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“Ficção salvará a democracia”, afirma Vargas Llosa ao tomar posse na Academia Francesa

Com sua espada e o fardão de imortal, o escritor peruano Mario Vargas Llosa discursou nesta quinta-feira (9) como novo membro da Academia Francesa de Letras. Aos 86 anos, o ganhador do Nobel da Literatura de 2010 é o primeiro intelectual a ingressar na instituição sem escrever livros em francês. Conhecido por seu conservadorismo e suas polêmicas, Llosa escolheu criticar a Rússia de Putin em seu primeiro discurso na Academia e afirmou que "a ficção salvará a democracia ou perecerá com ela".

O Prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa passou a fazer parte da Academia Francesa nesta quinta-feira (9), tornando-se o primeiro escritor de língua estrangeira a fazer parte dessa emblemática instituição da França fundada em 1635.
O Prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa passou a fazer parte da Academia Francesa nesta quinta-feira (9), tornando-se o primeiro escritor de língua estrangeira a fazer parte dessa emblemática instituição da França fundada em 1635. AFP - EMMANUEL DUNAND
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"Sempre haverá - como podemos duvidar? - esta caricatura que os países totalitários nos vendem como romances, mas que só existem após terem passado pela censura que os mutila", como mostra "o exemplo da Rússia de Vladimir Putin", criticou Vargas Llosa em seu discurso na assembleia solene dos acadêmicos.

"Vemos como ele ataca a desafortunada Ucrânia, e como ele fica extremamente surpreso quando esta nação resiste, apesar de sua superioridade militar, suas bombas atômicas e suas tropas numerosas", acrescentou ele.

Segundo ele, "como nas ficções, aqui os fracos triunfam sobre os fortes, porque a justiça de sua causa é infinitamente maior do que a dos últimos, supostamente poderosos". "Como na literatura, as coisas são bem feitas e confirmam uma justiça imanente que existe, deve ser dito, somente em nossos sonhos", concluiu.

Mario Vargas Llosa foi eleito em novembro de 2021 como membro da Academia fundada pelo Cardeal Richelieu em 1635. Ele é o primeiro escritor de língua não francesa a ingressar na instituição.

Em seu discurso inaugural, o escritor fez também uma ode à cultura francesa. Llosa lembrou que, quando estudava em Lima, "aspirava secretamente a me tornar um escritor francês. Eu estava convencido de que era impossível ser um escritor no Peru, um país sem editoras e com poucas livrarias".

Quando chegou a Paris em 1959, Vargas Llosa disse que ficou surpreso ao descobrir que na "capital cultural do mundo" autores como o mexicano Octavio Paz já haviam sido lidos há algum tempo. "Foi graças à França que descobri outra América Latina", disse ele.

Conhecido por seu conservadorismo e posicionamentos de direita, o escritor disse ainda que o existencialismo francês o salvou do comunismo stalinista. "Passei um ano no partido comunista peruano. E eu acho que os existencialistas franceses (...) me salvaram do stalinismo."

Jovem escritor e jornalista em formação, Vargas Llosa trabalhou como tradutor, como professor de idiomas, "assim como na Agence France Presse, na Place de la Bourse".

"Foi em Paris que me tornei escritor", acrescentou ele. "Sem [Gustave] Flaubert eu nunca teria sido o escritor que sou, nem teria escrito o que escrevi". É mais graças a ele que vocês me recebem hoje", reconheceu.

Polêmico

A entrada de Vargas Llosa na Academia Francesa não foi bem recebida por algumas personalidades. O escritor, que se candidatou à presidência peruana em 1990, nunca deixou de expressar suas opiniões ultraliberais, como seu recente apoio a José Antonio Kast, o candidato de extrema-direita nas eleições chilenas.

Llosa tampouco evitou polêmicas políticas ao longo de sua vida. Cidadão espanhol e peruano, o escritor convidou para seu primeiro discurso na Assembleia Francesa o rei Juan Carlos I da Espanha, que esteve presente em Paris. O monarca, suspeito de corrupção, vive em exílio voluntário nos Emirados Árabes Unidos desde 2020.

(Com informações da RFI)

 

 

 

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