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França: 70% dos pais "não veem problema" em adolescentes experimentarem bebidas alcoólicas, diz pesquisa

Às vésperas das festas de fim de ano, quando vinho e champanhe estarão na mesa de muitas famílias francesas, uma pesquisa publicada nesta segunda-feira (18) revela que a maioria dos pais na França deixa ou deixaria os filhos menores de idade provar bebidas alcoólicas. Um comportamento perigoso, alertam especialistas. 

Segundo a pesquisa, 70% das pessoas entrevistadas acham normal deixar os filhos adolescentes experimentarem bebidas alcoólicas antes dos 18 anos.
Segundo a pesquisa, 70% das pessoas entrevistadas acham normal deixar os filhos adolescentes experimentarem bebidas alcoólicas antes dos 18 anos. /Pixabay
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De acordo com uma análise realizada pela empresa de pesquisas OpinionWay e encomendada pela associação francesa Liga contra o Câncer, 70% das pessoas entrevistadas acham normal deixar os filhos adolescentes experimentarem bebidas alcoólicas antes dos 18 anos. Ainda segundo o estudo, 30% dos pais também deixariam adolescentes de menos de 15 anos provarem.

Ao encomendar a pesquisa, a Liga Contra o Câncer esperava resultados que confirmassem a banalização do álcool entre os jovens, mas não em tais proporções. 

O doutor Emmanuel Ricard, porta-voz da associação, adverte sobre os estragos do álcool nas gerações mais jovens.

“Quanto mais cedo começamos, mais o cérebro cria o hábito, um apetite, uma vontade de usá-lo", diz. "Quando você começa cedo, os órgãos não estão totalmente formados, eles estão sendo construídos e, portanto, os efeitos do álcool são ampliados", alerta, em entrevista à rádio France Inter. 

A pesquisa é publicada 15 dias antes do início do "dry january" (janeiro a seco), que consiste na interrupção do consumo de bebidas alcoólicas durante todo o mês de janeiro. 

A quinta edição, que acontecerá em 2024, não conta com o apoio do Ministério da Saúde francês. Questionado no sábado (16) pela France Inter, o ministro da Agricultura, Marc Fesneau, se mostrou pouco convencido pelo desafio. Ele defendeu a “moderação em vez da proibição”.

Posição ambígua 

A posição do ministro não surpreende. O próprio presidente Emmanuel Macron tem uma atitude despreocupada sobre o consumo de álcool. Em junho, ele foi filmado esvaziando uma garrafa de cerveja de uma só vez com os jogadores, no vestiário, após a final do campeonato francês de rugby.

"Nosso país sempre teve uma posição ambígua em relação ao álcool. Existe contradição entre as mensagens de prevenção e as mensagens enviadas pelas autoridades públicas, muitas vezes de maneira muito moderada", resume Daniel Nizri, o presidente da Liga Contra o Câncer, para a France Info.

O governo francês é acusado de ceder ao poderoso lobby do setor vinícola. Duas campanhas de prevenção chegaram a ser enterraras pelo Ministério da Saúde este ano. Uma delas, antes de ser cancelada, foi acusada de fazer apologia ao consumo de bebidas alcoólicas. 

O governo não faz o suficiente para lutar contra este problema de saúde pública, acredita Emmanuel Ricard. “O álcool é a segunda principal causa de câncer no país, está entre as principais causas de câncer e hospitalizações na França. É a principal causa de idas ao pronto-socorro, em um momento em que se diz que os prontos-socorros estão congestionados e que os pacientes já não têm acesso a eles. Precisamos acordar!", alerta.

Para ilustrar suas observações, a Liga contra o Câncer se baseia em alguns números: o álcool é responsável por 28.000 novos casos de câncer todos os anos na França. Em 2021, 22% dos franceses ultrapassaram os limites de consumo recomendados e 86% dos jovens afirmam ter consumido álcool antes dos 17 anos.

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