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Planeta Verde

Mudanças de regras da pesca salvaram vieiras de exploração intensiva

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Elas estão no topo da listas dos produtos preferidos de muita gente, particularmente dos franceses: as vieiras são um fruto do mar incontornável nas festas de fim de ano, ou a qualquer momento, em um restaurante chique da França. Por isso, um grupo de pesquisadores está concluindo um dos estudos mais aprofundados já realizados sobre o molusco, para conhecer melhor os seus hábitos, as ameaças que o rodeiam e que impacto as mudanças climáticas têm nas populações da famosa – e deliciosa - coquille Saint-Jacques.

Coquilles Saint-Jacques - ou vieiras, como são chamadas no Brasil - são o fruto do mar mais consumido na França.
Coquilles Saint-Jacques - ou vieiras, como são chamadas no Brasil - são o fruto do mar mais consumido na França. Ifremer / O. Dugornay
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A França é o principal consumidor europeu de vieiras: compra até 120 toneladas ao ano. A maior parte vem do exterior, já que o país consegue pescar no máximo 30 toneladas. Mas nem sempre foi assim: o país já tomou um susto nos anos 60, quando a pesca intensiva das vieiras chegou a ameaçar a espécie.

Desde então, as regras mudaram bastante e se tornaram cada vez mais rígidas. Atualmente, a pesca só pode acontecer dois dias por semana, por no máximo 45 minutos. O número de barcos pesqueiros também é controlado. “Nós vimos uma melhora em 10 anos. Analisamos todas as espécies presentes na Bretanha, que são entre 30 e 60, e percebemos que há uma melhora muito clara, desde 98, tanto em termos de biodiversidade – tem mais espécies – quanto de quantidade – tem bem mais”, explica Eric Foucher, coordenador do projeto Comanche, realizado nas regiões da Bretanha e Normandia, onde se concentra a produção.

Reprodução acelerada

Um dos fatores que explicam a melhora da situação é que a vieira tem uma alta capacidade de reprodução: somente uma é capaz de soltar até 10 milhões de larvas no mar. “Basta haver poucos genitores para permitir que uma grande quantidade de novas gerações apareça. Mesmo se voltasse a acontecer uma pesca exagerada, pontualmente, não seria dramático para os estoques”, observa Foucher. O aquecimento dos oceanos nas últimas décadas, com as mudanças climáticas, favoreceu ainda mais o ambiente para a reprodução do molusco.

As normas franceses de pesca prevêem mecanismos para evitar abusos, como a aplicação de multas severas. Os próprios pescadores também não têm interesse em ver o preço do produto baixar, o que aconteceria em caso de abundância no mercado. “Antes que ocorresse uma ameaça aos estoques, a pesca não seria mais rentável sob um ponto de vista econômico, e acontece um bloqueio das atividades. Ou seja, estamos bem protegidos, sob esse ponto de vista.”

Diferenças entre países

O pesquisador destaca que a pesca de vieiras não é regulamentada pela União Europeia, fazendo com que alguns países se arrisquem a atravessar o mesmo problema que a França passou há 50 anos. “Os sistemas de regulamentação são extremamente draconianos na França, mas há um grande problema em nível europeu. Cada país gerencia as suas vieiras de maneira autônoma”, afirma. “Há uma diferença muito grande entre o que é feito na França é o que é feito no Reino Unido, por exemplo. Lá, não existe quase gestão, o que nos provoca preocupação. Estão tentando resolver: tem negociações em curso com os britânicos.”

Apesar dos avanços, o pesquisador reconhece que a pesca intensiva deixou marcas irreversíveis no fundo do oceano, onde vive o molusco, a cerca de 30 metros de profundidade. “Se tem algo em que todo mundo concorda é que, com toda a certeza, a pesca de espécies marinhas com rede ou com draga vai ocasionar impacto no fundo do mar. Ninguém pode negar, assim como todo mundo concorda que é impossível voltar a ter o ecossistema inicial”, constata.

Essa ampla pesquisa sobre as coquilles Saint-Jacques durou três anos e se encerra em julho, quando novos segredos sobre o fruto do mar serão desvendados.
 

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