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França: começa julgamento de jovem suspeito de esfaquear e queimar viva namorada de 15 anos

O tribunal de Beauvais, no norte da França, começou a julgar nesta segunda-feira (5) um jovem suspeito de assassinar a namorada, a adolescente Shaïna Hansye, de 15 anos, em 2019. A garota, grávida na época do crime, tornou-se o símbolo da luta das violências contra as mulheres na França. 

Familiares e amigos de Shaïna Hansye realizaram um protesto diante do tribunal de Beauvais, no norte da França, nesta segunda-feira (5).
Familiares e amigos de Shaïna Hansye realizaram um protesto diante do tribunal de Beauvais, no norte da França, nesta segunda-feira (5). AFP - FRANCOIS NASCIMBENI
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"Justiça para Shaïna", diziam cartazes exibidos diante do tribunal em uma manifestação organizada pela família da adolescente. "Estamos aqui para que a justiça seja feita", afirmou Yasin Hansye, irmão da garota.

O julgamento ocorre a portas fechadas e deve se estender até sexta-feira (9). O suspeito, na época com 17 anos, "contesta os fatos, grita sua inocência", declarou diante do juiz seu advogado, Adel Fares. Magro, com expressão juvenil e cabelo amarrado em um coque, o acusado confirmou sua identidade na abertura da audiência, com uma voz calma, sem parecer se abalar com a presença de familiares de Shaïna. 

O corpo da adolescente, quase completamente carbonizado, foi descoberto pela polícia em 27 de outubro de 2019 em um galpão na cidade de Creil, no norte da França. Nos restos mortais de Shaïna, os médicos legistas descobriram ainda cerca de 15 cortes feitos com uma arma branca. Para os especialistas, a jovem ainda respirava quando foi queimada. 

Todas as suspeitas apontaram imediatamente a um adolescente de 17 anos com quem Shaïna mantinha um relacionamento e de quem provavelmente estava grávida. Investigadores acreditam que a garota foi morta por se recusar a realizar um aborto. 

Um dos amigos do rapaz contou à polícia que a vítima foi propositalmente atraída para o local do crime para ser assassinada. O companheiro de cela do suspeito o ouviu dizer "com orgulho" que tinha "matado sua namorada", tratando-a de "vagabunda". 

Teste de gravidez positivo

Dias antes de sua morte, familiares de Shaïna descobriram em sua bolsa um teste de gravidez positivo. Na opinião dos investigadores, ela atribuía a paternidade ao acusado.

Outros elementos incriminam o rapaz: embora seu celular tenha desaparecido, ele enviou diversas mensagens de texto a Shaïna na noite do crime. O sinal dos dois telefones foi detectado a cerca de 500 metros do galpão onde o corpo da jovem foi encontrado. O aparelho do acusado foi desligado por volta das 20h, hora aproximativa da morte da adolescente. 

Aos investigadores, o suspeito diz que as queimaduras descobertas em seu rosto e suas pernas eram consequência de um "eczema". O rapaz também deu diversas versões sobre onde estava e o que fazia na noite do crime. O jovem, hoje com 20 anos, reconheceu ter mantido relações sexuais com Shaïna, mas afirmou que os dois já haviam rompido o relacionamento quando a adolescente foi encontrada morta. Na prisão, o acusado teria declarado que preferiria "passar 30 anos preso a ser pai de um bastardo".    

Vítima de agressões sexuais

De acordo com a advogada da família da adolescente, Negar Haeri, a morte de Shaïna foi "o ponto culminante de um longo calvário". Dois anos antes de seu assassinato, aos 13 anos, a garota foi vítima de um estupro coletivo pelo qual quatro jovens de seu bairro foram condenados, na semana passada, a penas de seis meses a dois anos de prisão com sursis.

Shaïna foi filmada pelos agressores e as imagens foram transmitidas por Snapchat. De acordo com Haeri, por ter ousado denunciar o crime à polícia, a garota foi exposta a "humilhações crescentes", tratada "como um objeto, algo descartável", "uma garota fácil". 

O assassinato da adolescente gerou forte comoção na França. A ONG Fundação das Mulheres, que luta contra as violências às mulheres, pediu para participar do julgamento, uma iniciativa saudada pela advogada da família de Shaïna. "É preciso que a gente compreenda como uma garota pode ser queimada viva na França, como pode ser submetida a um calvário como esse, que mostra o ódio do autor do crime", diz. 

As violências contra as mulheres são tratadas como "uma prioridade" do governo Macron, mas, no ano passado, o número de feminicídios voltou a aumentar 20% em relação a 2021. No total, em 2022, 122 mulheres foram mortas por maridos, namorados ou ex-companheiros. Na semana passada, a França lançou um plano em uma nova tentativa de lutar contra esse tipo de crime, mas seu formato foi extremamente criticado nas redes sociais.

(RFI com AFP)

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