Para evitar o desperdício de água, franceses dividem até a banheira

Você estaria disposto a tomar banho na mesma água da banheira que um familiar acabou de usar? Esse é um dos hábitos frequentes dos franceses para economizar água, não por risco de racionamento, mas por consciência ecológica.

Utilizar um recuperador das águas de chuva é um dos meios de economizar água.

O medo de racionamento na região sudeste do Brasil está de volta. A falta de chuvas leva os reservatórios funcionarem com um índice baixíssimo: o sistema Cantareira opera com apenas 12,7% da capacidade, o menor valor da história. Mas a população também pode ter um papel decisivo para evitar que as torneiras sequem, com mudanças simples na gestão da água no cotidiano.

Na França, a organização France Libertés é uma das mais ativas para sensibilizar as populações carentes sobre as consequências do desperdício dos recursos hídricos. Danielle Mitterrant, a fundadora da ONG, ia ao Brasil quase todos os anos para campanhas de esclarecimento.

Hoje é Emmanuel Polaine, diretor da organização, quem está por dentro da situação. Ele está convencido de que os brasileiros podem economizar mais água. “Os brasileiros consomem em média cerca de 190 litros de água por dia, por pessoa. É um monte. São números que estão na média dos países ocidentais, e pode-se facilmente consumir muito menos”, observa. “É possível mobilizar os brasileiros. Eles podem economizar no uso normal para não serem obrigados a enfrentar cortes de água, que são muito mais desagradáveis.”

Os franceses têm alguns hábitos que causam bastante estranheza aos olhos de um brasileiro. A reutilização da água é muito comum no país. .”Você pode lavar a louça em uma bacia com detergentes biodegraváveis, não químicos, e utilizar a água para regar as plantas. É um gesto que não causa nenhum grande impacto no seu cotidiano”, explica Polaine. “Mas se você gosta de deixar a torneira sempre aberta, é melhor usar uma lava-louça. Neste caso, só ligue a máquina quando ela estiver cheia de louça.”

Torneiras e chuveiros, os vilões

O diretor da organização destaca que onde é possível gastar menos água é no uso das torneiras e chuveiros. Segundo ele, pode-se reduzir até 70% do consumo sem perdas na qualidade de vida. “Você pode instalar um sistema de economizador, que diminui a quantidade de água e aumenta a de ar, mas para você não muda nada, a ducha é igual”, garante.

Alguns franceses chegam a fazer reformas nas canalizações para poder diminuir o consumo de água, de forma a não usar água potável nos toaletes. “É possível recuperar a água que a gente utilizou para lavar a roupa e usá-la na descarga. A água potável deve ser usada para beber e preparar a comida”, ensina.

Mudança de hábitos

A agente de viagens brasileira Samia Duarte vive há 10 anos na França. Casada com um francês, ela se lembra dos hábitos de economia de água que a impressionaram quando chegou no país, e que hoje fazem parte da sua rotina.

“Acho que aqui as pessoas têm mais cuidado. Quando a gente vai tomar banho, não se deixa a ducha aberta. Só abre depois que passou o sabonete”, conta. “Eu agora lavo os legumes em uma bacia, e não deixo a água da torneira escorrendo. Acabei me tornando mais ecológica, sim.”

Mãe de um menino de 5 anos, Samia percebe que as crianças aprendem desde cedo, na escola, a não desperdiçar a água. “Isso me chamou bastante a atenção. Quando as crianças vão escovar os dentes, usam apenas um copinho de água. As pessoas em geral, nem os adultos, não têm esse reflexo”, comenta.