David Hamilton, o fotógrafo das jovens nuas, morre em Paris

Mundialmente famoso por suas fotos de adolescentes nuas, o britânico radicado em Paris, de 83 anos, estava no centro de um escândalo como suspeito de estupro, razão pela qual a polícia não descartou a hipótese de suicídio.  

O fotógrafo David Hamilton, encontrado morto em sua casa em Paris em 25 de novembro de 2016 AFP/dpa/Bernd Weissbrod

David Hamilton vivia há 20 anos em Paris e foi de sua casa que veio um chamado de urgência na sexta-feira (25). Ao chegar, os bombeiros não puderam fazer mais nada. Ele estava com parada cardiorrespiratória, com remédios perto do corpo.

A causa da morte ainda não foi divulgada, mas a hipótese de suicídio não está descartada devido ao escândalo em que o artista estava envolvido. Tudo começou em outubro deste ano, quando uma famosa apresentadora de TV, Flavie Flement, de 42 anos, publicou um livro chamado "La Consolation" (O Consolo, em tradução livre), no qual conta que foi estuprada por um fotógrafo famoso quando tinha apenas 13 anos.

Quando lhe perguntaram por que não nomeou o agressor, ela respondeu que o crime havia prescrito e ele não poderia mais ser julgado. "Mas eu precisava contar isso, precisava desse consolo", ela desabafou. Na França, o crime de estupro de menores prescreve 20 anos a partir da maioridade da suposta vítima.

Depois da publicação do livro, vieram à tona os relatos de outras mulheres, contando que foram violentadas por Hamilton na adolescência, quando posaram para ele. Com a pressão das mídias, Flavie Flement acabou revelando, em uma entrevista: " O homem que me violentou, quando eu tinha 13 anos, é David Hamilton".

O artista rejeitou as acusações e ameaçou processar as mulheres por difamação. "Sou inocente e devo ser considerado como tal, atualmente, não sou objeto de qualquer acusação formal", declarou, em nota enviada na terça-feira (22) à AFP.

Flavie Flament reagiu rapidamente à morte de Hamilton, declarando que ficou arrasada pois ele nunca vai ser julgado pelos crimes que cometeu. "O horror desse anúncio nunca vai conseguir apagar o das noites de insônia", afirmou.

Obra polêmica

As fotografias de Hamilton, com ares impressionistas, sempre despertaram um grande debate sobre os limites da arte e da pornografia infantil. A polêmica alimentou sua popularidade e o levou a vender dois milhões de cópias de seus livros.

Seu o seu trabalho é mal visto nos Estados Unidos e no Reino Unido, na França houve sempre uma grande aceitação de sua obra. No final dos anos 90, os conservadores cristãos chegaram a atacar as livrarias que vendiam suas publicações, consideradas como "pornografia infantil". O fotógrafo sempre disse que na França nunca houve uma reprovação dessa ordem das suas fotos."As feministas sempre me deixaram tranquilo. E meu trabalho não tem nada a ver com a vulgaridade que existe nos dias atuais", afirmou, em entrevista à revista "Gala", em 2015.