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Manifestantes pró-impeachment em Paris se dizem apartidários

Apartidários e decepcionados não apenas com o governo atual, mas com a política brasileira em geral. Esse é o perfil dos manifestantes que se reuniram em Paris neste domingo (10), na Place de la Reine Astrid, próxima à Embaixada do Brasil, para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Manifestante pró-impeachment na  Place de la Reine Astrid, em Paris
Manifestante pró-impeachment na Place de la Reine Astrid, em Paris Augusto Pinheiro/RFI
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Numa bela tarde ensolarada, em um local ao lado do rio Sena com vista para a Torre Eiffel, cerca de 25 pessoas compareceram ao evento, uma mobilização inferior à anterior, que reuniu 60 pessoas. Faixas e cartazes escritos em francês, português e inglês traziam frases como "Quero meu país de volta", "Força, Sergio Moro" e "Por um Brasil livre de corrupção".

Cartazes com frases em francês e português
Cartazes com frases em francês e português Augusto Pinheiro/RFI

Os participantes vestiam as cores brasileiras e alguns empunhavam a bandeira do país. Eles gritavam frases como “Fora Dilma”, “A nossa bandeira jamais será vermelha” e “Quem gosta dela vai pra Venezuela” e cantaram o Hino Nacional (veja vídeo abaixo do texto). Um manifestante chegou a gritar que "até Cuba é bom demais para eles (políticos do PT), tem que mandá-los para a Coreia do Norte", ao que uma jovem agregou "para a p... que pariu".

A RFI entrevistou os presentes para saber as preferências políticas, e a maioria disse que não simpatiza com nenhum partido. Porém vários votaram em Aécio Neves nas últimas eleições - nenhum em Dilma ou em outro candidato. Aqueles que não votaram no tucano anularam o voto ou não foram às urnas por motivos diversos. A maioria trabalha, em profissões tão variadas quanto engenheiro, músico e manicure, e uma única pessoa disse que está estudando na capital francesa.

Folheto informativo em francês traz erro

Luanda Borg e Patrícia Rosado
Luanda Borg e Patrícia Rosado Augusto Pinheiro/RFI

O grupo criou um folheto de quatro páginas, em francês, para explicar a crise política para os locais. "O governo quer passar informações falsas, dizendo que é um golpe. Os franceses nao têm informações suficientes sobre o que está acontecendo, então é isso que a gente quer mostrar", disse a jurista Patrícia Rosado, 29, uma das organizadoras do evento.

Segundo ela, "o governo brasileiro está vindo procurar a imprensa aqui na França para convencer as pessoas de que eles são bons para o povo, mas eles têm a aprovação de apenas 10% da população." Porém importantes jornais franceses, como o "Le Monde", já se posicionaram a favor do impeachment da presidente.

Além disso, o material distribuído pelo grupo traz pelo menos uma informação equivocada ao afirmar que Dilma, "além de crimes de responsabilidade, cometeu crimes comuns". Na realidade, a presidente sequer foi indiciada por esse tipo de crime.

Manifestação com vista para a Torre Eiffel
Manifestação com vista para a Torre Eiffel Augusto Pinheiro/RFI

A assistente de tesouraria Luanda Borg, 34, diz que os franceses estão cada vez mais interessados na crise brasileira porque "os escândalos se tornaram mais frequentes".

"Na nossa primeira manifestação, em março do ano passado, eles não acreditavam que o povo brasileiro estivesse protestando contra a Dilma. Mas, agora, com a intensa cobertura na mídia francesa, já não é mais uma surpresa, e eles querem saber mais", disse, antes de abordar, com os panfletos na mão, dois franceses que olhavam curiosamente par a manifestação.

"Não há partido bom no Brasil"

O fisioterapeuta Bruce Bravard, 27, se diz "apartidário". "Infelizmente no Brasil é muito difícil que haja um partido que não esteja envolvido em um escândalo. Eu acredito que não há um único partido que podemos dizer que é bom, ao qual possamos nos filiar sem ter medo", afirmou. Ele acha que Dilma não tem mais condição de governar. "Ela não tem mais o mínimo de influência, respeito e credibilidade. É insustentável."

O médico Emanuel Santos
O médico Emanuel Santos Augusto Pinheiro/RFI

A analista financeira Hildete Vodopives também diz que não tem partido, mas considera o PSDB como o mais capacitado para governar o Brasil. "Eles têm um programa mais técnico e de longo prazo. Gostei muito do governo Fernando Henrique Cardoso nos anos 1990, que realizou reformas importantes. O problema é que eles são péssimos de marketing e não souberam se vender", explicou a analista, que é doutoranda em história econômica na Sorbonne e votou em Aécio Neves nas últimas eleições presidenciais.

O médico Emanuel Santos acha que as chamadas "pedaladas fiscais" (liberação de créditos suplementares) justificam o impeachment. "A partir do momento que houve um crime tipificado, que é um crime de responsabilidade, não há necessidade de outro elemento para a realizar a destituição."

"Vivemos um caos colossal"

O agente de viagem Mauro Madalena, que mora na França há 40 anos, diz que não poderia nomear o melhor partido para governar o país porque "vivemos um caos colossal". "Mas uma coisa é certa: o PT tem que acabar", sentencia. Sobre Dilma, ele diz que ela "deixou roubar" e que "já demonstrou uma incompetência total para governar o país". "Não vamos deixar ela falir o país. Ela está à beira da loucura, como uma fera acuada, não está fazendo nada, e o Brasil está parado."

O músico Cássio Roberto da Silva, 59, é outro que está decepcionado com a política brasileira em geral, mas especialmente com o PT. "O Brasil foi tomado por uma esquerda, com o Lula, que ludibriou o povo com um sonho de sociedade perfeita, de liberdade e de justiça. É tudo uma grande mentira, como é no comunismo, e a Dilma era uma trotskista guerrilheira."

 

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