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Às vésperas de completar um ano da reeleição, Macron enfrenta crises social e política

O presidente francês, Emmanuel Macron, enfrenta um dos momentos de maior desgaste desde que chegou ao Palácio do Eliseu. O retorno da inflação e a desastrosa gestão da reforma da Previdência abriram duas crises, uma social e outra política, que estremecem as bases da República francesa.

Franceses questionam forma como o presidente Emmanuel Macron utiliza a Constituição sem debate com o Parlamento.
Franceses questionam forma como o presidente Emmanuel Macron utiliza a Constituição sem debate com o Parlamento. via REUTERS - POOL
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No dia 24 de abril, Macron completará o primeiro ano de seu segundo mandato. Mas a imprensa local e cientistas políticos já começaram a fazer um balanço das ações do presidente, temendo quatro anos de paralisia. Os dois meses de protestos contra a reforma da Previdência revelam um profundo mal-estar na sociedade francesa. 

"Macron enfrenta uma crise mais ampla do que no período das manifestações dos coletes amarelos (2018-2019), porque os franceses protestam por várias razões", disse em entrevista à RFI Luc Rouban, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) e da universidade SciencesPo. 

"A diminuição do poder de compra gerada pela inflação, algo que já acontecia com os coletes amarelos em relação ao aumento de impostos, se associa agora a questionamentos mais profundos, como o valor do trabalho, as distorções do capitalismo e a crise política causada pela forma como o governo utilizou artigos da Constituição para reduzir o tempo do debate parlamentar sobre a idade da aposentadoria", aponta Rouban. "São duas crises simultâneas: uma social, que atinge os franceses, e uma política, que visa Macron pela forma como ele manejou a Constituição, mesmo sendo legal", destaca Rouban.

Para o pesquisador, atualmente, o maior problema é que Macron atua como um "presidente poderoso", quando não tem mais maioria parlamentar. Os franceses cobram do chefe de Estado um compartilhamento da governança com o Parlamento. 

Em sua edição desta terça-feira (11), o jornal Le Figaro diz que a França enfrenta uma "crise democrática", concordando com a análise feita pela maioria dos opositores nos últimos dias. Para a maioria dos franceses, adotar a reforma da Previdência sem a votação dos deputados e ainda recorrendo a uma tramitação rápida no Parlamento foi uma escolha antidemocrática do presidente da República. Macron, que segundo o jornal "detesta as ideias previsíveis", mantém o suspense sobre uma possível reforma ministerial e sobre uma troca de primeiro-ministro. 

A publicação indica pontos de discordância entre o presidente, que quer continuar suas reformas a todo vapor, e sua chefe de governo, Élisabeth Borne, que desejaria avançar mais lentamente. Macron não dá sinais do que fará para superar o descontentamento da população e "continua à procura de uma direção para seus próximos quatro anos de governo", escreve Le Figaro. O diário sugere a Macron que tenha algo a apresentar aos franceses depois que o Conselho Constitucional der seu parecer sobre a reforma das aposentadorias, na próxima sexta-feira (14).

Debate 

A chefe de governo, Élisabeth Borne, tem procurado mostrar que está aberta ao debate. O jornal Le Parisen destaca que a primeira-ministra recebe nesta terça-feira a líder da extrema direita Marine Le Pen no âmbito de consultas com partidos e sindicatos para acalmar a crise, às vésperas de uma nova mobilização contra a reforma da Previdência, na quinta-feira (13). 

Até agora, o partido de Macron foi crítico à extrema direita. Le Parisien questiona se, após as últimas pesquisas, que mostram que o partido Reunião Nacional, de Le Pen, cresceu diante da esquerda radical, de Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa, Macron irá se aproximar de seus principais adversários.  

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