Acessar o conteúdo principal

Crise na Igreja Católica francesa: religiosos pedem reformas urgentes ou fiéis vão desaparecer

Abusos, mentiras e religião. A manchete do jornal progressista Libération desta terça-feira (27) deixa claro "É uma catástrofe para os católicos". O jornal destaca revelações de um novo relatório sobre violências sexuais dentro da igreja, nas dioceses de Créteil, Bordeaux e Estrasburgo. Os religiosos pedem reformas urgentes, mas a Igreja é acusada de inação, ampliando o descontentamento dos fiéis. 

Comissão independente publica relatório sobre o abuso sexual praticado por autoridades da Igreja
Comissão independente publica relatório sobre o abuso sexual praticado por autoridades da Igreja AP - Andrew Medichini
Publicidade

O jornal católico La Croix também traz um caso de abuso sexual na capa: um padre esloveno que abusava de religiosas usando, para isso, uma "teologia divergente" que justificava as violências sexuais.

Entre o exame de consciência após o relatório 'Sauvé' (Salvo, em tradução livre) e o choque causado pelas revelações sobre vários bispos, a comunidade pede respostas claras. Crescem iniciativas para reformar a igreja a fim de conter a fuga de fiéis e sacerdotes, escreve Libération.

A crise de confiança poucas vezes foi tão forte no catolicismo francês, atingindo até os mais antigos e conservadoras dos fiéis. Esta nova crise, explica Libé, estourou em meados de outubro e enfraquece ainda mais uma instituição já abalada.

Sem ter se recuperado do relatório da Comissão Independente sobre Abuso Sexual na Igreja (Ciase), publicado em  2021, que estimou em 330 mil o número de vítimas de violência sexual em instituições católicas desde a década de 1950 e que descreveu o caráter sistêmico desta violência, a comunidade católica está estupefata com as novas revelações de condutas "repreensíveis" e de "gestos inapropriados" do relatório Sauvé.

Strip-confissões

Libération destaca, por exemplo, o caso das "strip-confissões" ou "confissões despidas”, como o jornal católico Golias escreveu em seu site. Um padre em Créteil, na grande Paris, dizia ao penitente para tirar uma peça de roupa a cada pecado confessado. E isso em frente ao sacrário que contém as hóstias consagradas durante a Eucaristia. O evento aconteceu nos anos 1990, mas só chegou ao conhecimento do público este ano. 

Estas e outras revelações deram origem à campanha a #abramosnossaslixeiras nas redes sociais. A campanha tenta pressionar a hierarquia católica para que esta se explique sobre os últimos acontecimentos. Tal mobilização, desafiando a autoridade, é muito rara no catolicismo francês, que está estagnado há anos.

Libération compara a crise da Igreja francesa à que a alemã vive desde 2019. Entre as propostas de reforma que estão em debate está o fim do celibato obrigatório para padres, a ordenação de mulheres, um exercício de poder diferente dentro da instituição. O Vaticano, que vê isso com maus olhos, chamou várias vezes a atenção do episcopado alemão e teme que a França se contagie com este espírito de rebeldia.

Contudo, a inação pode ser a pior das respostas para essa crise. "Se a Igreja Católica não se reformar, muitos fiéis continuarão a abandoná-la silenciosamente", teme um religioso entrevistado pelo Libération.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.