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França: Casos de agressão e assédio sexuais a militares mulheres voltam a abalar Forças Armadas

Dez anos depois de um primeiro escândalo de agressões e assédio sexuais cometidos nas Forças Armadas francesas, novos casos indicam que não apenas os abusos perduram na instituição, como as denúncias não resultam em punições à altura e suas autoras correm o risco de demissão. Um novo #MeToo volta a abalar as casernas do país.

Forças Armadas francesas contam com cerca de 15% de mulheres, um dos índices mais elevados do mundo. (foto ilustrativa. 24/03/2020)
Forças Armadas francesas contam com cerca de 15% de mulheres, um dos índices mais elevados do mundo. (foto ilustrativa. 24/03/2020) © Sebastien Bozon/Pool via Reuters/File Photo
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Em fevereiro, a jovem marinheira Manon Dubois veio à público revelar as repetidas agressões sexuais das quais foi vítima durante anos, logo depois de entrar na Marinha, aos 18 anos. Mas o agressor, também militar, foi submetido apenas a uma suspensão por 10 dias, à participação em um curso de sensibilização ao assunto, além de € 600 de multa por danos morais.

A decisão o isentou de um processo na Justiça, sob a influência das Forças Armadas, denuncia a vítima. O agressor continua a fazer parte dos quadros militares franceses.

Depois deste caso, outras militares romperam o silêncio e revelaram abusos e assédios. Uma delas afirma ter ouvido do seu superior que “nesta profissão, é melhor não ser muito bonita”. Só que depois de denunciar este e outros comentários sexistas, ela foi dispensada dos vínculos com as Forças Armadas, enquanto o seu chefe acabou promovido.

Na semana passada, o diretor do organismo criado há 10 anos para prevenir agressões e assédio sexuais, na sequência das primeiras denúncias, reconheceu que entre dois terços e a metade dos casos, a denúncia não resultou em nada porque o órgão não conseguiu “provar a materialidade” da agressão. Thibault de Laforcade negou que o problema seja “sistêmico” na instituição.

Deputada militar propõe plano de ação

A deputada Laetitia Saint-Paul, ela própria oficial do exército, apresentou ao Ministério da Defesa um plano de ação para o combate mais eficaz dos desvios. Em entrevista à RFI, ela disse não duvidar da vontade política do governo para combater o problema e relatou que o ministro Sébastien Lecornu concordou em aumentar a vigilância sobre as violências sexistas na instituição.

"Dez anos depois, temos que identificar melhor o que funciona e o que não funciona”, afirmou a parlamentar do partido Renascença, o mesmo do presidente Emmanuel Macron.

Desde 2014, 700 denúncias foram feitas, mas apenas 59 se transformaram em queixas registradas, com cerca de 50 sanções aplicadas. “O tabu persiste. Quando 41% das mulheres que denunciam são reformadas e perdem, portanto, o seu emprego, o que podemos entender é quando você é vítima, você será dispensada”, ressaltou Saint-Paul.

Presença feminina 

A França é um dos países do mundo que mais contam com mulheres militares, com cerca de 15% dos efetivos. A deputada alega que a presença delas nas Forças Armadas é “fundamental” para o bom funcionamento das instâncias – mas, para isso, “elas precisam se sentir plenamente em segurança e que os agressores sejam expulsos”.

“Elas enfrentam uma dupla pena: tiveram a sua integridade física e mental atingida, viram o agressor ficar em total impunidade e, principalmente, sentem o risco de perderem os seus empregos. Precisamos de uma mudança completa de mentalidade para ouvir esses relatos, porque quanto mais denúncias tivermos, maior será a pressão para que as coisas mudem”, ressaltou.

O primeiro #MeToo das Forças Armadas francesas estourou em 2014, com a publicação do livro La guerre invisible (A Guerra Invisível, em tradução livre), das jornalistas Leïla Minano e Julia Pascual.

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