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"Sofro pela minha França": Mbappé, rappers e periferia lamentam morte de jovem pela polícia

"Sofro pela minha França": é assim, utilizando uma clássica expressão francesa [atribuída a De Gaulle, na época da guerra da Argélia] - J'ai mal à ma France, que o astro da seleção francesa, Kylian Mbappé, se manifestou no Twitter nesta quarta-feira (28) sobre a morte de Nahel M., de 17 anos, com um tiro no peito, após o adolescente se recusar a parar em uma fiscalização policial. Artistas, personalidades e jogadores também se manifestaram deplorando a violência policial.


Um veículo é queimado, destruído por manifestantes em Nanterre, a oeste de Paris, em 27 de junho de 2023, depois que a polícia francesa matou um adolescente que se recusou a parar para uma fiscalização de trânsito na cidade.
Um veículo é queimado, destruído por manifestantes em Nanterre, a oeste de Paris, em 27 de junho de 2023, depois que a polícia francesa matou um adolescente que se recusou a parar para uma fiscalização de trânsito na cidade. © Zakaria Abdelkafi / Reuters
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Um vídeo que circula nas redes sociais, autenticado pela agência AFP, mostra um dos dois policiais segurando o jovem motorista sob a mira de uma arma, antes de disparar à queima-roupa quando o carro voltou a funcionar. O veículo foi parar algumas dezenas de metros adiante, incrustado em um poste.

As autoridades francesas pediram calma nesta quarta-feira (28), após uma noite de violência urbana na região de Paris, particularmente em Nanterre, onde Nahel, de 17 anos, foi morto pela polícia após se recusar a obedecer ordens, uma tragédia que despertou forte emoção em todo o país, desde o chefe de Estado, Emmanuel Macron, até o astro do futebol Kylian Mbappé, que classificou o incidente como "inaceitável".

Em um vídeo publicado no TikTok, a mãe do adolescente assassinado convocou uma marcha silenciosa nesta quinta-feira (29), às 14h, em frente à prefeitura de Hauts-de-Seine, próxima ao local do tiroteio fatal, expressando sua "revolta pelo (seu) filho".

"Nada, nada justifica a morte de um jovem", disse Emmanuel Macron no terceiro dia de sua visita a Marselha (sul da França), evocando "a emoção de toda a nação", enquanto o porta-voz do governo, Olivier Véran, lançou um "apelo à calma".

A primeira-ministra Elisabeth Borne tuitou que havia uma "necessidade absoluta de verdade" nessa tragédia, enquanto o ministro do Interior, Gérald Darmanin, pediu "calma e verdade no inquérito judicial". Darmanin anunciou uma reunião de segurança no início da tarde, na qual seria aprovada a mobilização de 2.000 policiais em Paris e em seus subúrbios. Ontem à noite, 1.200 policiais estiveram mobilizados.

Ao todo, 31 pessoas foram presas na França, 24 policiais ficaram levemente feridos e cerca de 40 carros foram queimados, de acordo com o Ministério do Interior.

Cena do rap francês unida pela indignação

Várias personalidades do mundo do rap francês, incluindo os famosos Jul e SCH, de Marselha, reagiram à morte de Nahel. "Um pensamento para Naël (sic) #Nanterre", reagiu Jul, o rapper mais vendido na França, no Instagram. O jovem de 33 anos de Marselha acrescentou um punho erguido e uma pomba da paz à sua mensagem.

O outro astro do rap de Marselha, SCH, também usou o Twitter para oferecer seu "apoio total" à família e aos amigos de Nahel e aos "nossos bairros".

"Eu vejo alguns tweets impressionantes, isso faz você se perguntar se ainda há alguma humanidade em algumas pessoas. Você pode encontrar todas as desculpas do mundo para justificar o ato, mas isso não trará esse pobre garoto de 17 anos de volta para seus pais", escreveu ele.

"A falta de um documento para dirigir ou a recusa em cooperar (sic) não deveriam permitir que um policial cometesse um assassinato na via pública. Se fossem outros, ricos e famosos, drogados com cocaína e não sei mais o quê, duvido muito que eles tivessem sido executados dessa forma", escreveu Rohff, um defensor do rap da velha guarda. Outras personalidades da cena, incluindo Hamza e SDM, também reagiram nas redes sociais.

"Americanização da polícia"

O policial de 38 anos suspeito de ter dado o tiro fatal está sendo interrogado pela Inspetoria Geral da Polícia Nacional (IGPN) como parte da investigação de homicídio voluntário aberta pela promotoria pública de Nanterre. Sua custódia foi prorrogada, segundo uma fonte próxima ao caso nesta quarta-feira.

"Ele era um sargento de polícia experiente que tinha a confiança de seus superiores", disse o secretário de segurança pública de Paris, Laurent Nuñez, ao CNews.

"Tomaremos decisões administrativas para suspendê-lo se forem apresentadas acusações contra ele", anunciou Gérald Darmanin.

A tragédia também provocou inúmeras reações no cenário político.

"A pena de morte não existe mais na França. Nenhum policial tem o direito de matar, exceto em legítima defesa", tuitou o líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, na terça-feira. A líder dos ecologistas, Marine Tondelier, deplorou a "americanização da polícia" na rádio Sud.

Os representantes da extrema direita do partido Reunião Nacional (RN), Jordan Bardella e Sébastien Chenu, referiram-se a "uma tragédia" e pediram "tempo para a investigação" e que "a presunção de inocência" fosse respeitada.

A Assembleia Nacional também fez um minuto de silêncio em homenagem ao jovem. 

(Com AFP)

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