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Protestos de agricultores na França: o que querem os "coletes verdes"?

O primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, recebe nesta segunda-feira (22), no final da tarde, lideranças sindicais dos agricultores que bloqueiam desde quinta-feira uma estrada entre Toulouse e Bayonne, na região sudoeste do país.  A França é o quinto país afetado por protestos de produtores na União Europeia, depois da Holanda, Alemanha, Polônia e Romênia. Já se fala no movimento dos "coletes verdes", a cor das plantações, do uniforme de trabalho dos agricultores e de seus tratores.

Um trator com a faixa "Estamos na palha", expressão francesa que significa estar financeiramente arruinado, despeja lixo e estrume na fachada um edifício administrativo do governo no centro de Toulouse. 16 de janeiro de 2024
Um trator com a faixa "Estamos na palha", expressão francesa que significa estar financeiramente arruinado, despeja lixo e estrume na fachada um edifício administrativo do governo no centro de Toulouse. 16 de janeiro de 2024 AFP - ED JONES
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Os agricultores franceses estão mobilizados contra o que chamam de "overdose" de regulamentações impostas pelo Acordo Verde da União Europeia. As medidas de adaptação a uma agricultura mais respeitosa do meio ambiente e resiliente exigem investimentos no modo de produção, em um momento em que os subsídios financiados pela Política Agrícola Comum [PAC) diminuíram e provocam queda na remuneração dos produtores.

Com a proibição cada vez mais frequente de agrotóxicos e exigências de qualidade dos produtos, a rentabilidade das plantações e da atividade pecuária também recua. A imprensa francesa observa uma revolta crescente entre os agricultores europeus. Na França, novas ações estão programadas para os próximos dias em todo o país.  

"Encurralados pelas normas"

Segundo o jornal Le Figaro, os 496 mil agricultores franceses se sentem "encurralados" pelas "normas verdes". As regras são editadas pelo Executivo europeu, que administra o orçamento da PAC e sua distribuição entre os 27 países do bloco.

No entanto, quando essas diretrizes são transpostas para a legislação francesa, afirma o Le Figaro. De acordo com o diário, os legisladores franceses endurecem ainda mais as medidas, o que seifa a competitividade das 390 mil fazendas francesas. O país, que já ocupou o segundo lugar no ranking mundial de nações agrícolas, caiu para a quinta posição entre 2007 e 2021.

Aumento dos suicídios

O jornal Libération faz a mesma constatação. "A angústia dos agricultores franceses está documentada desde o início da década de 1970. Em duas décadas, entre 1952 e 1972, o número de nascimentos em famílias de agricultores caiu 58%, contrariando a tendência nacional", aponta o veículo.

Desde o início da pesquisa feita pelo Observatório Nacional do Suicídio, há mais de dez anos, a taxa de suicídio no setor agrícola é muito superior à observada em outras profissões.

"São mais de 150 vítimas por ano entre os agricultores", sublinha o Libération. "A estes sinais de alarme estruturais somou-se, nos últimos meses, a pressão das grandes redes varejistas, a redução da ajuda europeia e agora os novos padrões ecológicos do Acordo Verde da União Europeia, para os quais os governos estão mal preparados", escreve o jornal progressista. 

Promessas não cumpridas

O programa do então candidato à presidência Emmanuel Macron, em 2017, propunha aos agricultores “fortalecer o seu poder de negociação”, fundar um “sistema de pagamento por serviços ambientais” no valor de € 200.000 por ano e “rever todas as normas desnecessárias”. Entretanto, sete anos depois dessas promessas, os agricultores franceses estão diante de vacas magras, destaca o Libération.

Pressão por reconhecimento

No início da tarde, antes da reunião com o primeiro-ministro, tratores bloqueavam as estradas A64, que liga Toulouse a Bayonne, e A9, que faz a ligação entre França e Espanha. O presidente da principal federação do setor – FNSEA –, Arnaud Rousseau, que será recebido pelo primeiro-ministro, explicou ao jornal regional Midi-Libre as principais reivindicações dos agricultores: maior reconhecimento da profissão por parte das autoridades, condições dignas de trabalho, garantias de rendimento e competitividade dos produtores.

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