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Imprensa francesa entrevista exilados do governo de extrema direita de Bolsonaro

A uma semana do segundo turno da aleição presidencial no Brasil, a imprensa francesa se debruça sobre o duelo entre Lula e Bolsonaro. Enquanto o La Croix deste domingo (23) faz uma análise da reta final da campanha, dizendo que ela está “atolada” e que os candidatos apenas trocam insultos, em vez de propostas, o Libération traz uma reportagem sobre os exilados do Brasil de Bolsonaro.

Marcia Tiburi, entrevistada pelo Libération sobre o seu exílio, posa em frente a uma das obras da sua exposição de artes plásticas Terradorada, apresentada em Paris.
Marcia Tiburi, entrevistada pelo Libération sobre o seu exílio, posa em frente a uma das obras da sua exposição de artes plásticas Terradorada, apresentada em Paris. © ©Paloma Varón/RFI
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O debate do dia 16 de outubro, diz La Croix, mostrou apenas uma série de ataques pessoais, não de propostas. Lula acusou seu oponente de “negligência” durante a pandemia, mas sem ir a fundo no problema caso. O chefe de Estado respondeu sobre o tema da corrupção, considerando que Lula era "uma vergonha nacional".

É verdade que tudo se opõe aos dois finalistas, analisa La Croix: “à direita, um ex-soldado, saudoso da ditadura, apoiado pelos evangélicos; à esquerda, um ex-trabalhador, figura da luta contra os militares, próximo da esquerda católica". Mas o jornal achou um único ponto comum entre os dois: a rejeição que eles provocam. Quase 50% dos brasileiros dizem que nunca votarão em Jair Bolsonaro, sejam quais forem as circunstâncias, e 42% dizem ser anti-Lula.

Para o jornalista que assina a análise, Gilles Biassette, mesmo que Lula tenha mais chances de ser eleito no dia 30, segundo as pesquisas recentes, "ninguém sairá grandioso desta campanha". 

Insultos, incitações ao estupro e ameaças de morte

Já o jornal Libération, em uma grande reportagem do jornalsita Julien Lecot, entrevista pessoas que deixaram o Brasil após a eleição de Bolsonaro por terem sofrido ameaças - inclusive de morte. 

Uma das entrevistadas, a geógrafa e professora da prestigiada Universidade de São Paulo (USP) Larissa Bombardi publicou, no final de 2017, um atlas sobre o uso de agrotóxicos no Brasil e suas consequências para os consumidores da União Europeia (UE). Um trabalho substancial, fruto de vários anos de pesquisa, diz Libération.

Quando seu trabalho foi traduzido para o inglês em meados de 2019 e distribuído na Europa, Larissa Bombardi ganhou fama e também as primeiras ameaças. Após aparições na mídia, ela recebeu intimidações por e-mail de pessoas que alegavam trabalhar na indústria de agrotóxicos. Essas ameaças aumentam quando o chefe de uma rede de supermercados sueca pediu um boicote aos produtos agrícolas brasileiros por causa do uso generalizado de agrotóxicos, a ponto de sua universidade se oferecer para protegê-la em seu local de trabalho.

Ao mesmo tempo, sua pesquisa foi atacada por figuras influentes do agronegócio e lhe disseram que estava sendo observada de perto pelo Ministério da Agricultura. Durante o verão de 2020, sua casa foi roubada por três homens enquanto ela estava lá com sua mãe. As duas mulheres foram trancadas no banheiro e ameaçadas de morte. Os ladrões só levaram um computador antigo contendo o trabalho da pesquisadora e o carro da família, que abandonam algumas centenas de metros adiante.

"Provavelmente fui ingênua, mas como só usei dados públicos e oficiais, não achei que minha pesquisa me causaria problemas", disse Larissa Bombard, exilada na Bélgica desde 2021, ao Libération, que destaca que o caso de Larissa não é isolado. 

"Nos últimos anos, vários brasileiros foram forçados ao exílio porque sentiram que estavam em perigo em seu próprio país. O discurso e a política de Jair Bolsonaro têm muito a ver com isso, ele que repetidamente atacou verbalmente a esquerda e, em geral, todos os ativistas e progressistas. Durante a campanha de 2018, prometeu assim enviar 'para o exterior' ou 'para a prisão' os 'vermelhos'”, escreve o jornal francês, que destaca um discurso de Bolsonaro, naquele ano, em que ele dizia, sobre os opositores: “Serão banidos da nossa pátria. Será uma limpeza como nunca antes na história do Brasil".

Da fala ao ato

"Bolsonaro conseguiu criar uma espécie de terror na escala da sociedade brasileira, que, no entanto, havia começado alguns anos antes de ele chegar ao poder", denuncia ao Libération a filósofa Márcia Tiburi, que deixou o Brasil no final de 2018 e agora vive na França. Durante seus últimos anos passados ​​em seu país natal, Tiburi recebeu ameaças diárias.

O repórter Julien Lecot destaca que Tiburi, assim como o ex-deputado federal Jean Wyllys, foi uma das primeiras exiladas do bolsonarismo e frisa que mesmo a milhares de quilômetros do Brasil, as ameaças contra eles continuam e aumentaram consideravelmente durante a campanha presidencial de 2022.

Desde o lançamento oficial da campanha presidencial, em agosto, as ONGs Justiça Global e Terra de direitos contabilizam uma média de dois episódios de violência por dia no Brasil contra eleitos, candidatos ou outras pessoas que exerçam ou tenham exercido funções relacionadas à política. Esta violência "visa mais partidos de esquerda ou centro-esquerda, ou eleitos comprometidos com a defesa dos direitos humanos, a comunidade LGBTQIA+ ou a luta contra o racismo”, sublinharam as organizações no início de outubro, apontando para um número de episódios violentos multiplicado por cinco em comparação a 2018.

Dentre os vários depoimentos recolhidos pelo jornal está o da psicanalista Renata, que mora na França na França desde 2019 e afirma que, por causa de Bolsonaro, tem "vergonha de ser brasileira". 

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