França: Ong alerta para incidência de doenças mentais entre exilados
A Ong Médicos do Mundo divulgou, nesta terça-feira (19), um relatório inédito sobre a saúde mental dos imigrantes na França. A situação, segundo os representantes da organização, é uma “emergência sanitária” ignorada pela sociedade, que deve agir rapidamente.
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Segundo o documento, 62% das pessoas recebidas no Comitê para a Saúde dos Refugiados entre 2012 e 2016 tinham sofrido algum tipo de violência. Ela pode ser de diversos tipos: circuncisão feminina, estupro ou tortura. Mas o mal-estar também pode surgir da situação às quais os imigrantes estão expostos em território francês.
De acordo com o relatório, a burocracia lenta impossibilita uma inserção rápida e expõe os estrangeiros a condições precárias de vida, que contribuem para esse cenário. Muitos acabam nas ruas. O relatório também lembra que, a partir dos anos 80, as restrições para a permanência vêm sendo dificultadas, complicando o acesso dos imigrantes ao sistema de saúde e dificultando o tratamento das doenças mentais mais presentes nos imigrantes que pedem asilo político, como o stress pós-traumático, a depressão ou ansiedade. Sem contar a própria viagem, onde eles ficam à mercê de coiotes desumanos.
"Tenho pacientes que não têm coragem de usar o transporte coletivo. Que quando cruzam um agente que vai controlar a passagem entram em pânico. O simples fato de ver um uniforme traz à tona lembranças do que eles viveram. O simples fato de ouvir um “não” é considerado como uma ameaça”, descreve Philippe de Botton. “É complicado evoluir em uma sociedade onde tudo é ameaçador. Existe uma espécie de círculo vicioso. Se eu durmo uma hora e meia por dia, não tenho capacidades cognitivas para me defender e me relacionar com os outros, e isso só vai piorando”, descreveu em uma entrevista coletiva, nesta terça-feira.
Rupturas brutais
De uma maneira geral, o documento mostra que o país recebeu cerca de 100 mil pedidos de asilo político, sendo que cerca de 31% deles foram aceitos. “As múltiplas violências que levaram os imigrantes a deixarem o país, as rupturas brutais e a trajetória do exílio em si podem gerar problemas psíquicos graves”, lembram os representantes das duas organizações humanitárias. Além, claro, da barreira da língua, que dificulta a comunicação e a expressão desse mal-estar.
"A doença psíquica é tradicionalmente mais discreta. Não é como uma deficiência mental, ou uma doença visível. A doença mental gerada pela violência não é reconhecida. Os sintomas são sempre os mesmos: problemas de sono, de concentração, aprendizagem, atenção, angústia.
O documento também lembra que o sistema de saúde francês é bastante desenvolvido para tratar problemas físicos, ainda deixa a desejar na questão das doenças mentais. Os menores desacompanhados são a população mais fragilizada, e mais exposta aos riscos sanitários. Por isso as organizações estimam que o acesso à saúde deve ser simplificado, mesmo sem toda a documentação necessária. Outras propostas incluem um orçamento dedicado à contratação de intérpretes.
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