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"O mundo espera que defendamos a liberdade e os oprimidos", diz Macron no Louvre

Foi uma noite histórica. Um público de milhares de pessoas se reuniu na Esplanada do Museu do Louvre, em Paris, em um evento organizado pelo comitê da campanha do novo chefe de Estado, Emmanuel Macron, para celebrar sua vitória. O político centrista de 39 anos, o mais jovem presidente da história do país, obteve 65,5% dos votos, contra 34,5% de Marine Le Pen, líder da extrema-direita.

Macron faz discurso com a pirâmide do Louvre de fundo
Macron faz discurso com a pirâmide do Louvre de fundo Reuters
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Às 22h30, ele fez uma entrada triunfal no local, sob o som de “Ode à Alegria”, de Beethoven, que é o hino da Europa. Macron caminhou sozinho, cruzando o pátio do Louvre, com passos firmes e olhar solene, com as imagens transmitidas pelos dois telões, até o palco montado entre a pirâmide do museu e o Arco do Carrossel. Ele foi ovacionado pelos presentes, que gritavam e agitavam com furor suas bandeiras francesas e algumas da União Europeia.

O público agita as bandeiras francesas com furor
O público agita as bandeiras francesas com furor Augusto Pinheiro/RFI

“Vocês representam esta noite o fervor, o entusiasmo, a energia do povo”, disse Macron. “Este lugar, o Louvre, faz parte de várias épocas da nossa história, do regime antigo à liberação de Paris, da Revolução Francesa à audácia desta pirâmide atrás de mim. É o lugar de todos os franceses. Este é o lugar da França para o qual o mundo todo está olhando, porque esta noite são a Europa e o mundo que nos olham."

Sob gritos e aplausos, o novo presidente disse que “o mundo espera que defendamos o espírito iluminista, ameaçado em vários lugares, que defendamos a liberdade, que protejamos os oprimidos, que levemos uma nova esperança, um novo humanismo, esse de um mundo mais seguro, da defesa da liberdade, do crescimento, de mais Justiça, de mais ecologia, que sejamos nós mesmos”.

Garotinha assiste atenta ao discurso de Macron
Garotinha assiste atenta ao discurso de Macron Augusto Pinheiro/RFI

Macron disse que “a tarefa que nos espera é imensa, e ela começa amanhã”. “Ela imporá a moralização da vida pública, a defesa da nossa vitalidade democrática, o reforço da nossa economia, a construção de uma nova proteção no mundo, encontrar um lugar para todos, por meio da escola, do trabalho, da cultura. Refundar nossa Europa e garantir a segurança de todos os franceses."

Ele dedicou algumas palavras para os eleitores que votaram nele apenas para evitar a vitória de Le Pen. “Vocês se engajaram, votaram para defender a República, contra o extremismo. Conheço nossas desavenças, e as respeitarei. Serei fiel a esse engajamento e protegerei a República.”

Macron e Brigitte cantam "A Marselhesa" de mãos dadas
Macron e Brigitte cantam "A Marselhesa" de mãos dadas Reuters

O novo presidente também se dirigiu aos que votaram em Le Pen. “Eles expressaram hoje uma raiva, um descontentamento, eu os respeito. Farei de tudo durante os próximos cinco anos para que não tenham mais motivos para votar nos extremos.”

Ao final, sua mulher, Brigitte, subiu ao palco, ovacionada pela plateia, com alguns gritos de “te amamos”. Ao casal se juntaram militantes para cantar “A Marselhesa”, o hino da França.

Logo após o anúncio da vitória, antes do discurso, uma programação musical animou o público, com o grupo Magic System, da Costa do Marfim, o cantor norte-americano Cris Cab, que mistura reggae, pop, soul e r&b e ficou conhecido pela colaboração na faixa “Liar Liar”, de Pharrell Williams, e os DJs franceses Michael Canitrot e Richard Orlinski.

"Estou muito orgulhosa"

A artista Cécile Gohel era toda sorrisos após o anúncio da vitória de Macron. "O mais importante é que Marine Le Pen foi derrotada. Estou orgulhosa, muito orgulhosa. É encorajador. As vezes parece que estamos retrocedendo, mas, no final, há um pouco de esperança", disse à RFI Brasil, ao lado do namorado, Antonin Guidicci.

