‘Deslizes’ recorrentes na Sciences Po abalam reputação da instituição de elite francesa
A reputada instituição de ensino superior francesa Sciences Po de Paris está, de novo, nas capas dos jornais nesta semana – desta vez, por duas razões ao mesmo tempo. Nesta quarta-feira, o diretor da universidade, formadora da elite intelectual francesa, pediu demissão para responder à Justiça a uma acusação de violência doméstica.
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Na mesma semana, um caso de antissemitismo se transformou em escândalo nacional, com o primeiro-ministro Gabriel Attal exigindo “medidas fortes” para combater o preconceito contra os alunos judeus do estabelecimento.
O tema é a manchete do jornal Le Parisien desta quinta-feira: “Sciences Po: a deriva de uma grande escola”, diz a manchete. O editorial do diário aponta que “antigamente, a Sciences Po era o templo dos espíritos livres e da razão, da crítica, mas também das nuances e da tolerância, e não um lugar de ódio”. "Porém, na terça-feira, assistimos à falência de uma instituição quando, em frente a um anfiteatro, ouvimos esta frase para uma estudante: ‘não a deixem entrar, ela é uma sionista’”, relata o jornal, em meio a um contexto tenso ligado à guerra em Gaza.
O jornal lembra que desde 2021, a instituição de ensino superior está na mira do Ministério da Educação por propagar “militantismo de opinião” sobre questões da sociedade e da geopolítica internacional. Mas ressalta que a instituição francesa está longe de ser a única a transgredir a neutralidade – há poucas semanas, a presidente da americana Harvard foi levada à demissão após afirmar que a “incitação ao genocídio dos judeus” é protegida pela liberdade de expressão.
Sciences Po está 'sem rumo'
O jornal conservador Le Figaro também destaca o assunto na capa: “Antissemitismo, wokismo, crise de governança: Sciences Po sem rumo”. A publicação avalia que o estabelecimento está “preso em uma engrenagem de deslizes e escândalos”.
O jornal ressalta que a demissão do diretor da universidade, Mathias Vicherat, para se defender da acusação de violência doméstica, feita por sua ex-esposa, marca “uma enésima crise” que levou o primeiro-ministro francês a visitar a instituição na quarta-feira.
Attal denunciou “a incitação ao ódio” por estudantes militantes da causa palestina. Ouvidos pelo jornal, alunos judeus testemunharam “um aumento dos comentários antissemitas” desde o começo da guerra em Gaza.
O premiê teve uma reunião com o conselho de administração da Sciences Po, durante a qual lembrou que “as instituições francesas são lugares de estudos e debates (...), onde é intolerável e chocante que alguém seja alvo de qualquer discriminação”. Mais cedo, o próprio presidente Emmanuel Macron havia usado termos semelhantes para se referir ao assunto durante o Conselho de Ministros, pela manhã.
Alunos aliviados após demissão de diretor
Já o diário de linha editorial progressista Libération prefere dar destaque à saída de Vicherat, diretor que havia assumido o posto em novembro de 2021 com a bandeira de combate às violências sexuais e sexistas na instituição. Ele sucedeu a Frédéric Mion no cargo – que havia pedido demissão em fevereiro do mesmo ano após acusações de encobrir o respeitado cientista político Olivier Duhamel, suspeito de agressão sexual de um menor de idade.
“Entre os estudantes, o anúncio [da demissão de Vicherat] foi uma surpresa, mas recebida com alívio. Uma decisão lógica”, conta o Libération, “porque não se pode promover uma agenda de combate às violências quando se é acusado de uma e se responde na justiça por isso”, disse um universitário.
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