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"Não cancelem Gérard Depardieu", pede manifesto assinado por Carla Bruni e mulher de Polanski

O jornal francês Le Figaro traz nesta terça-feira (26) um manifesto em defesa do ator Gérard Depardieu, envolvido em novo escândalo após a difusão de uma reportagem na qual ele fez declarações consideradas misóginas e até mesmo pedófilas. O texto, assinado por personalidades do meio artístico, provoca controvérsia, uma vez que Depardieu foi indiciado por estupro e agressões sexuais em 2020.

O ator francês Gérard Depardieu, em foto de arquivo.
O ator francês Gérard Depardieu, em foto de arquivo. © AFP
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"Não cancelem Gérard Depardieu", é o título da carta aberta assinada por 56 personalidades do mundo da cultura, a maioria delas conhecida por ter um posicionamento conservador.

Trinta e dois homens e 24 mulheres assinam o manifesto, entre eles o ator belga Benoît Poelvoorde, a atriz britânica Charlotte Rampling, o cantor Jacques Dutronc, a atriz Carole Bouquet, que foi companheira de Depardieu, a cantora e manequim franco-italiana Carla Bruni, além da atriz Emmanuelle Seigner, esposa de Roman Polanski, diretor acusado e condenado por estupro.

O texto pede que a sociedade não assuma o papel da Justiça e que permita que o ator, classificado como "o último monstro sagrado do cinema", possa ainda atuar na profissão. Segundo os assinantes, quando se visa um artista como Depardieu, "que participa do brilho cultural da França", "é a arte que é atacada".

"A França deve tanto a ele", diz o manifesto, que ainda afirma que o cinema e o teatro não podem viver sem a personalidade "única e extraordinária" do astro. Para os signatários, privar-se de Depardieu seria "um drama", "um fracasso", "a morte da arte". 

"O que quer que aconteça, ninguém poderá jamais apagar a marca indelével de sua obra nesta época", pondera o manifesto. "Todo o resto diz respeito à Justiça e apenas à Justiça. Exclusivamente", conclui a coluna. 

Ator declara inocência

O artista, de 74 anos, foi indiciado na França por estupro e agressão sexual há três anos, em uma investigação que ainda está em andamento. Uma segunda queixa foi apresentada desde então, depois uma terceira, desta vez na Espanha. Paralelamente, outras mulheres relataram publicamente que Depardieu sempre beneficiou de uma certa impunidade pelo lugar que alcançou no cinema francês.

O ator nega categoricamente as acusações. Entrevistado pelo Le Figaro em outubro, ele afirmou que "nunca na vida abusou de uma mulher".

Onda de choque "com repercussões internacionais"

A controvérsia envolvendo Depardieu tem forte repercussão na imprensa local. 

O jornal Le Monde destaca a onda de choque, "com repercussões internacionais", que suscitou a difusão de uma comprometedora reportagem sobre Depardieu no canal France 2, em 7 de dezembro. Além de comentários insultantes às mulheres, "o ator não poupa nem uma menina de afirmações de caráter sexual", recorda o Le Monde.

O jornal Le Parisien lembra que além de membros da família de Depardieu, como a filha Julie, o presidente francês, Emmanuel Macron, veio a público defender o ator. O chefe de Estado chegou a sugerir que teria sido feita uma montagem na reportagem do canal 2 da TV pública para prejudicar a imagem de Depardieu. No entanto, Le Parisien destaca que a France Télévisions, grupo do qual faz parte o canal France 2, submeteu a reportagem a um oficial de Justiça que a autenticou, garantindo sua veracidade. 

"Privilegiam o artista e menosprezam as vítimas"

Desde que o escândalo veio à tona, Depardieu tem sido alvo de inúmeros protestos de organizações feministas.

Em entrevista à rádio France Info, a ativista Raphaëlle Rémy-Leleu, integrante do conselho de vereadores de Paris, diz que os assinantes desse manifesto "negam a realidade dos fatos". Na opinião da representante municipal, o texto defende "a cultura do estupro" e decide "privilegiar o artista, e menosprezar a fala de cada vítima". A feminista lembra que ao menos 20 mulheres relataram comportamentos repreensíveis da parte de Depardieu. 

Com a repercussão do caso, a estátua de cera de Depardieu no célébre Museu Grévin, em Paris, foi retirada da exposição permanente. Títulos que o ator recebeu ao longo da carreira, como a Ordem Nacional do Québec, no Canadá, e de cidadão de honra da cidade de Estaimpuis, na Bélgica, foram revogados.

Na França, Depardieu corre o risco de perder a medalha da Legião de Honra, a mais alta condecoração concedida no país. Neste caso específico, Depardieu ganhou um poderoso aliado, já que o presidente Emmanuel Macron defendeu a manutenção da comenda ao ator.

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