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França

O que pensam os franceses que foram à manifestação de apoio a Dilma em Paris

A ideia de que todo o sistema político brasileiro é corrupto e de que a destituição da presidente Dilma Rousseff neste momento seria um ato de mera conveniência para as forças de oposição permeia a visão dos franceses sobre a crise política no Brasil. Ou, pelo menos, dos franceses que participaram de uma manifestação em Paris, nesta sexta-feira (25), de apoio à presidente.

Nova mobilização organizada por brasileiros levou cerca de 70 pessoas à Praça de République.
Nova mobilização organizada por brasileiros levou cerca de 70 pessoas à Praça de République. Gabriel Brust / RFI
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O encontro na Praça de République – tradicional ponto de mobilizações políticas da capital – contou com a presença de cerca de 70 pessoas e foi organizado pelo mesmo grupo de brasileiros que se reuniu, na semana passada, nos arredores do Consulado do Brasil em Paris. Batizado de Movimento Democrático 18 de Março – em alusão à data da primeira manifestação de apoio a Dilma na capital francesa –, o grupo é composto em grande parte por estudantes brasileiros em intercâmbio para mestrado e doutorado, como o próprio organizador, Antônio Gasparetto, 30 anos, doutorando em História de Juiz de Fora (MG).

Na manifestação desta sexta-feira – em meio a canções de Chico Buarque e cartazes com referências a 1964 –, o grupo recebeu a adesão de alguns franceses, na maioria “brasiliófilos”, pessoas que de alguma forma se relacionam com o Brasil e também arranham um português. “A democracia está realmente em perigo no Brasil”, acredita o psicólogo Jean-Pierre Guis, ex-vereador de Paris pelo Partido Socialista. “As classes mais ricas do Brasil utilizam a questão da corrupção, que afeta toda a sociedade e todos os partidos políticos, para derrubar um governo progressista”, afirma Guis que, nas horas vagas, é um fotógrafo apaixonado por retratar o Brasil.

O engenheiro Henri Blot, 57 anos, acha que “a parte patriótica do Brasil deveria se mobilizar pela constitucionalidade”. Ele vê uma tentativa de desestabilizar o país a partir de atos “inconstitucionais”. “A lei de delação premiada favorece mais os corruptos do que os não corruptos. Há uma inversão de valores impressionante”, afirma Blot, em português.

Também engenheiro, Gilles Pansu, 48 anos, estava passeando de bicicleta pela Praça de République quando topou com a manifestação – feliz coincidência, já que fala português e viaja ao Brasil com frequência. “Existe uma tentativa de aproveitar os casos de corrupção para mudar completamente o governo e acabar com as políticas sociais que foram aplicadas no Brasil”, acredita Pansu. “Foi o governo do PT que colocou em prática medidas para lutar contra a corrupção e permitiu ao juiz revelar estes casos. Mas não penso que o governo atual seja o único responsável pela corrupção”, defende o engenheiro, também falando português.

Jean Wyllys

A narrativa pró-governo nos meios de comunicação franceses ganhou um reforço nesta semana com a presença do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ). “O contato que os franceses têm com a realidade brasileira é muito a partir da imprensa francesa, que tem reproduzido muito a brasileira. E a nossa imprensa não tem primado pela honestidade da cobertura, que é tendenciosa e contrária ao governo”, disse Wyllys à RFI.

Na leitura do deputado, “a crise política está sendo insuflada pela oposição de direita derrotada na eleição, que decidiu impedir a presidente Dilma de governar, com apoio de Eduardo Cunha”. O périplo do parlamentar do PSOL incluiu uma entrevista à rádio France Culture, que está entre as de maior audiência da França, e um debate na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris (EHESS), onde pregou o que considera a sua “narrativa” para a situação política brasileira, que passa menos pelo caso de corrupção na Petrobras, e mais pela denúncia de um “golpe frio” no país.

"Um golpe conduzido pelos setores conservadores do Judiciário, pelos meios de comunicação e partidos de oposição", afirma Wyllys, que está na França a convite do Ministério francês das Relações Exteriores francês. Os manifestantes pró-Dilma em Paris prometem voltar às ruas no próximo dia 31 de março, com o objetivo de se antecipar a atos contra a presidente programados no Brasil. No último dia 13, brasileiros que moram em Paris também foram às ruas da capital francesa repudiar o governo e apoiar a operação Lava Jato.

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