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França: professores fazem greve por se sentirem 'ameaçados' após colega mostrar quadro com mulheres nuas em aula

Os professores de um colégio francês deixaram de dar aulas na segunda-feira (11), por se sentirem “ameaçados”, depois que uma professora mostrou um quadro do século 17 com mulheres nuas na sala de aula. Alguns alunos disseram que a imagem feria suas convicções religiosas e acusaram a professora de racismo e islamofobia. O ministro da Educação francês Gabriel Attal anunciou que um processo disciplinar seria aberto contra os alunos que causaram a situação.  ​

Pessoas passam diante de flores em homenagem ao professor francês Samuel Paty em uma escola secundária em Lyon, em 16 de outubro de 2023. O professor de história e geografia foi decapitado em 2020 depois de mostrar aos alunos caricaturas de Maomé como parte de uma aula sobre liberdade de expressão.
Pessoas passam diante de flores em homenagem ao professor francês Samuel Paty em uma escola secundária em Lyon, em 16 de outubro de 2023. O professor de história e geografia foi decapitado em 2020 depois de mostrar aos alunos caricaturas de Maomé como parte de uma aula sobre liberdade de expressão. © AFP / JEFF PACHOUD
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O incidente ocorreu em 7 de dezembro, quando uma professora de francês do colégio Jacques-Cartier, no município de Issou (60 km a noroeste de Paris), mostrou o quadro “Diana e Acteon”, de Giuseppe Cesari, a alunos de uma turma do sexto ano. A obra estava relacionada a textos estudados no programa do ano letivo.

“Os alunos desviaram o olhar, sentiram-se ofendidos, disseram que ficaram chocados”, relatou Sophie Vénétitay, secretária-geral do Snes-FSU, principal sindicato de professores do ensino fundamental e médio.

Alguns estudantes acusaram a professora de ter agido intencionalmente para deixá-los desconfortáveis e de fazer comentários racistas.

 “Alguns (alunos) também alegaram que o professor teria feito comentários racistas” durante um momento de debates entre os alunos e o professor, acrescentou. Mas estas acusações foram retiradas posteriormente e os estudantes à origem da denúncia se desculparam.  

Ainda assim, alguns pais se sentiram ofendidos. O pai de uma estudante enviou um e-mail ao responsável do estabelecimento, alegando que sua filha tinha sido impedida de falar e que iria apresentar queixa, relatou Vénétitay.

Desde então, os professores temem uma nova tragédia como a vivida por Samuel Paty, professor assassinado por um terrorista, após mostrar caricaturas do profeta Maomé em sala de aula em uma escola da mesma região.

“Sabemos muito bem que este tipo de métodos pode levar a uma tragédia. Os nossos colegas sentem-se ameaçados, em perigo. Os professores estão fazendo seu trabalho, devem ser respeitados por isso”, diz Sophie Vénétitay.

De acordo com o canal de tevê BFM, pelo menos quatorze atos desse tipo (ataques à laicidade, às pessoas, à segurança ou à propriedade, e de racismo) foram registrados na escola desde o início do ano letivo, em setembro passado, contra três durante todo o ano de 2022.

Este incidente é "a gota-d'água" em uma escola onde faltam recursos para a equipe educacional, lamentaram professores e autoridades locais, na segunda-feira.

“O desconforto perceptível, o aumento dos incidentes e dos casos de violência caracterizam agora o quotidiano do nosso estabelecimento”, detalha um e-mail enviado sexta-feira (8) pela equipe educativa aos pais dos alunos, que não menciona o incidente relativo à obra de arte.

"Processo disciplinar"

Na noite de segunda-feira, o ministro da Educação Gabriel Attal anunciou à imprensa “um processo disciplinar contra os estudantes responsáveis ​​por esta situação e que também admitiram os fatos”. Ele indicou ainda que seriam criados cargos para “reforço das equipes pedagógicas”, inclusive de acompanhamento de alunos com deficiência.

Além desses anúncios, um grupo de professores que ensina os “valores da República” será destacado no Colégio Jacques-Cartier.

Os sindicatos de professores vêm denunciando as dificuldades encontradas pelo corpo docente da escola. A secretária-geral do Snes-FSU lamentou na sexta-feira um “clima muito degradado” no colégio de Issou e lamentou a falta de apoio dos órgãos responsáveis pela escola, apesar de “múltiplos alertas”.

Um diagnóstico compartilhado segunda-feira pelo prefeito de Issou, Lionel Giraud (esquerda). “A greve diz respeito à acumulação de fatos, incluindo este, que nada mais é que um acontecimento entre outros”, insistiu.

Na França, o trabalhador pode interromper o trabalho em caso de perigo iminente para sua vida ou saúde.

“Compreendemos a forte reação dos professores deste colégio, após os assassinatos de Samuel Paty (que aconteceu na mesma região) ou mesmo de Dominique Bernard”, comentou à AFP Laurent Zameczkowski, porta-voz da Federação de Pais de Alunos.

“No caso de Issou, trata-se de um estabelecimento onde faltam administradores e assistentes educativos”, acrescentou, julgando que esta situação “aumentou as tensões nas relações”.

“Os professores estão sofrendo, estão sobrecarregados”, testemunhou Mélissa, 38 anos, cujos dois filhos frequentam a escola, que prefere permanecer anônima. “Alguns professores têm que separar os alunos (quando eles brigam) nos corredores porque faltam funcionários”, descreveu ela.

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