústrias com operários, mas elas serão totalmente dependentes dos avanços das produções e organizações digitais.

Isso significa que os governos vão ter que promover verdadeiras revoluções na educação, nas regulamentações, ou no papel do Estado. A nova economia precisa de imensa liberdade para os empreendedores, para os inovadores, para os investidores. Uma liberdade que ameaça os interesses estabelecidos das empresas e dos dirigentes políticos tradicionais.

Nos Estados Unidos e na Inglaterra há maior espaço para aceitar essa feroz competição política e econômica interna. No resto do mundo os poderes tradicionais não querem largar o osso de jeito nenhum e preferem tentar pequenos arranjos achando que podem resolver os problemas sem ter que entregar a rapadura. Por enquanto, olhando para os números, está na cara que essas manobrinhas sem futuro não têm condições de dar certo. Vem vento grosso por ai.

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