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Reportagem

ONG Repórteres Sem Fronteiras se preocupa com segurança dos jornalistas no Brasil

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A primeira morte de um jornalista desde o início dos protestos no Brasil expôs a falta de segurança para os profissionais da imprensa na cobertura das manifestações. No ano passado, foram registradas 109 agressões nestes eventos, e neste ano já são três. Santiago Andrade foi morto após um ataque de um manifestante, mas para a diretora da seção de Américas da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), a diminuição da violência contra os repórteres passa por uma nova postura da polícia militar durante os protestos.

Cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Ilídio Andrade foi atingido por um rojão na cabeça, na semana passada, e morreu ontem (10).
Cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Ilídio Andrade foi atingido por um rojão na cabeça, na semana passada, e morreu ontem (10). REUTERS/Andre Mourao/Agencia O Dia
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Camille Soulier afirma que a entidade internacional está “bastante preocupada” sobre o estado da liberdade da informação no Brasil ultimamente”. O país é um dos mais perigosos do mundo para o exercício da profissão.

Em entrevista à RFI, ela lembra que dois terços dos ataques à imprensa em 2013 foram feitos pela polícia. “As principais recomendações são para o Estado, que precisa garantir que as forças de ordem, como a polícia militar, respeite o trabalho dos jornalistas. Vimos que a polícia militar faz uso de uma violência descabida contra os jornalistas e contra todos os manifestantes”, observa.

No mínimo um capacete

A representante da organização ressalta a importância de os jornalistas se protegerem na hora de cobrir manifestações populares, que muitas vezes podem terminar em embates violentos. Além de estarem identificados como profissionais de imprensa, os repórteres devem evitar portar objetos que possam ser confundidos como armas. Também precisam conhecer os seus direitos em caso de problemas e saber os limites da atuação do jornalista, como respeitar os locais e as ocasiões em que é proibido filmar ou fotografar. Mas o principal, segundo Camille, é usar no mínimo um capacete de proteção.

“Pego o exemplo das manifestações na Ucrânia, recentemente. Nós fornecemos capacetes de hokey para os jornalistas”, diz. “Portanto se eu tenho uma recomendação, e sobretudo depois da forma como o jornalista brasileiro morreu, é a de usar capacete, nem que seja um de ciclista. Mas é importante deixar sempre o rosto à mostra.”

Nesta terça, a morte de Santiago levantou o debate sobre a segurança dos jornalistas, mas a questão provoca polêmica entre os profissionais do setor. Para a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a conscientização sobre a proteção e a preparação dos repórteres para zonas perigosas é cada vez maior no país, e a conduta do cinegrafista da Band no momento em que foi atingido não deve ser questionada. O profissional não usava capacete, mas já havia feito um curso de proteção.

“Eu acho que isso é uma segunda covardia. A primeira foi o ataque que os jornalistas vêm sofrendo em série, tanto da parte da polícia quanto dos manifestantes, desde que os protestos começaram. E a segunda covardia é tentar colocar a culpa na vítima”, afirma José Roberto de Toledo, presidente da associação. “Essa é uma questão muito menor em relação à violência que vem sendo cometida.”

Mídia virou alvo

Toledo destaca que a frequência dos ataques indicam a intenção deliberada de cercear o trabalho da imprensa. “Há uma disposição intimidatória, de tentar evitar que os jornalistas façam o seu trabalho. Foram atacados jornalistas com ou sem equipamento, com ou sem curso de proteção. A questão do preparo é necessária, mas neste momento é absolutamente secundária”, afirma.

Já a Federação Nacional dos Jornalistas quer pressionar as empresas de mídia para aplicarem um protocolo nacional de segurança para os profissionais. “Tanto o Santiago quanto outro jornalista, também da Band, vítima de um tiro no Rio de Janeiro, no passado, estavam sozinhos, sem nenhum tipo de infraestrutura ou proteção – seja proteção de ferramentas, como coletes, como a proteção de uma infraestrutura em torno”, declarou Celso Schöder, presidente da Fenaj.

As duas entidades exigem a punição dos suspeitos pela morte de Santiago Andrade e investigações mais eficientes dos crimes contra jornalistas em todo o país. “Nós tentamos reverter um tipo de violência muito peculiar que está brotando, de uma maneira ambígua e confusa, dentro do movimento social. A nossa perspectiva é de que o movimento social democrático e as forças democráticas do país rejeitem isso”, disse Schröder.
 

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