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Paris 2024: Ativistas fazem campanha para atrapalhar organização de Olimpíada

Enquanto uma campanha de recrutamento está em curso para encontrar os 45 mil voluntários necessários para o bom andamento dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, um “slogan inverso” foi lançado: "inscreva-se como voluntário para a Olimpíada e não apareça".

Os aneis olímpicos expostos em frente ao prédio da prefeitura de Paris. Paris, 2 de setembro de 2022 (imagem ilustrativa).
Os aneis olímpicos expostos em frente ao prédio da prefeitura de Paris. Paris, 2 de setembro de 2022 (imagem ilustrativa). AFP - BEHROUZ MEHRI
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Lou Roméo, da France 24

A ideia é simples: enquanto o Comitê Olímpico lançou a campanha para encontrar voluntários para os jogos, grupos contrários à realização da competição querem atrapalhar a organização com falsas candidaturas.

Aberta até 3 de maio, a campanha de recrutamento é denunciada por ativistas que criticam a disponibilidade excessiva exigida desses milhares de voluntários que não receberão qualquer suporte financeiro ou apoio, por exemplo, para se hospedarem. De acordo com a convocação publicada pelo Comitê Olímpico, estas pessoas terão que estar "disponíveis por pelo menos dez dias" durante o verão europeu de 2024, quando poderão vir a trabalhar por até 10 horas por dia e 48 horas por semana.

Alice*, 33, é uma dessas "falsas voluntárias", cujo número é difícil estimar. Por pertencer à "comunidade esportiva", e por ser organizadora de diversos eventos da área, ela confia na solidez de sua candidatura para ser recrutada. Se for selecionada, no entanto, hesita entre "se retirar no último momento", fazer uma "greve de trabalho" ou aproveitar a presença de câmeras de todo o mundo para tentar uma ação midiática.

“Acho vergonhoso que, com um orçamento de € 8,8 bilhões, os Jogos Olímpicos estejam usando voluntários e pedindo a eles esse nível de envolvimento. Isso é quase um trabalho disfarçado, e eu quero ajudar a atrapalhar esses jogos que causam problemas em todos os níveis, em termos sociais, econômicos, de segurança e ambientais”, declara, justificando seu posicionamento.

Danos

A revolta de Alice é compartilhada pelo coletivo Saccage 2024, criado em novembro de 2020 e que reúne os habitantes de Seine-Saint-Denis, na região parisiense, para denunciar os danos causados ​​pela competição na localidade.

"Para nós, os jogos são aceleradores de problemas. Sob o pretexto de uma alegria coletiva, eles permitem a aprovação de leis de segurança, como a aprovada na quarta-feira (12), para destruir espaços verdes e acelerar processos de gentrificação que não beneficiarão os habitantes de Seine-Saint-Denis", critica Clément*, membro do coletivo que organiza regularmente reuniões e manifestações públicas.

E isso quando o departamento, que deve acomodar grande parte das instalações e eventos dos jogos, é o mais pobre da França metropolitana.

 

Imagem da campanha de recrutamento de voluntários para os Jogos Olímpicos Paris-2024.
Imagem da campanha de recrutamento de voluntários para os Jogos Olímpicos Paris-2024. © Paris 2024

 

O ativista também protesta contra as condições de trabalho dos operários empregados nesses canteiros de obras faraônicos, muitos deles sem documentos. Os falsos voluntários são, para ele, mais do que uma forma de sabotagem, uma maneira de fazer ouvir uma voz dissidente, enquanto as autoridades como o Comitê Olímpico destacam os benefícios da realização dos Jogos Olímpicos em Paris e Seine-Saint-Denis.

"Queremos denunciar o fato de a Olimpíada ser uma marca privada, uma organização lucrativa com patrocinadores que emprega muito dinheiro público e voluntários. É escandaloso, e ocorre sob o pretexto de valores olímpicos, mas, na realidade, são hipócritas, individualistas e competitivos. Nos fazem acreditar em uma 'grande aventura humana', quando nada vai bem", alega Clément.

Resistência

Os muitos projetos olímpicos em andamento em Seine-Saint-Denis são alvo de movimentos de resistência local. Organizados desde 2017 em um "comitê de vigilância", os moradores da cidade de Saint-Denis, que sediará a vila dos atletas e diversos eventos esportivos, realizaram, por exemplo, "passeios tóxicos", que levam aos muitos locais olímpicos, para denunciar seus impactos ecológicos.

Cécile Gintrac, uma das porta-vozes do coletivo, destaca as repercussões que os jogos terão especialmente na cidade, onde dois distritos estão surgindo para sediar a competição esportiva.

“Os jogos vão transformar Saint-Denis e agravar uma situação já degradada em termos ambientais”, denuncia esta professora de geografia. Os bairros em construção, que devem servir aos jogos para acolher novos habitantes, não dispõem de espaços verdes e estarão restritos entre grandes eixos rodoviários. Por mais que se promova o uso de materiais ecológicos, apesar de todo o dinheiro investido, o legado dos Jogos Olímpicos corre o risco de ser prejudicial à população”, alerta.

Arthur, outro integrante do Saccage 2024, não pensa diferente: para ele, além de ter consequências "antiecológicas", o argumento a favor dos Jogos Olímpicos relativo à geração de empregos e à revitalização dos territórios não se confirma.

"Os empregos criados por ocasião da Olimpíada são precários e efêmeros, destaca, e o uso massivo de voluntários é mais um agravante. Suspeitamos que não haverá 45 mil falsos voluntários para a Olimpíada, mas esta campanha ajuda a estimular as pessoas a agirem dentro de suas possibilidades, ao mesmo tempo que enviam uma mensagem aos organizadores."

Voluntários substitutos

Atenta ao movimento de contestação, a comissão organizadora dos Jogos Olímpicos parece ter tomado conhecimento da ameaça que representam as falsas candidaturas. Com isso, acreditam os organizadores, se os "processos de mobilização permitem garantir a sinceridade do compromisso dos candidatos" e seu "apoio ao projeto e aos valores de Paris-2024", os voluntários credenciados serão submetidos a um "inquérito administrativo prévio" para evitar qualquer risco de sabotagem.

A comissão também planeja recrutar uma equipe de voluntários substitutos, a serem mobilizados em caso de muitas desistências.

*Os nomes dos entrevistados são fictícios.

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