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França: tumultos diminuem seis dias após a morte de Nahel, mas tensão social permanece

Cerca de 157 pessoas foram detidas na noite de domingo (2) para segunda-feira (3) na França em confrontos com a polícia, seis dias após a morte de Nahel, 17 anos, que gerou uma onda de protestos no país. O adolescente foi assassinado com um tiro à queima-roupa por um policial na terça-feira (27), durante uma blitz em Nanterre, nos arredores de Paris.  

Tumultos continuam seis dias após a morte de Nahel.
Tumultos continuam seis dias após a morte de Nahel. REUTERS - NACHO DOCE
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Os tumultos da última noite deixaram três policiais feridos. Segundo as autoridades francesas, foram registrados 352 incêndios nas ruas e 297 veículos foram queimados em todo o país. Um quartel da polícia militar e uma guarita também foram visados pelos manifestantes.

Segundo o Ministério do Interior, um bombeiro de 24 anos morreu na noite de domingo em um incêndio ocorrido no estacionamento subterrâneo de um conjunto de prédios, mas as autoridades ainda não sabem se o incidente está relacionado aos protestos.

O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, publicou uma mensagem no Twitter explicando que o bombeiro foi atendido rapidamente, mas não resistiu aos ferimentos. Segundo ele, um inquérito foi aberto para apurar o caso.

A noite de domingo para segunda-feira foi relativamente calma se comparada às anteriores, mas o fim de semana foi marcado por saques e ataques a prédios públicos, como prefeituras, escolas e delegacias. 

Terceiro passageiro de carro de Nahel é ouvido

Os investigadores ouviram nesta segunda-feira (3) o terceiro passageiro que estava no carro quando Nahel foi baleado. O policial de 38 anos que deu o tiro foi indicado por homicídio doloso na semana passada.

O jovem já havia falado sobre o caso em um vídeo postado sexta-feira nas redes sociais. Segundo ele, a Mercedes onde os três jovens estavam era um carro emprestado. Ele conta que perceberam que estavam sendo perseguidos pelos dois policiais de moto e afirma que pararam o veículo como eles pediram, contrariamente ao que foi divulgado.

Um dos policiais pediu então que Nahel abaixasse o vidro, dizendo para ele desligar o carro, senão iria atirar.  Segundo a testemunha, o agente deu três coronhadas em Nahel. Na terceira, o adolescente acabou tirando, sem querer, o pé do freio do carro, que era automático, o que fez com que o veículo avançasse.

Ataque a casa de prefeito gera revolta

Na madrugada de sábado (1), por volta da 1h30, um carro avançou no portão na casa de Vincent Jeanbrun, prefeito de L'Haÿ-les-Roses, no subúrbio de Paris. Em seguida, os autores do ataque atearam fogo no veículo e no carro do prefeito, que não estava no local. 

Sua mulher, Mélanie Nowak, e um de seus dois filhos pequenos, com idades entre 5 e 7 anos, ficaram feridos, após serem perseguidos no jardim. A Justiça abriu um inquérito por tentativa de homicídio. Mélanie foi hospitalizada após quebrar a perna na fuga.

Jeanbrun, que estava de plantão na prefeitura da cidade, denunciou "uma tentativa de assassinato", em uma mensagem publicada no Twitter e disse que a família estava "em estado de choque."

O caso gerou indignação no país e a premiê francesa, Elisabeth Borne, declarou que o governo "não vai deixar passar nenhuma violência". Ela prometeu "firmeza" na aplicação das sanções.

O presidente francês, Emmanuel Macron, fala sobre o caso Nahel após reunião com ministros, na sexta-feira (30)
O presidente francês, Emmanuel Macron, fala sobre o caso Nahel após reunião com ministros, na sexta-feira (30) AP - Yves Herman

Macron cancela viagem

O presidente francês, Emmanuel Macron, cancelou uma viagem à Alemanha e deve receber nesta segunda-feira (3) os presidentes da Assembleia Nacional, Yaël Braun-Pivet, e do Senado, Gérard Larcher. O chefe de Estado francês também deve receber os prefeitos de mais de 220 cidades que foram alvos de violência nos tumultos dos últimos dias.

O presidente da Associação dos Prefeitos da França, David Lisnard, pediu aos habitantes que se reúnam em frente às prefeituras de diversas cidades, nesta segunda-feira, para pedir o fim dos tumultos e o "retorno da tranquilidade". 

Presidente da Assembleia pede discurso "equilibrado"

A presidente da Assembleia Nacional, Yaël Braun-Pivet, pediu "ponderação" na análise da onda de tumultos que atinge a França. Ela negou a acusação de que as políticas públicas nas cidades "estão abandonadas" desde 2017.

"Não devemos confundir a revolta, que pode ser legítima depois desse drama, com os abusos que não têm nenhuma relação com eles", disse a parlamentar francesa nesta segunda-feira (3) em entrevista ao canal France 2. Ela lamentou "a confusão" em torno do assunto.

"Nesses bairros, a maioria das pessoas respeita as regras e a autoridade, mas há delinquentes que "atrapalham a vida da população", completou. "Atualmente, precisamos de um discurso equilibrado e de uma análise mais profunda da questão", insistiu. "Devemos, coletivamente, entender de fato o que está acontecendo", acrescentou.  

Braun Pivet, deputada do partido Renaissance, do presidente, e o líder do Senado, Gérard Larcher, devem ser recebidos por Emmanuel Macron, nesta segunda-feira. 

"Esperança para nossas crianças"

"O mais importante é dar esperança para nossas crianças para que eles possam acreditar no futuro delas. Eu tenho medo de que mais um jovem morra", disse Fatima Ouassak, cientista política, co-fundadora da "Frente das Mães", um coletivo de pais de alunos de bairros populares.

A avó de Nahel pediu neste domingo que os manifestantes parem de "quebrar vitrines, escolas e ônibus", em entrevista ao canal BFMTV.

(Com informações da AFP)

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