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Estoque de lanternas e economia: franceses se preparam para inverno com medo de cortes de energia

Ainda era verão na França quando o presidente reeleito, Emmanuel Macron, fez um apelo à população pelo consumo responsável de energia. Com a guerra na Ucrânia, o risco que atormentava a Europa era de falta de gás. No entanto, ao longo dos meses, outro problema pegou o país desprevenido: o número recorde de reatores nucleares em manutenção. Sob o risco de enfrentar cortes de energia em pleno inverno, franceses reduzem seu consumo e fazem estoque de lanternas e geradores à bateria.

O governo francês criou um aplicativo, o Ecowatt, para informar diariamente a população sobre as regiões com tensão no abastecimento e que correm risco de cortes de energia.
O governo francês criou um aplicativo, o Ecowatt, para informar diariamente a população sobre as regiões com tensão no abastecimento e que correm risco de cortes de energia. AFP - DAMIEN MEYER
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Nos últimos meses, as principais cidades do país adotaram medidas para reduzir seu gasto de eletricidade. Redução da iluminação pública, proibição de aquecimento dos comércios em área aberta, diminuição das temperaturas dentro dos prédios públicos. Mas nada disso parecia suficiente.

No início de dezembro, veio o alerta mais grave: a empresa responsável pela gestão da rede de eletricidade francesa, a RTE, anunciou o alto risco de cortes de energia no país em janeiro, segundo mês de um inverno que já começou com frequentes temperaturas negativas.

Desde então, os planos para se prevenir contra a falta de energia tomaram as conversas do país e a cabeça dos franceses.

Alguns se equipam com material de acampamento para garantir o aquecimento em casa, enquanto empresários investem até € 20 mil na compra de geradores.

A loja Vieux Campeur, no centro de Paris, tem recebido pessoas à procura de fogões de camping, geradores ou mesmo lanternas para guardarem em casa em caso de corte de energia, conta o gerente da loja, Bastien Crouzillac

"Estamos percebendo uma nova clientela que está bastante preocupada em ficar sem eletricidade. Para se tranquilizarem, eles querem ter este tipo de produto em casa", explica ele.

Nos corredores da loja, Philippe, um aposentado, procurava materiais para refazer seu estoque de equipamentos de acampamento "em caso de problema". "Pode ser útil na vida cotidiana se houver um corte de energia", argumentou.

As empresas também têm procurado maneiras de garantir que suas atividades não serão interrompidas. Não por um acaso, o fornecedor de geradores Gelec Energie viu suas vendas triplicarem este ano.

Guillaume Ordronneau, gerente de um supermercado, gastou quase € 20 mil em um desses geradores. O investimento vale a pena, ele acredita. Após duas horas sem eletricidade, ele teria que jogar fora todos os produtos armazenados.

"Se eu tiver que jogar fora, são € 45 mil em mercadorias em um único corte de energia", declarou ele à Reuters.

Avisos pelo celular

Desde o início da crise, o governo francês criou um aplicativo de celular para informar a população sobre as regiões com maior consumo de eletricidade e sob risco de corte de energia. Além disso, as empresas distribuidoras montaram programas para motivar seus clientes a reduzirem o consumo. Entre as recomendações, que o sistema de calefação não ultrapasse os 19°C dentro de casa. 

Na semana passada, com temperaturas de até -6°C em Paris, milhares de franceses receberam por seus celulares o pedido para diminuir o consumo de eletricidade durante alguns dias, para evitar picos de demanda que poderiam colocar o sistema de abastecimento em pane.

Toda esse esforço parece ter surtido efeito. Nesta terça-feira (20), a empresa de gestão energética deu previsões mais otimistas. O risco de tensões para a rede elétrica em janeiro agora parece ser "médio", de acordo com a última análise. "A França está se aproximando do meio do inverno em uma situação mais favorável do que no início do outono".

E isso, ainda que 16 dos 56 reatores do país permaneçam inoperantes até hoje, provocando o nível mais baixo de produção nuclear dos últimos 30 anos. 

A previsão otimista se deve principalmente à redução do consumo: nas últimas quatro semanas, os franceses gastaram 9% menos eletricidade que a média entre 2014 e 2019.

Para Thomas Veyrenc, diretor executivo da RTE, a França tem como "evitar apagões neste inverno". Desde que continue a consumir menos eletricidade.

(Com informações da Reuters e da AFP)

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