Os namorados Antonin Guidicci e Cécile Gohel: "muito orgulho"
Os namorados Antonin Guidicci e Cécile Gohel: "muito orgulho" Augusto Pinheiro/RFI

Para ela, Le Pen representava um “perigo”. “Primeiramente, para mim, como mulher, mas também o perigo de colocar uns contra os outros e de entrar num círculo de cólera e de ódio, de separação. E Macron vai fazer o contrário, vai unir. E esse espírito deve continuar.”

Mas, apesar de ter votado Jean-Luc Mélenchon, da esquerda radical, no primeiro turno, ela diz que “seu voto não foi apenas contra a Frente Nacional”. “Estou feliz de que finalmente vamos ter um presidente jovem, é muito importante, faz bem. E ele é pró-europeu, é fundamental continuar na União Europeia.”

O funcionário público Christian B.: "França aberta"
O funcionário público Christian B.: "França aberta" Augusto Pinheiro/RFI

Já o funcionário público Christian B., 56, qualificou o resultado de “formidável”. “Vencemos a Frente Nacional. Os ideais desse partido não são os da França. Somos um país aberto, acolhedor, europeu.”

Mas, para além da derrota da FN, ele vê muitas qualidades em Macron. "Ele é jovem, tem um grande entusiasmo. Claro que falta ver como vai ser o seu governo, mas estou contente. Ele tem dinamismo e a vontade de transformar.”

Os amigos e estudantes de direito Haim Seneor, 24, e Elie Touitou, 21, comemoravam juntos a vitória de Macron, empunhando a bandeira da França. “Estou muito contente porque eu quero que nosso modo de vida não mude. Tenho vontade de continuar na Europa. Le Pen representava o fechamento, olhar apenas para o próprio umbigo, e seu programa econômico era extremamente ruim”, opina Haim.

Os amigos Haim e Elie: contra o fascismo
Os amigos Haim e Elie: contra o fascismo Augusto Pinheiro/RFI

Para ele, Macron é muito mais que seu programa. “Ele mesmo disse várias vezes que, mais importante que o programa, é um projeto de sociedade aberta para o mundo, com o intercâmbio de línguas e de culturas, um projeto equilibrado, sem extremos, em um momento de tendências extremistas pelo mundo”, completou Haim, que estava ansioso para ouvir o discurso do novo presidente.

Para Elie, “foi uma vitória da França e da República”. “Ele se opôs ao fascismo, a uma França que não queremos”, opina o jovem, que é presidente da associação de estudantes Alliance Sorbonne. “Ele tem algumas boas propostas para os estudantes, como o Passe Cultura.” A medida vai dar € 500 aos jovens ao completarem 18 anos, para comprar livros e consumir produtos culturais.

Construção europeia

O funcionário público Frédéric Renesme, 59, acha que Macron é quem melhor representa os interesses da França. ¨Ele investirá na construção europeia, no nosso lugar na Europa. Ele vai servir de catalizador, vai dar novo dinamismo à União Europeia¨, opina.

Frédéric Renesme: projeto europeu
Frédéric Renesme: projeto europeu Augusto Pinheiro/RFI

Ele também acha que é uma vitória sobre o racismo e a xenofobia: "Le Pen iria dividir ainda mais o nosso país. Macron vai unir a população".

Para Frédéric, a escolha da Esplanada do Louvre foiperfeita para a ocasião. "É um local carregado de cultura e de tradição, que representa bem os ideais franceses."

Laurence Morgain, 59, que diz que sua profissão é “avó”, afirma que a vitória de Macron significa "liberdade, juventude e união". "Ele tem tudo. É inteligente, economista, a favor da Europa, de mente aberta e, além disso, parece que tem bom coração. E isso é o mais importante. Quero que meus netos cresçam felizes e livres."

Laurence Morgain: bom futuro para os netos
Laurence Morgain: bom futuro para os netos Augusto Pinheiro/RFI

Já Guillaume Verwaerde, 23, engenheiro químico, é mais cético. "A vitória dele não significa nada, ele não tem programa. Ele não representa este país. Além disso, não tem apoio político porque seu partido é muito novo."

O jovem, que votou branco no primeiro turno, conta que apenas votou em Macron para evitar a vitória de Le Pen. "Me recusaria a viver em um país governado por ela. Ela representa o racismo, a xenofobia e o antissemitismo”, disse. E conclui: "O fato de ela ter chegado ao segundo turno já foi uma derrota para a França".

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