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Escolha de Vargas Llosa para Academia Francesa de Letras gera críticas em meio literário da França

A escolha do escritor Mario Vargas Llosa para a Academia Francesa de Letras foi bem acolhida por parte do meio literário francês, mas também gerou críticas. O peruano foi eleito sem nunca ter publicado obras em francês.  

Foto de arquivo de 3 de dezembro de 2019, do escritor peruano e prêmio Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa, na cidade de Guatemala. O autor foi eleito para ocupar uma cadeira da prestigiosa Academia Francesa de Letras, em 25 de novembro de 2021.
Foto de arquivo de 3 de dezembro de 2019, do escritor peruano e prêmio Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa, na cidade de Guatemala. O autor foi eleito para ocupar uma cadeira da prestigiosa Academia Francesa de Letras, em 25 de novembro de 2021. ORLANDO ESTRADA AFP/Archivos
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O anúncio da eleição do novo membro da Academia foi feito na quinta-feira (26). Vargas Llosa vai ocupar a cadeira deixada vazia após a morte de Michel Serres, em 2019. O prêmio Nobel de literatura peruano foi escolhido apesar de não ter escrito nunca em francês e superar o limite de idade regulamentar.  

Vargas Llosa não é o primeiro escritor estrangeiro ou de língua materna não francesa a ingressar na prestigiosa instituição de literatura, fundada em 1635. Mas será o primeiro a ocupar uma cadeira sem nunca ter escrito uma obra em francês. A instituição decidiu abrir uma exceção com respeito à idade do escritor, com 18 votos a seu favor e um contra. Aos 85 anos o peruano supera em muito a regra que exige, desde 2010, que os candidatos cumpram a idade máxima de 75 anos.

Outros escritores bilíngues fizeram parte da história da Academia Francesa, como o argentino Héctor Bianciotti (1930-2012), que publicou boa parte de sua obra em espanhol e outra em francês. Vargas Llosa, que reside atualmente em Madri, após ter vivido na França, fala fluentemente francês e tem vínculos fortes com o país e sua literatura.

Grande parte de sua obra foi traduzida para o francês. Ele também foi o primeiro escritor da América Latina a ser publicado na prestigiosa coleção da editoria Pléiade, em 2016.

Uma caixa de Pandora?

Em um artigo de opinião publicado na revista L’Express, o escritor Pierre Assouline lamenta que Vargas Llosa não tenha escrito em francês. “Como disse Alexandre Dumas, podem-se violar os estatutos da Academia, a condição de dar-lhe filhos bonitos”, escreve o autor francês, que advertiu que a escolha abria uma caixa de Pandora.

O jornal Le Figaro celebrou a nominação como uma nova revolução, quatro décadas depois da difícil escolha da primeira mulher – de origem belga – Marguerite Youcenar.

A Academia Francesa foi concebida para garantir a proteção do idioma francês. Conta com 40 cadeiras, ocupadas por 29 homens e seis mulheres, cinco estão vazias. Por falta de candidaturas fortes, a instituição tem dificuldades para substituir as cadeiras livres. O prêmio Nobel francês de Literatura, Jean-Marie Le Clézio, nunca se candidatou, por exemplo.

Por outro lado, a influência e o prestígio da Academia diminuíram no século XXI, a tal ponto que muitos linguistas consideram que suas opiniões não são pertinentes.

Obra novamente em foco

Entrevistada pela RFI, a poetisa peruana Grecia Cáceres comentou que este reconhecimento dava a Vargas Llosa “uma maior legitimidade internacional” após seu polêmico apoio à candidata Keiko Fujimori nas últimas eleições no Peru.

“Ele sempre se posicionou contra as decisões ditatoriais do segundo governo de Alberto Fujimori. Foi um choque para os intelectuais, os escritores, os artistas”, diz Cáceres e afirma que a eleição permite colocar novamente sua obra em destaque.

Para a poetisa, a escolha também prova que a cultura francesa ganha e vibra em outras culturas e outros idiomas.

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