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“Tenho 18 anos, nunca fiz nada ilegal, e hoje fui espancado pela polícia": jovens relatam repressão em protestos na França

A décima rodada de manifestações contra a reforma da Previdência na França ocorreu na terça-feira (28), atos para o qual o ministro do Interior, Gérald Darmanin, anunciou um “dispositivo inédito” de segurança. O objetivo, segundo ele, era lutar contra o aumento da violência por parte dos manifestantes. 

Polícia prende manifestante durante protesto contra a reforma da Previdência em Paris, em 23 de março.
Polícia prende manifestante durante protesto contra a reforma da Previdência em Paris, em 23 de março. AP - Christophe Ena
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Com a colaboração especial de Jonas Duris 

Os protestos contra a reforma da Previdência, que começaram em janeiro deste ano, estão ficando cada vez mais violentos. Em parte, esse fenômeno é incentivado por uma entrevista concedida ao presidente Emmanuel Macron à TV francesa, na qual comparou a violência dos atos na França com a invasão da Praça dos Três Poderes, em Brasília, e do Capitólio, nos Estados Unidos. Os black blocs e a extrema esquerda são apontados pelas autoridades francesas como causas da radicalização crescente nas mobilizações. 

Entrevistado pela RFI, Mario, estudante de Direito na Universidade Sorbonne, em Paris, denuncia as acusações do governo. “Os comentários de Emmanuel Macron são bastante gritantes porque mostram um certo desprezo pela democracia e pelas mobilizações sociais (...) Há uma vontade do governo em sua comunicação política, de culpar certos grupos, especialmente a extrema esquerda ou os black blocs. A primeira vontade é a de retirar a legitimidade do movimento social.” 

A violência como estratégia

Para alguns, a violência é o único jeito de ser ouvido pelo governo francês. “O 49-3 é violento, a falta de respeito pela democracia e para 90% dos trabalhadores é violenta, então temos que responder com a violência. Não é o ideal, mas é o único jeito de sermos ouvidos”, diz à RFI um jovem que estava na mobilização. 

Ele faz referência ao artigo 49-3 da Constituição francesa, que permite que um projeto de lei seja imposto sem a votação dos deputados. No entanto, a medida é extremamente polêmica porque desrespeita as vias parlamentares tradicionais. Além disso, antes de a primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, dispensar a votação final da Assembleia, em 16 de março, vários membros do governo haviam garantido que a reforma não passaria por meio desta medida, vista como extremamente autoritária e antidemocrática. 

Segundo Mario, a radicalização de parte dos manifestantes seria também uma resposta à brutalidade da polícia. “O movimento social se ampliou porque vimos que o governo fazia uso de repressão. A violência dos manifestantes é totalmente legítima já que há um uso totalmente desproporcional da força de parte da polícia, eles usam literalmente armas de guerra.” 

Brav-M, a mais temida brigada policial da França

A principal unidade policial visada por acusações de brutalidade é a Brav-M, acrônimo de Brigada de Repressão de Ação Violenta Motorizada. Ela é considerada como o esquadrão mais agressivo das forças de segurança francesas. Durante o protesto do dia 20 de março, um arquivo revelado pela plataforma independente Loopsider mostrou membros da Brav-M ameaçando e intimidando sete jovens detidos. Uma petição que pede sua extinção já reúne mais de 170 mil assinaturas. 

“Tenho 18 anos, nunca fiz nada ilegal, e hoje fui espancado pela polícia na frente de minha namorada. Não tinha feito nada. Me colocaram sob custódia policial, junto com uma pessoa cega que também tinha levado um soco. [Os policiais] prendem qualquer pessoa que esteja na frente deles”, nos conta, ainda em estado de choque, um jovem que participou dos protestos de terça-feira.  

Organizações como a ONU, a Anistia Internacional, a Human Rights Watch, a Repórteres sem Fronteiras, além do Conselho da Europa, denunciaram a má-aplicação da lei e o uso da brutalidade durante os atos contra a reforma da Previdência por parte das autoridades francesas. 

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