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Igreja Católica francesa quer indenizar vítimas de abusos sexuais

A Igreja Católica francesa oferecerá uma compensação financeira aos milhares de menores que foram vítimas de abusos sexuais cometidos por membros do clero desde os anos 1950. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (26) pela Conferência Episcopal. 

Cerca de 10.000 possíveis vítimas de pedofilia na Igreja na França desde 1950
Cerca de 10.000 possíveis vítimas de pedofilia na Igreja na França desde 1950 AFP - PHILIPPE HUGUEN
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"A Igreja quer assumir sua responsabilidade diante da sociedade, pedindo perdão por seus crimes e falhas", anunciaram os bispos franceses em uma entrevista coletiva, explicando que essa "contribuição econômica" será financiada por um "fundo" especial determinado por um "organismo independente que se encarregará de examinar as solicitações". 

A contribuição não é "nem uma indenização, nem uma reparação", disse o presidente da Conferência Episcopal, Eric de Moulins-Beaufort, após a plenária com 120 bispos que votaram onze resoluções, que incluem a luta contra a pedofilia. Durante a reunião, os bispos também decidiram criar uma Jornada de Orações todos os anos, em memória às vítimas, como já havia solicitado o Vaticano.

A igreja também pretende criar, se possível em Lourdes, no sudoeste da França, a instalação de um memorial. Os bispos também decidiram formar uma "equipe nacional de ouvintes" e criar um "tribunal penal canônico nacional".

Ao menos 10.000 menores foram vítimas de abusos sexuais cometidos dentro do clero na França nos últimos 70 anos, segundo informou no início do mês uma comissão independente encarregada de investigar esses acontecimentos.

Escândalo em Colônia

Um relatório divulgado no último dia 18 de março mostrou que centenas de menores sofreram abuso sexual na diocese de Colônia, a maior da Alemanha, e autoridades religiosas esconderam os casos, revela um relatório divulgado na quinta-feira (25), que levou um prelado a renunciar.

O aguardado documento de 800 páginas sobre a diocese de Colônia identificou 202 responsáveis por agressão sexual e 314 vítimas entre 1975 e 2018, afirmou à imprensa o advogado Bjoern Gercke, que fez a investigação a pedido da igreja. "Mais da metade das vítimas eram crianças menores de 14 anos."

Cerca de 70% dos supostos autores eram membros do clero e os demais, laicos, detalhou Gercke. Se estes últimos foram punidos, o mesmo não aconteceu com os sacerdotes, assinalou. O relatório, no entanto, não pôde identificar nenhuma falta contra o cardeal Rainer Maria Woelki.   

"A extensão dos abusos e violações por parte dos líderes religiosos", conforme descrito no relatório, "é assustadora", reagiu o comissário do governo para questões de agressão sexual, Johannes-Wilhelm Rörig. Woelki provocou um escândalo no ano passado ao se recusar a tornar público um primeiro relatório sobre o período de 1975 a 2018, alegando infrações e problemas de proteção de dados.

Mais de 3.677 vítimas

Em 2018, um relatório encomendado pela Igreja revelou que 3.677 crianças ou adolescentes foram vítimas de abuso sexual por mais de 1.000 membros do clero desde 1946. A maioria dos responsáveis por esses atos não foi punida. Sem acesso a todos os arquivos, os autores do estudo alertaram que o número de vítimas provavelmente era maior.

As revelações, semelhantes a outros escândalos em países como Austrália, Chile, França, Irlanda e Estados Unidos, levaram o cardeal Reinhard Marx, um reformador, a pedir perdão em nome da Igreja Católica alemã.

Os bispos estabeleceram uma indenização - julgada insuficiente pelas vítimas - que "poderia ser de até € 50 mil" por pessoa, contra € 5 mil até agora. Além disso, cada diocese iniciou uma investigação local sob a supervisão de uma comissão conjunta.

O caso de Colônia também afeta as possibilidades de modernização da Igreja atualmente em discussão no âmbito de um sínodo. O Papa Francisco adotou medidas para combater o silêncio em torno dos abusos de menores na Igreja. Em 2019, aprovou uma medida histórica que exige que o clero denuncie qualquer caso de abuso sexual.

(Com informações da AFP)

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