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Curdos prestam homenagem aos mortos no ataque em Paris e pedem proteção

Curdos vindos de toda a Europa se reuniram nesta terça-feira (3) em Villiers-le-Bel, ao norte da região parisiense, durante o funeral das três vítimas assassinadas na rua d'Enghien, em Paris, em 23 de dezembro, em um ataque de motivação racista. Uma forma de a comunidade curda prestar uma última homenagem aos mortos, pedindo à França que continue a protegê-la.

Membros da comunidade curda se reúnem nos subúrbios ao norte de Paris para homenagear as três vítimas do ataque na rua Enghien.
Membros da comunidade curda se reúnem nos subúrbios ao norte de Paris para homenagear as três vítimas do ataque na rua Enghien. AFP - JULIEN DE ROSA
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Pierre Olivier, da RFI

Milhares de curdos da França, mas também da Bélgica e da Suíça, compareceram à cerimônia. A escolha do local para esta reunião não foi fruto do acaso. A área comercial, cercada de prédios, seria mais segura do que uma área aberta, mais difícil de proteger. Era preciso passar por ruelas estreitas antes de se chegar aos caixões dos três curdos assassinados a tiros em frente ao Centro Cultural Ahmet-Kaya às vésperas do Natal.

O local também foi escolhido por abrigar uma grande comunidade curda, e onde também foram realizados os funerais dos três ativistas curdos ligados ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), mortos a tiros dentro do Centro de Informações do Curdistão, em Paris, em janeiro de 2013.

Ao meio-dia, os corpos de Abdurrahman Kizil, Mir Perwer, um cantor refugiado político, e Emine Kara, líder do Movimento de Mulheres Curdas na França, abriram caminho meio a uma multidão densa para entrar em um salão alugado para a ocasião.

A vice-prefeita de Villiers-le-Bel, Djida Djallali-Techtach, faz um discurso durante o funeral das três vítimas do ataque na rua d'Enghien, em 3 de janeiro de 2023.
A vice-prefeita de Villiers-le-Bel, Djida Djallali-Techtach, faz um discurso durante o funeral das três vítimas do ataque na rua d'Enghien, em 3 de janeiro de 2023. AFP - BERTRAND GUAY

Envoltos nas bandeiras do PKK e de Rojava, território curdo da Síria, os caixões entraram cercados por uma guarda de honra, saudados com lágrimas e gritos de “mártires são eternos!”.

“Fazem de tudo para nos esmagar”

Impossibilitados de entrar na sala onde os corpos estão expostos em meio a coroas fúnebres e sob um retrato de Abdullah Öcalan, o líder histórico do PKK preso na Turquia, milhares de pessoas acompanharam a cerimônia em telas gigantes instaladas em um estacionamento.

"Estamos aqui porque é nosso dever, foi a luta de nossos pais por muitos anos, e que devemos continuar", declarou à AFP uma mulher de 30 anos que não quis se identificar por razões de segurança. “Temos a impressão de que fazem de tudo para nos esmagar, seja aqui, seja na Turquia”, lamentou essa moradora de Villiers-le-Bel, que compareceu ao funeral com a família.

O atirador, William Malet, foi desarmado durante o ataque e preso pouco depois. Perante os investigadores, o homem, de 69 anos, já conhecido dos tribunais por atos de violência e que acabara de deixar a prisão preventiva para outro processo, manifestou um "ódio patológico aos estrangeiros" e declarou querer "assassinar migrantes", de acordo com a promotoria de Paris.

Indiciado em 26 de dezembro por homicídio e tentativa de homicídio por motivos de raça, etnia, nação ou religião, este condutor de trens aposentado foi preso imediatamente.

“Não nos abandone”

Mas muitos curdos se recusam a acreditar na versão de um atirador com motivações racistas e denunciam um ato "terrorista", envolvendo a Turquia. O caso traz à memória o triplo assassinato dos três ativistas curdos há quase uma década, no 10º distrito de Paris, incidente em que os serviços de inteligência de Ancara são suspeitos.

Familiares e pessoas próximas das vítimas também compareceram à cerimônia, e compartilharam com os outros presentes a trajetória de cada um deles: sua vida na França, seus projetos, mas, acima de tudo, seu compromisso com toda uma comunidade.

Toda a cerimônia foi fortemente protegida por um grande destacamento policial, além da presença de forças de ordem acionadas pelos organizadores do evento. Segurança, inclusive, foi uma das palavras de ordem durante as homenagens. Os curdos presentes pediam ao Estado francês que “não os abandone”. A grande maioria deles diz ter fugido da Turquia para a França para se sentir segura, e recusa que ataques como esse mudem essa expectativa.

Uma “marcha branca” também será realizada na quarta-feira (4), na rua d'Enghien, local da tragédia. E uma grande manifestação da comunidade curda, planejada para o 10° aniversário da morte dos militantes do PKK, partirá sábado (7) da Gare du Nord, em Paris.

(Com informações da AFP)

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