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França/Diplomacia/Cultura

Debate sobre desafios do futuro atrai milhares de pessoas em Paris

Na sequência do sucesso da COP 21 de Paris, que conseguiu um acordo histórico sobre o clima, o ministério das Relações Exteriores da França promoveu na noite desta quarta-feira (27) um debate internacional e pluridisciplinar para comprender o presente e imaginar o mundo de amanhã. A "Nuits des Idées" (ou Noite de Ideias) aconteceu no monumental prédio do Quai d'Orsay, sede da diplomacia francesa, que excepcionalmente abriu suas portas para acolher o público e foi um sucesso. Milhares de pessoas participaram do evento, co-patrocinado pela RFI. O chanceler Laurent Fabius ressaltou no discurso de abertura a tradição intelectual francesa na circulação internacional de ideias, o papel da cultura na diplomacia e a importância da iniciativa diante do "mundo conturbado" em que vivemos.

O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, abriu a Nuit des Idées na noite desta quarta-feira, 27 de janeiro de 2016, em Paris.
O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, abriu a Nuit des Idées na noite desta quarta-feira, 27 de janeiro de 2016, em Paris. RFI Brasil
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A Noite de Ideias foi elaborada como um diálogo de culturas. Mais de 40 especialistas, de vários áreas e de 10 nacionalidades, participaram dos debates organizados em torno de temas fundamentais para se pensar o mundo de hoje, como fronteiras, cidadania, diversidade, saúde, recursos naturais, meio ambiente, migrações e espiritualidade. Entre as personalidades convidadas, o ex-ministro da Justiça socialista, responsável pela abolição da pena de morte na França, Robert Badinter, Stephen Breyer, da Corde Suprema dos Estados Unidos. O evento contou ainda com a participação de vinte escritores franceses da nova geração que declamaram durante toda a noite trechos de obras literárias que ajudam a "ler o futuro".

Depois dos horrores vividos na capital em 2015, os parisienses aderiram em massa a essa proposta de reflexão sobre o mundo que está por vir e as maneiras de se evitar que o pior volte a acontecer. Cerca de 15 mil pessoas se inscreveram na internet para participar do evento. Apenas oito mil receberam o convite de confirmação, mas como o prédio histórico do Quai d'Orsay tem capacidade para duas mil pessoas, apenas quem chegou cedo para abertura do evento às 18h (15h em Brasília) pode entrar com facilidade. Os outros esperaram na fila, que dava voltas no quarteirão, para poder assistir aos debates que aconteceram até às 2h da manhã.

Em que mundo viveremos amanhã?

O primeiro debate da Noite de Ideias foi entre o sociológo francês Bruno Latour, e o arquiteto holandês Rem Koolhass, sobre o tema "em que mundo viveremos amanhã?". Para os dois participantes, a questão climática colocou todo o mundo em pé de igualdade. Os moradores do Alaska ou da França enfrentam os mesmos problemas. As palavras que usamos estão ultrapassadas. "Vivíamos na ilusão da modernidade, do progresso, e acordamos no mundo terrestre", salientou Bruno Latour. "O salve-se quem puder é mundial. Não há mais exterior. Voltamos a ser camponeses", diz o sociólogo francês que elogiou o acordo histórico obtido na COP 21 para lutar contra o aquecimento global.

Sylvie Ferrando que chegou cedo à Nuit des Idées para não perder nenhum debate, achou o tema vasto, as ideias interessantes, mas um pouco abstratas. "Não foi fácil, mas abriu bem o evento. Se entendi bem, o mundo agora é interior, não é mais globalizado", resumiu.

Um dos destaques da noite foi o debate sobre fronteiras entre os historiadores Patrick Boucheron, francês, e Achille Mbembe, camaronês. Os dois fizeram uma triste constatação: as fronteiras voltaram e passaram a ser muros intransponíveis ou cemitérios. Patrick Boucheron, que é um dos intelectuais franceses de maior destaque do momento, critica o eurocentrimso e o discurso que defende uma identidade nacional, que se fecha em si mesmo. Achille Mbembe afirma que a modernidade é uma co-produção mundial e que as pessoas tem que aceitar a "ser expostas umas outras". Apesar da Europa continuar a atrair milhares de migrantes, ele diz que visto do África o lugar do futuro está do outro lado do oceano, na China, na Índia e no Brasil.

Olivier Bezerra, que assistiu ao debate, gostou da defesa por menos fronteiras. Ele só lamentou que a maioria dos presentes já está convencida da pertinência dessa abertura. "Quem quer mais fronteiras não participa de um evento como este", acredita Olivier.

Depois de Paris, a Noite de Ideias será realizada este ano em 10 países, mas o Brasil não está na lista.
 

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