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Classe política francesa entra no debate sobre uso de véu islâmico na Copa do Mundo feminina

A possível autorização para que as jogadoras de futebol usem o véu islâmico em campo, defendida na segunda-feira perante o Conselho de Estado da França pelo relator público, foi duramente criticada nesta terça-feira (27) pela direita e pela extrema-direita francesas, que, assim como o campo macronista (aliados do presidente francês, Emmanuel Macron), exigiram legislação ao contrário, se necessário.

Uma jogadora de futebol usando um véu muçulmano (imagem ilustrativa) Géraldine WOESSNER / AFP
Uma jogadora de futebol usando um véu muçulmano (imagem ilustrativa) Géraldine WOESSNER / AFP Géraldine WOESSNER / AFP
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Na segunda-feira (26), o coletivo Hijabeuses [hijab é o nome árabe utilizado na França para designar o véu islâmico] contestou perante a alta corte do tribunal administrativo de Paris o artigo 1º do regulamento da Federação Francesa de Futebol (FFF), que proíbe "o uso de qualquer sinal ou vestimenta que manifeste ostensivamente uma filiação política, filosófica, religiosa ou sindical" durante a Copa do Mundo de Futebol feminino, que acontece em 2023.

Durante a audiência, o relator público, que expõe a lei e cuja opinião é geralmente seguida, concordou com as manifestantes a favor do véu islâmico, com ressalvas apenas no caso da equipe francesa. Ele recomendou que o artigo 1º fosse anulado e pediu que a FFF alterasse seus regulamentos para permitir que outras seleções possam usar o apetrecho religioso.

Mas o ministro do Interior da França, Gérald Darmanin, disse que era "extremamente contrário" à decisão do mais alto tribunal administrativo da França em favor do coletivo. Ele denunciou "associações comunitárias" que, segundo ele, queriam "desferir um golpe contra a República" francesa.

"O Conselho de Estado é um órgão extremamente sábio. Espero sinceramente, para o bem da República, que eles mantenham a neutralidade nos terrenos esportivos", repreendeu o ministro.

Provocação?

Na manhã de terça-feira, a extrema direita do espectro político francês se manifestou e pediu uma legislação sobre o assunto. "Não ao hijab no esporte! E nós aprovaremos uma lei para impor isso", tuitou a presidente dos deputados da Reunião Nacional, Marine Le Pen, enquanto seu rival do partido Reconquista, também de extrema direita, o populista Éric Zemmour, retorquiu: "essa islamização de nossas vidas diárias não nos choca apenas por causa do futebol". A suposta "islamização" da sociedade francesa é corriqueiramente usada como moeda de troca nas trincheiras da extrema direita francesa para conseguir votos.

"É preciso muita ingenuidade de um relator do Conselho de Estado para entender que não há nenhum proselitismo, nenhuma provocação em usar o véu islâmico para jogar futebol", disse Olivier Marleix, chefe dos deputados dos Republicanos [direita], à Franceinfo. Ele lamentou que o órgão tenha sido, em sua opinião, "fiel à sua atitude em 1989", quando a questão do uso do véu islâmico nas escolas tornou-se parte do debate público.

"O legislador teve que fazer algo a respeito", lembrou ele, referindo-se à lei de 2004 que proíbe o uso de símbolos religiosos visíveis nas escolas.

Sobre a questão específica do esporte, em 19 de janeiro de 2022, o Senado francês (majoritariamente de direita] adotou uma emenda dos Republicanos que proibia "o uso de símbolos religiosos ostensivos" em "eventos esportivos e competições organizadas por federações esportivas". Essa emenda foi revogada pelo Parlamento, onde o partido presidencial tinha maioria absoluta na época.

Autorizar o hijab no esporte "seria um verdadeiro retrocesso para os direitos das mulheres e uma submissão vergonhosa ao islamismo", acrescentou o presidente dos Republicanos, Éric Ciotti, anunciando que um projeto de lei seria apresentado se o Conselho de Estado seguisse o parecer do relator público, dentro de três semanas.

 "Polêmica de verão"

De acordo com as regras atuais da FFF, que detém o "monopólio" da organização dos jogos, observou o relator público, as jogadoras que usam o lenço na cabeça são de fato "excluídas" e devem "desistir de qualquer competição e de qualquer carreira".

Mas, desde 2014, a Fifa autorizou as jogadoras muçulmanas a participar de competições internacionais usando seus véus.

O deputado de direita Karl Olive compartilha a ideia de que a legislação é necessária "para que o princípio da neutralidade absoluta prevaleça neste país", segundo explicou à rádio Europe 1.

Essas posições foram rejeitadas pelo coordenador político da esquerda radical francesa [França Insubmissa], Manuel Bompard, para quem "qualquer coisa serve para tentar provocar uma polêmica de verão". "Há pessoas que estão fartas de serem constantemente estigmatizadas porque querem poder praticar sua religião de acordo com a lei", disse ele à imprensa.

Gérald Darmanin está "apontando o dedo para os muçulmanos" e se tornando "o ministro de Marine Le Pen", criticou Mathilde Panot, líder dos deputados da França Insbumissa no Parlamento francês.

(Com AFP)

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