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Sem apoio do governo, desafio de janeiro sem álcool tem 5ª edição na França e ganha adeptos

Apesar da falta de apoio do governo da França, influenciado pelo lobby do setor do vinho, o Dry January (janeiro a seco) ou Défi de janvier (desafio de janeiro), o movimento que preconiza um mês de janeiro sem bebidas alcoólicas, ganha cada ano mais força no país.

O presidente francês Emmanuel Macron bebe com produtores de vinho em Bordeaux, em agosto de 2019.
O presidente francês Emmanuel Macron bebe com produtores de vinho em Bordeaux, em agosto de 2019. POOL/AFP/File
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O desafio de deixar de beber durante um mês qualquer tipo de bebida com álcool foi lançado em 2013, no Reino Unido. Na França, a campanha é promovida por um grupo de associações desde 2020 e apoiada por médicos. Os especialistas defendem que um mês por ano sem álcool permite questionar seu próprio consumo e medir os benefícios da abstinência para a saúde.  

É a oportunidade de “experimentar a vida sem este produto e medir até que ponto ele é ou não essencial para nós”, afirma Michel Lejoyeux, professor de psiquiatria e adictologia na Universidade Paris Cité.

“Poderemos testar se uma noite com os amigos sem álcool é um desafio, se chegar em casa uma noite exausto e não servir uma bebida é complicado”, ilustra.

Outro interesse, segundo ele, é de “desnormalizar” o álcool, “em uma cultura que nos leva a considerar como doente quem não bebe”.

Vida sem álcool

"Viver sem álcool é maravilhoso! Se eu soubesse!", diz Laurence Van Accoleien, de 48 anos, que enfrentou o desafio com dificuldades, no início. “No primeiro ano aguentei oito dias, no outro três semanas seguintes e no ano seguinte durante todo o mês de janeiro”, lembra ela.

Van Accoleyan conta que estava “bem consciente de que bebia mais do que a média”, e que este mês sem álcool permitiu medir seu “grau de dependência” e “testar estratégias aos poucos” para resistir à tentação. “No meu caso deu certo”, afirma.

O mais difícil foi, sem dúvida, é “enfrentar a pressão social”. “No começo eu menti, fingi que estava doente”, diz ela.

Os benefícios têm sido tão significativos que Laurence afirma não ter mais vontade de beber. “As pessoas que testarem o Dry January vão perceber rapidamente que dormimos melhor, que a pele fica mais luminosa, que fazemos melhores escolhas, ficamos em forma”, diz.

As observações de Laurence são confirmadas por especialistas. Segundo os médicos, um período de abstinência, mesmo limitado no tempo, é benéfico para a saúde.

“Nas pessoas que bebem muito, em 4 a 6 semanas, o fígado pode retornar praticamente à sua função normal”, indica Henri-Jean Aubin, professor de psiquiatria e adicção na Universidade de Paris-Saclay, que trabalha no Hospital público Paul Brousse, em Villejuif, próximo de Paris.

“Um bebedor pesado, que experimenta não beber uma vez, se encontrará em uma situação muito mais favorável para parar novamente mais tarde, se tiver vontade”, garante.

Sem apoio do governo

Para sua quinta edição na França, a campanha é apoiada por diversas associações, mas não conta com o suporte oficial do Estado.

No começo, o Desafio de janeiro deveria ser organizado pela Agência de Saúde Pública francesa, que depende do Ministério da Saúde. Mas o projeto foi abandonado sob pressão do lobby do álcool, muito forte no país que é um dos principais produtores de vinho do mundo.

A campanha foi assumida então, sem o apoio do Estado francês, por um coletivo de associações, entre elas, a Liga contra o câncer e a Federação Francesa de Adictologia. Elas insistem que o álcool é causador de diversas doenças como câncer e doenças cardiovasculares e de 41.000 mortes todo ano na França.

Em 11 de dezembro, 48 médicos especialistas em dependência química pediram ao governo francês que apoiassem o Dry January em uma carta publicada no jornal Le Parisien.

“A confiança no governo para prosseguir uma política coerente e resoluta está seriamente prejudicada”, lamentaram os especialistas na carta.

O Presidente Emmanuel Macron é regularmente acusado de complacência com a indústria vinícola, que não vê o mês sem álcool com bons olhos. Os profissionais do setor que atravessa uma crise devido, em grande parte, à diminuição do consumo na França, pediram ao governo para não apoiar a campanha.

De acordo com a Agência de Saúde Pública da França, mais de um em cada cinco adultos franceses (22%) excede os limites recomendados de consumo de álcool (máximo de dez bebidas por semana e duas bebidas por dia, e dias durante a semana sem consumo).

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