Para jornais franceses, Fillon terá o desafio de reunificar a direita

Os principais jornais franceses que chegaram às bancas na manhã desta segunda-feira (28) estampam em suas capas a vitória do ex-primeiro-ministro François Fillon no segundo turno das primárias francesas, realizado no domingo (27), na corrida para a eleições presidenciais de 2017. Os últimos resultados, ainda não definitivos, apontam que o ultraconservador candidato do partido Os Republicanos venceu por 66,5% dos votos o prefeito de Bordeaux, o moderado Alain Juppé, também do partido Os Republicanos, que ficou com 33,5% da preferência dos eleitores da direita.

Capa do jornal francês Le Figaro destaca a vitória do candidato François Fillon nas primárias da direita francesa.

"Objetivo: Eliseu" é a manchete de capa do jornal conservador Le Figaro. De acordo com o diário, François Fillon nunca duvidou de seu sucesso, mesmo quando as pesquisas apontavam que ele conseguiria apenas 8% dos votos no primeiro turno, há algumas semanas. O conservador tem agora o desafio de reunificar a direita para alcançar o objetivo de chegar à presidência, escreve Le Figaro.

Para colocar um fim aos cinco anos de governo do presidente socialista François Hollande, que Fillon classifica como "patético", ele explicou, ontem à noite, ao comemorar sua vitória, que "precisará de todo mundo", ressalta o jornal, especulando até mesmo uma possível participação do ex-presidente Nicolas Sarkozy no futuro governo da direita. Sarkozy, com quem Fillon tinha uma delicada relação na época em que era primeiro-ministro, foi um dos primeiros a felicitá-lo pela façanha.

Racha na esquerda

"A direita atrás de Fillon, a esquerda se destrói" é a manchete que estampa a capa do jornal Les Echos. Para o diário econômico, a imagem de união da direita em torno da vitória do ex-primeiro-ministro é inversamente proporcional à da esquerda neste momento.

Em entrevista ao Journal du Dimanche no domingo, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, anunciou que está pronto para enfrentar o presidente François Hollande nas primárias da esquerda, que devem ser realizadas em janeiro. Até então, a posição do chefe de governo era de que esperaria Hollande decidir sobre sua candidatura para se anunciar ou não como pré-candidato do Partido Socialista. Valls e Hollande se encontram na tarde desta segunda-feira para tentar acertar os ponteiros, mas segundo o jornal Les Echos não há dúvidas: a esquerda está mergulhada em uma crise sem precedentes.

Programa ultraliberal

Já o jornal Libération analisa a vitória de Fillon do ponto de vista dos eleitores progressistas. Ao contrário da imagem de entusiasmo que a direita tenta passar de seu eleitorado neste momento, como se esse fosse um sentimento geral de toda França, o diário considera que Fillon vai ter que adaptar seu programa e torná-lo menos radical se ele quer de fato que a união aconteça não apenas dentro do partido Os Republicanos.

De acordo com Libération, não é todo o país que está disposto a se engajar em um projeto ultraliberal como o proposto por Fillon. Uma recente pesquisa realizada pelo jornal mostra que os principais projetos do candidato de demitir 500 mil funcionários franceses, da extensão da aposentadoria aos 65 anos e do aumento dos impostos dos bens de consumo e serviços para diminuir a pressão sobre as empresas são rejeitados por 60% dos franceses.

Ou seja, Fillon terá que amortecer seu programa de governo porque, ao contrário do que demonstraram as primárias, o país inteiro não compartilha a simpatia por uma administração radical e intransigente, ressalta o jornal Libération.