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Vítima de mutilação genital, cantora e ativista Inna Modja diz que “luta é cansativa, mas inevitável”

Para dar apoio à luta das mulheres nesse dia 8 de março de 2019, a RFI convidou a cantora, modelo e ativista franco-malinesa Inna Modja para ser editora-chefe por um dia. Ela participou de debates, fez a coordenação editorial de programas e sobretudo passou adiante sua mensagem de combatente. Quando era criança, Inna sofreu uma mutilação genital. Hoje, ela é voluntária num projeto que ajuda meninas que viveram o mesmo trauma.

Inna Modja, cantora, modelo e ativista
Inna Modja, cantora, modelo e ativista Flickr / Nicolas Sornat
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Inna Modja tinha cinco anos e morava no Mali quando sofreu a excisão genital, por ordem de sua tia e sem a autorização de seus pais, que se opunham à prática. “Não tenho lembranças da dor, porque acho que é tão intensa que tendemos a ocultá-la. Mas me lembro muito bem do choro das outras crianças, porque a mulher que fazia a operação atendia várias de forma ininterrupta”, conta à RFI.

“Quando meus pais descobriram, ficaram muito mal. Somos 7 irmãos e sou a menina mais jovem. Todas as minhas irmãs foram levadas por um membro da família, escondidas dos meus pais, para fazer a excisão”, recorda Inna. “Meus pais não podiam nos vigiar 24h por dia e vivíamos numa sociedade onde as crianças eram criadas por todos os familiares.”

A ativista conta que, a cada vez, um membro diferente levava uma das crianças ao local da mutilação. “Toda vez era uma surpresa diferente, um escândalo, e nos dizíamos que não aconteceria novamente. Mas tem sempre aquele que pensa ter tido a boa ideia de fazê-lo assim mesmo e isso é muito trágico”, reflete. “Minha tia nunca foi à escola, não sabia ler nem escrever. Sua cultura e sua educação se limitavam à tradição, ela acreditava que estava me fazendo um favor. Uma visão totalmente ignorante.”

Ela permaneceu calada por anos sobre o assunto, até que, na adolescência, diversas questões começaram a pipocar em sua cabeça. Desde então, ela percorreu um longo caminho de reconstrução física, emocional e mental através da cirurgia de reconstrução genital, da psicologia e da música. “Eu quis abordar esse assunto, que é difícil e atroz, usando palavras mais poéticas, sem minimizar a dor de todas as mulheres que passaram por isso”, disse a artista em 2016, quando participou de um evento organizado pela ONU em Nova York.

Sua canção “Speeches”, uma colaboração com o rapper Oxmo Puccino, é uma das que abordam esse assunto. “Essa música fala dos belos discursos que ouvimos, que nos dizem que as coisas vão mudar. O que me pergunto é: em algum momento alguém vai nos amar, nos aceitar pelo que nós somos? Vão nos pedir perdão pelo mal que fizeram?”, interroga a cantora.

Mulheres são as primeiras vítimas da guerra

Como editora-chefe e convidada da RFI no Dia Internacional da Mulher, Inna Modja participou de um debate sobre saúde feminina, conduzido pela jornalista Chantal Lorho, onde explicou seu papel como “madrinha” da Maison des Femmes, instituição situada na região metropolitana de Paris especializada em ginecologia. “Tive a chance de participar como líder de um grupo de conversação com meninas vítimas de mutilação genital e tento ser o mais presente possível”, afirma a jovem.

“Em todas as guerras, as mulheres e meninas são as primeiras vítimas. São as que mais sofrem”, lembra a ativista. Em sua canção Toubouctou, ela se dirige ao povo do Mali, que sofre com a ascensão de grupos terroristas. “A noite caiu, a fome acordou. Em todos os meses do ano nossas pessoas são assassinadas. A Guerra Sem Fim começou”, diz a letra.

Inna Moudja teve a chance de reconstruir sua vida. Foi por isso que, já aos 19 anos, ela decidiu se engajar na luta pelos direitos da mulher. “Já faz 15 anos [que comecei]. O tempo passa rápido e a batalha avança lentamente. Mas há alguns anos pude constatar um pouco de melhora”, afirma.

“Essa luta é cansativa, mas eu não conseguiria viver de outra forma. Vi meus pais serem feministas e engajados durante toda a vida. Vivi numa família onde era importante ter voz e fazer algo. Não imaginava que iria fazer disso meu combate, mas minha história pessoal fez com que eu não tivesse escolha”, revela.

França concede primeiro prêmio Simone Veil

A camaronesa Aissa Doumara foi a vencedora da primeira edição do prêmio Simone Veil, criado pelo presidente francês Emmanuel Macron em homenagem à ex-ministra, que morreu em 2017. Doumara administra uma associação que luta contra a violência de gênero em Camarões.

A vencedora recebeu o título em Paris, na presença do filho de Simone Veil. A ativista dedicou o prêmio a “todas as mulheres vítimas de violências e de casamentos forçados e a todas as resgatadas do Boko Haram”. “Quase todos três segundos, uma criança é forçada a se casar no mundo”, lembra Aisse Doumara.

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