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Reportagem

Exposição em Paris traça panorama da música negra

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Abriu nesta terça-feira, na Cité de la Musique, em Paris, a exposição “Great Black Music”, que tem uma missão ambiciosa: traçar um panorama da música negra no mundo. O trabalho é duro, não só porque os sons que a diáspora produziu marcam profundamente as culturas dos dois lados do Atlântico, mas também porque o próprio conceito de “black music” é controverso.

James Brown, o padrinho do soul sofreu influência da música africana e foi influência fundamental para o Afrobeat de Fela Kuti
James Brown, o padrinho do soul sofreu influência da música africana e foi influência fundamental para o Afrobeat de Fela Kuti Getty Images/Redferns/David Corio
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Emmanuel Parent, curador da exposição lembra que muitos musicólogos se arvoraram a tentar e chegaram até a uma “definição”: canto e resposta; blue note; a noção de riff; o som “sujo”. Essas são as características musicológicas da música negra. “Mas são características que a gente também encontra em outros estilos”, explica Parent.

“Não é como a música de uma etnia específica, é uma grande variedade de estilos. Então, a gente pode sempre desconstruir a noção de música negra porque é simplesmente uma abordagem racial da cultura. E, no fim das contas, isso não tem sentido. Por outro lado, no nível social, a noção de black music tem sentido, já que acaba agrupando estilos cuja ligação é reconhecida pelos próprios músicos”.

Controvérsia
Ainda assim, o termo traz mais dúvidas do que respostas. Foi o que concluiu o sociólogo e músico Michael Spanu depois de visitar a exposição em primeira mão, na vernissage. Para ele, “o grande ponto positivo desta exposição é não ter vergonha ou medo de usar o termo ‘música negra’”. Spanu acha que o próprio termo obriga o visitante a procurar uma definição. Mas isso é algo que “Great Black Music” não oferece.

“Se você é alguém que tem o hábito de ver a música negra ou africana como algo exótico, você pode muito bem ver toda a exposição sob essa ótica”, observa Spanu, antes de tentar definir por conta própria: “A questão da ‘música negra’ tem um sentido histórico, que não é nada antropológico ou racial. Acho que dizer que isso que chamamos de música negra é o produto da escravidão e da segregação porque este contexto político e social era ligado à questão da cor da pele... Isso legitima o fato de chamarmos essa música de “negra”.

Percurso histórico
Para mostrar a que veio, a exposição coloca logo na primeira sala uma instalação de áudios e vídeos de ícones da black music. Estão lá, sob a égide “Légendes des musiques noires”, ou lendas das músicas negras, gente como Fela Kuti, Bob Marley, Billie Holiday, Louis Armstrong e B.B. King.

Dali, o visitante viaja para o que todos esses ídolos negros têm em comum: as raízes africanas. Mama Africa é o nome da sala que antecede o encontro com os ritmos rituais do vodu e das religiões tradicionais. No corredor que dá acesso ao subsolo, um mural enorme conta cronologicamente 5 mil anos de história da música negra.

Essa sala, na opinião de Parent resume toda a proposta da exposição: “A cronologia histórica mostra bem que a música negra é uma construção moderna e não uma herança do passado. Tudo que é proposto pela exposição a quem não conhece nada do assunto pode ser encontrado nesta sala, com a vantagem de que, nas orelhas, o visitante terá um grande prazer”.

Visita interativa
É que durante a visita, o público é convidado a retirar um tablet smartphone com um aplicativo e um fone de ouvido que enriquecem a exposição. Cada instalação tem seus sons e histórias. E ouvindo essas histórias, as pessoas chegam às salas da América Negra e da mistura global. No fim, quem ainda tiver pique depois de conferir os conteúdos audiovisuais que, juntos, somam mais de 11 horas, pode participar de um ateliê de dança ou de uma sessão de grafite virtual. A exposição “Great Black Music” fica em cartaz até o dia 24 de agosto.

Informações

Horário:
De terça a quinta, das 12h às 18h
Domingo, das 10h às 18h
Sextas e sábados até às 22h

Endereço:
Cité de la musique
221, avenue Jean Jaurès
75019 Paris

Preço:
De 5 a 9 euros
 

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