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Reportagem

Conselho de Estado francês proíbe show do humorista antissemita Dieudonné

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A grande polêmica atual na França é certamente o espetáculo do humorista Dieudonné, considerado antissemita, que despertou um leque de reações por parte das autoridades e das associações judaicas. Seu gesto ambíguo chamado "quenelle", que ele define como um gesto antissistema, mas é claramente ligado à saudação nazista, além de suas piadas sobre judeus, vêm causando a indignação geral.O ministro do Interior francês, Manuel Valls, pediu ao Tribunal de Nantes para proibir o show de Dieudonné na noite desta quinta-feira, 9 de janeiro, no Zenith, casa de espetáculos da cidade com capacidade para até cinco mil pessoas, cujos ingressos estavam esgotados. O advogado do artista recorreu e ganhou, baseando-se na lei de liberdade de expressão.A decisão não fez o ministro abandonar o barco e Manuel Valls levou o caso à instância máxima jurídica e administrativa do país, o Conselho de Estado, que decidiu proibir o show, menos de duas horas antes de começar.

O humorista francês Dieudonné Mbala Mbala no Palácio de Justiça de Paris, em dezembro de 2013.
O humorista francês Dieudonné Mbala Mbala no Palácio de Justiça de Paris, em dezembro de 2013. AFP PHOTO/JOEL SAGET
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Há dez anos o humorista tem problemas com a justiça e alguns dos seus shows foram cancelados ou proibidos em diversas cidades da França, Suíça, Bélgica (onde a polícia interrompeu o show por xenofobia) e até no Canadá, por distúrbio à ordem pública.

Pesquisas demonstram que 52% dos franceses são a favor da proibição do espetáculo, mas que 64% acreditam que a medida não é eficiente na luta contra o antissemitismo. A questão é complexa pois se trata de censura em um país conhecido por seus valores democráticos e pela defesa da liberdade de expressão.

Censurar ou não?

Para Pedro Vianna, editor da Revista Migration Société (Migração e Sociedade, em tradução livre) e especialista em questões de imigração, a iniciativa do governo de tentar proibir o show de Dieudonné não é o melhor caminho para combater a violência de um discurso. "A proibição não serve para nada, ela transforma a pessoa censurada em vítima, em mártir", diz Vianna. Para ele, a melhor maneira de combater o antissemitismo, e o racismo em geral, deve ser política e jurídica, e no próprio dia a dia.

Saudação nazista ou antissistema?

Uma das grandes provocações do humorista é o gesto ambíguo que ele faz, chamado de "quenelle", que ficou famoso por lembrar a saudação nazista. As autoridades francesas também querem combater o gesto, uma posição que inquieta o nosso entrevistado. "Como impedir alguém de fazer um gesto?", ele reflete, não escondendo que acha que o governo francês está tratando o caso "de forma ridícula".

Pedro Vianna também considera que a luta contra o racismo tem que ser igualitária, tem que valer para todos, o que nem sempre é o caso...." Por que combate-se o antissemitismo quando, ao mesmo tempo, a islamofobia se desenvolve? Mais uma vez, é um combate político, é um combate ideológico", conclui Vianna.


 

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