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Ex-primeira ministra francesa engoliu "muitos sapos" e foi leal a Macron, destaca a imprensa

A nomeação de Gabriel Attal, 34 anos, para o cargo de primeiro-ministro da França demorou algumas horas, após a renúncia de Élisabeth Borne na segunda-feira (8). Com isso, a imprensa local teve tempo de fazer um balanço detalhado sobre a passagem de Borne pelo palácio de Matignon, onde fica a sede do governo, na capital francesa. 

Os jornais franceses dedicam suas manchetes à demissão da primeira-ministra Élisabeth Borne e ao início de uma nova fase na presidência de Emmanuel Macron.
Os jornais franceses dedicam suas manchetes à demissão da primeira-ministra Élisabeth Borne e ao início de uma nova fase na presidência de Emmanuel Macron. AFP - ALAIN JOCARD,LUDOVIC MARIN
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O jornal Libération, conhecido por suas manchetes bem boladas, estampou em sua capa "Borne Out", trocadilho com a expressão "burn out", em inglês. Segundo o diário progressista, Borne foi leal ao presidente Emmanuel Macron e engoliu "muitos sapos", devido à falta de maioria do partido governista no Parlamento.  

A engenheira de 62 anos, de perfil tecnocrata, passou menos de dois anos no cargo. Borne foi a segunda mulher na chefia de governo, depois de Édith Cresson, na década de 1990, e nunca conseguiu ampliar a base de apoio aos projetos do presidente da República na Assembleia Nacional, observa o Libération. Essa falta de maioria parlamentar fez com que ela adotasse uma série de reformas impopulares, como a da Previdência e leis orçamentárias que reduziram direitos dos franceses, sempre com base no artigo 49-3 da Constituição, que dispensa votação no plenário.

Em quase 20 meses, Borne adotou 23 leis por meio desse dispositivo considerado antidemocrático e foi objeto de 23 moções de censura da oposição, que fracassaram nas tentativas de derrubar o governo. Em seu editorial, o Libération sublinha que fazia algum tempo que todos sabiam que as relações entre a chefe de governo e Macron eram "execráveis". 

Na avaliação do Le Monde, a queda de popularidade do presidente e da primeira-ministra – em torno de 27% de opiniões favoráveis ​​(-1 ponto) para Macron e 23% para Borne (-3 pontos) –, de acordo com uma recente sondagem Elabe, indica que o presidente não tinha escolha a não ser nomear um novo governo, "para evitar que seja amplamente deixado para trás pela extrema direita nas eleições europeias", em junho. "Um governo mais rigoroso, menos técnico e mais político pode certamente contribuir para isso, mas não apagará o desgaste do tempo nem a desilusão com Macron", escreve o Le Monde. "A operação de sobrevivência é um desafio", aponta o veículo.

Le Parisien e a imprensa em geral dizem que a primeira-ministra foi leal a Macron e conseguiu costurar um acordo que permitiu aprovar o polêmico projeto de lei sobre imigração, desta vez com votação no plenário. "Mas o sistema político francês é feito de contradições e quando um presidente enfrenta dificuldades para governar, ele tem poucas alternativas constitucionais a não ser mudar o chefe de governo", explica o Le Parisien.

 

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Substituída pelo político mais popular do país

Em termos de imagem e dinamismo, Gabriel Attal é o oposto de Élisabeth Borne. Uma pesquisa do instituto Ipsos mostrou, em dezembro, que Attal é o político mais popular do país, com 40% de aprovação. Ele começou na política como militante do Partido Socialista, mas agrada ao eleitorado de direita e foi escolhido principalmente para enfrentar a popularidade crescente do nacionalista Jordan Bardella, 28 anos, presidente do partido de extrema direita fundado por Marine Le Pen. 

A poucos meses das eleições para o Parlamento Europeu, em junho, Macron escolhe, então, um político dinâmico, de perfil carismático, considerado competente pela opinião pública, para derrotar a lista eleitoral da extrema direita. O líder francês tirou a última carta que tinha na manga para evitar uma derrota histórica de seu partido, Renascença, nas eleições europeias. 

Gabriel Attal entrou no governo logo no primeiro ano da presidência de Macron, em 2017. Ele foi secretário de Estado, porta-voz do governo, duas vezes ministro e agora assume um gabinete com a finalidade de enfrentar este ano eleitoral crucial na Europa, assim como os Jogos Olímpicos de Paris. Em sua carta de demissão, Borne deixou claro que renunciou a pedido do presidente da República. Sai uma tecnocrata sem carisma, considerada sisuda, mas exemplar do ponto de vista da fidelidade aos projetos de Macron. Entra um premiê que pode fazer sombra ao líder centrista, o que ele mais detesta.

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