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Mulheres e crianças são as mais afetadas por aumento da pobreza na França, diz relatório

Em 2021, 9,1 milhões de pessoas estavam em situação de pobreza na França, ou seja, tinham um rendimento mensal inferior ao limiar da pobreza, fixado em 60% do rendimento médio francês ou 1.158 euros (R$ 6.100) para uma pessoa sozinha, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos francês (INSEE). As mulheres e as crianças são as primeiras vítimas da precariedade no país, alertam associações.  

Pessoa coloca produto em um saco do Banco Alimentar durante uma coleta nacional para ajudar pessoas carentes em um supermercado em Lormont, no sudoeste da França, em 25 de novembro de 2022.
Pessoa coloca produto em um saco do Banco Alimentar durante uma coleta nacional para ajudar pessoas carentes em um supermercado em Lormont, no sudoeste da França, em 25 de novembro de 2022. AFP - MEHDI FEDOUACH
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A taxa de pobreza na França se situou em 14,5% da população em 2021, um aumento de 0,9 pontos percentuais se comparado ao ano anterior devido, principalmente, ao aumento da inflação, indicou o Insee esta terça-feira (14).

A taxa de pobreza aumentou porque as famílias mais pobres foram penalizadas pela “não renovação da ajuda solidária excepcional”, implementada pelo governo no auge da crise da Covid-19 em 2020, e também pelo aumento da inflação, de acordo com o documento.

“Muitos subsídios são indexados à inflação, mas há um período durante o qual há inflação, mas não há reajuste, e as famílias de baixos rendimentos são penalizadas”, disse Jean-Luc Tavernier, diretor-geral do INSEE.

A pobreza também se intensificou, passando de 18,7% em 2020 para 20,2% em 2021. Este indicador mede a diferença entre o padrão de vida médio da população pobre e o limiar da pobreza. No que diz respeito às desigualdades, não há “explosão”, segundo ele, mas alguns índices, que estão subindo de maneira acentuada, estão “nos níveis mais elevados alcançados nos últimos 20 anos”.

“Vários fatores influenciam. O desenvolvimento de famílias com apenas um genitor, principalmente de mães sozinhas com crianças, é um fator muito importante”, diz à RFI Louis Maurin, diretor do Observatório francês das Desigualdades. “Essas mães vivem em condições extremamente difíceis”, completa.

“Também existe a retomada da imigração com pessoas que ganham pouco. E como recusamos a elas o direito de trabalhar, mesmo se estão na França há anos, têm grande dificuldade de sair da pobreza”, diz.

“Temos um desemprego que diminui, mas uma pobreza que não diminui porque temos cada vez mais empregos precários”, explica Maurin destacando este paradoxo francês.

Programas específicos para ajudar mulheres

Mães solo, empregadas mal remuneradas, aposentadas e em situação de isolamento, as mulheres e as crianças são as primeiras vítimas da pobreza, alertam as associações. A Ong Secours Catholique acolheu um milhão de pessoas em 2022 na França, incluindo 25,7% de mães solteiras, 20,9% de mulheres solteiras e 20% de casais com filhos, segundo um relatório publicado nesta terça-feira.

“As mães expressam fortemente seu dever de sacrifício, dizem que mesmo que não comam, devem encontrar algo para seus filhos”, descreve à Adélaïde Bertrand, delegada geral do Secours Catholique.

A mesma observação foi feita pela organização Restos du Coeur, de ajuda alimentar. As famílias com apenas um genitor, principalmente mães com filhos, representavam um quarto das pessoas acolhidas em 2022, um aumento de 21%. A associação criou um programa específico para apoiar estas mães, muitas com filhos de menos de três anos de idade. Ela também recebeu 110 mil crianças dessa faixa etária no ano passado, número que deverá aumentar quase 15% este ano.

Aumento da precariedade feminina

Há vários meses que as associações que lutam contra a pobreza alertam para um aumento acentuado dos pedidos de ajuda, como os Restos du Coeur, obrigados a reduzir o número de pessoas acolhidas. O motivo é a fragilização de um público “no limite” ou já precário, duramente atingido pela inflação. Muitas mulheres batem à porta de uma associação após uma separação ou divórcio porque, de acordo com o Insee, “sentem mais o peso das rupturas conjugais”.

A separação representa um risco de “choque financeiro” para as mulheres, que pode levar a um “rebaixamento residencial”, também sublinhado num relatório publicado no início do ano pela fundação Abbé Pierre.

A precariedade das mulheres aumentou de maneira constante nas últimas décadas, enquanto a pobreza afetava igualmente homens e mulheres até ao início da década de 2000, de acordo com a Secours Catholique. As mulheres representam agora 57,5% das pessoas atendidas pela associação, em comparação com 52,6% em 1999.

As trabalhadoras ganharam em média 24% menos que os homens no setor privado em 2021, todos cargos e horas de trabalho combinados, de acordo com o INSEE.

Maurin lembra que a França é um país com um bom modelo social. “Se pegamos o modelo de família com apenas um genitor, temos uma taxa de pobreza de 40% antes das ajudas e 20% depois. Fazemos muito”, afirma. “Mas evidentemente não é suficiente, sobretudo porque existe uma grande contradição no discurso de luta contra a pobreza de um lado e a desregulamentação do mercado de trabalho que alimenta a pobreza. Acho que são estas contradições que deveriam ser resolvidas”, analisa.

(RFI e AFP)

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