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Brics/África do Sul

Violência da polícia vira tema de pré-campanha na África do Sul

A África do Sul celebrou na quinta-feira, 21 de março, o Dia dos Direitos Humanos em clima de indignação com a violência policial que persiste no país, apesar dos esforços do governo democrático para fazer respeitar os direitos dos cidadãos e a Constituição. Na imprensa local, governo e oposição trocam acusações.

O presidente sul-africano, Jacob Zuma, em primeiro plano.
O presidente sul-africano, Jacob Zuma, em primeiro plano. REUTERS/Tiksa Negeri
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Adriana Moysés, em Joahannesburgo

Os partidos de oposição aproveitaram o Dia dos Direitos Humanos para lançar suas campanhas para as eleições gerais de 2014. A insegurança urbana e a violência policial são temas do cotidiano dos sul-africanos e vão estar nos discursos políticos. O presidente Jacob Zuma, que vai disputar um segundo mandato, já saiu no contra-ataque.

Falando num comício em Paarl, Zuma lembrou dois massacres policiais que marcaram o país: a tragédia de Marikana, recente, em agosto passado, quando uma intervenção da polícia para pôr fim a uma greve de mineiros provocou a morte de 34 manifestantes; e a tragédia de Sharpeville, em 1960, na qual a polícia abriu fogo contra negros que protestavam na época contra as discriminações do Apartheid. O banho de sangue deixou 69 mortos, 182 feridos, e ficou gravado para sempre na memória dos sul-africanos.

No comício, Zuma falou da tragédia de Marikana como algo "lamentável, chocante e inaceitável". Ele lembrou que depois do massacre de Sharpeville, o movimento de liberação sul-africano decidiu construir uma África do Sul "em que estes incidentes nunca mais iriam ofuscar a liberdade". "Hoje, reafirmamos a nossa determinação de criar um serviço de polícia que respeite os direitos de todos", afirmou Zuma.

O problema é que historicamente a polícia sul-africana teve sua ação caracterizada pela crueldade e a brutalidade, e com sanção do Estado. Mulheres e crianças são vítimas de crimes sexuais e exploração de toda espécie. A discriminação racial não desapareceu. Com as eleiçoes democráticas de 1994, a mentalidade na corporação, formada por 200 mil homens e mulheres, começou a mudar, mas os esforços são insuficientes segundo ongs e oposição.

A líder da Aliança Democrática (AD), Helen Zille, considera que apesar de a África do Sul ter adotado leis para garantir o respeito aos direitos humanos, os incidentes de brutalidade policial se repetem. Em 2011 e 2012, segundo ela, a Direção de Investigações da Polícia recebeu 4.923 queixas de violência contra policiais. Desse total, 720 foram mortes provocadas por policiais. Zille luta para obter uma comissão judicial de inquérito sobre a brutalidade policial.

O cristão-democrata Kenneth Meshoe, do Partido Democrático, considera que os elevados níveis de criminalidade e violência, particularmente contra mulheres e crianças, demonstram que o Estado tem falhado na tarefa de combater todas as formas de violência.

O policial Smuts Ngonyama, ouvido pelo jornal The Star, avalia que o fosso crescente entre ricos e pobres "demonstra o desafio de unir um país que foi racialmente separado e economicamente dividido".

Reconhecendo os avanços da última década, Nqabayomzi Kwankwa, da União Democrática, lamenta que diariamente os sul-africanos vejam no noticiário incidentes de brutalidade policial e violência contra mulheres e crianças.

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