Jornal Le Figaro aponta "ilusões" de Macron na véspera da visita do líder francês a Pequim
A um dia do início de uma visita do presidente francês, Emmanuel Macron, à China, o jornal Le Figaro analisa as ambições do governo e da União Europeia (UE) nos encontros previstos com o líder chinês, Xi Jinping.
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Em um momento de forte tensão geopolítica decorrente da guerra na Ucrânia, os interesses dos Estados Unidos e a proximidade de Pequim com Moscou, a França e a Europa buscam ocupar uma posição original, que não é nem de alinhamento nem de submissão, escreve o Le Figaro.
Macron visita a China de 5 a 8 de abril, acompanhado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. "Diante do Império Vermelho, a Europa tem mais peso do que a França sozinha", explica o diário. Se o presidente francês foi visto às vezes como um ingênuo apoiador da conciliação, Von der Leyen endureceu o tom com Pequim, denunciando "o objetivo declarado do Partido Comunista Chinês (PCC) de promover uma mudança sistêmica da ordem internacional". Isto não impede que os europeus queiram manter o diálogo e a cooperação econômica com a China, avalia o jornal.
O Palácio do Eliseu resume o ponto de vista francês: Paris não tem as mesmas posições que os Estados Unidos em relação à China, porque os interesses franceses e europeus não são similares aos dos americanos.
Em 2019, a UE qualificava Pequim de "parceiro, concorrente e rival estratégico". Porém, ao constatar que o PCC busca impor uma nova ordem internacional focalizada nos interesses chineses, Bruxelas vai endurecer a posição europeia, sem cortar as relações econômicas com a China, que representa 20% das importações do bloco.
Mediador ambíguo
A guerra na Ucrânia estará no centro da visita de Macron a Pequim. Mas na opinião de analistas ouvidos pelo Le Figaro, "buscar na China uma solução para a guerra na Ucrânia é uma ilusão e contribui para alimentar o discurso de que o governo chinês é um ator pacifista e construtivo, mesmo quando apoia a Rússia". Os europeus deveriam denunciar as ambiguidades e contradições de Pequim, dizem os especialistas entrevistados pelo diário.
Depois da recente visita de Xi Jinping a Moscou, Macron pretende evitar que Pequim envie armas à Rússia e continue apoiando um caminho que encerre a guerra a médio prazo.
O jornal regional La Depêche entrevistou a cientista política Valérie Niquet, especialista em China na Fundação para Pesquisas Estratégicas. Ela conta que a imprensa chinesa tem apontado as dificuldades enfrentadas por Macron com a reforma da Previdência, e escreve que o francês "buscará em Pequim alguma forma de reconhecimento".
Para a analista, a única preocupação real de Pequim seria criar uma fresta entre a União Europeia e os Estados Unidos, para romper a frente ocidental agora mais unida, principalmente no controle das tecnologias de ponta e no acesso aos mercados.
França dedica € 400 bi às Forças Armadas
Neste contexto de remodelamento da ordem global, a França apresenta nesta terça-feira (4) sua lei de programação militar (LPM) para o período de 2024-2030. O orçamento consagrado às Forças Armadas será de € 413 bilhões em sete anos, um montante sem precedentes. Este esforço substancial, manchete de capa do diário Les Echos, é justificado "pela deterioração muito rápida do contexto geopolítico" marcado pela guerra na Ucrânia, mas também "pelo aparecimento de numerosos avanços tecnológicos que têm um custo", explica o Ministério das Forças Armadas.
A construção de um novo porta-aviões, a renovação da frota de aviões de combate Rafale, a compra de mísseis modernos e a reconstituição dos estoques de munições receberão grandes fatias desse orçamento.
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