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Entenda por que resposta do técnico do PSG sobre meio de transporte do time gerou indignação na França

O técnico do Paris-Saint-Germain Christophe Galtier causou indignação da classe política francesa ao ironizar uma pergunta sobre a escolha do time por um meio de transporte poluidor para um jogo em Nantes. O PSG alugou um avião privado para jogar em uma cidade que fica a 400km de Paris.

O jogador do PSG Kylian Mbappe, na esquerda, e o técnico Christophe Galtier, na coletiva no estádio Parque dos Príncipes, em Paris, em 5 de setembro de 2022.
O jogador do PSG Kylian Mbappe, na esquerda, e o técnico Christophe Galtier, na coletiva no estádio Parque dos Príncipes, em Paris, em 5 de setembro de 2022. AP - Thibault Camus
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Tudo começou com um vídeo postado nas redes sociais pelo meio campo Marco Veratti, dentro do Boeing 737 alugado pelo PSG, a caminho de Nantes, para a 6ª rodada do campeonato francês.

O diretor da SNCF, a empresa de trens francesa, Alain Krakovitch, respondeu ao vídeo, oferecendo um transporte alternativo à equipe. “Paris-Nantes fica a menos de duas horas em TGV (trem de alta velocidade). Eu renovo nossa proposta de oferta de um TGV adaptado à suas necessidades específicas, de acordo com nossos interesses comuns: segurança, rapidez, serviços e eco-mobilidade”.

Na noite de segunda-feira (5), em uma coletiva com a imprensa para falar sobre o jogo da Liga de Campeões com o Juventos, nesta terça-feira (6), o atacante Kylian Mbappé e Galtier foram questionados sobre a mensagem de Krakovitch e cogitavam mudar o meio de transporte usado pelo time.

O atacante riu e o técnico respondeu, “eu já imaginava que iríamos ouvir essa questão. Para ser honesto com vocês, hoje de manhã falamos com a empresa que organiza nossas viagens. Estamos vendo se podemos viajar em wind car”.

Reação da classe política

A resposta do técnico e a reação do jogador, indiferentes aos danos ambientais causados pelo meio de transporte escolhido pelo time, geraram uma enxurrada de respostas indignadas vindas da classe política e nas redes sociais.

“Eu acho que é importante que eles entendam em que mundo estamos. Que eles tomem consciência que existe uma crise climática, que não é mais uma hipótese para amanhã, mas uma realidade hoje”, disse a primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, a jornalistas durante um evento em Paris, nesta terça-feira.

Já a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, tuitou: “Mas estão loucos de responder assim??? Vamos acordar gente???”.

 

Em entrevista à France Info, a climatóloga Valérie Masson-Delmotte, membro do Alto Conselho pelo Clima, equipe de aconselhamento do governo francês sobre mudanças climáticas, disse que um jogador como Mbappé poderia, ao contrário, ser um embaixador da causa climática.

“As declarações que ele faz e seus gestos terão uma influencia amplamente superior a tudo o que os cientistas dizem ou fazem porque ele faz sonhar e inspira várias pessoas”, disse. “E muitos cientistas estariam felizes em trocar ideias com os jogadores do PSG e outros para sensibilizar e compartilhar conhecimentos”, completou.

Por que a polêmica?

Mas por que a polêmica em torno do meio de transporte do PSG?

A indignação é sobretudo pela poluição gerada pelo meio de transporte escolhido pelo clube, o avião, enquanto poderia ter optado pelo trem, que produz aproximadamente 100 vezes menos CO2 para o mesmo trajeto e número de pessoas.

Na Europa, em geral, e na França, em particular, aumenta a conscientização sobre as emissões de gases do efeito estufa dos aviões, impulsionada por movimentos como flight shame (vergonha de voar) – movimento social anti-transporte aéreo com o objetivo de reduzir o impacto ambiental causado pela aviação – nascido na Suécia.

As contas de Instagram do tipo fly tracking, que informam sobre as emissões de CO2 de aviões de grandes fortunas nas redes sociais, estiveram na origem de um recente pedido de proibição de voos privados do grupo ecologista no Parlamento.

Difícil de justificar a escolha do avião

Em um país com um amplo sistema ferroviário, regularmente utilizado pelo presidente Emmanuel Macron em suas viagens dentro e fora do país, e outros membros do governo, é difícil justificar a escolha do clube.

O PSG alega que enfrenta “barreiras logísticas e de segurança”. “Nós estudamos a cada deslocamento a melhor possibilidade observando diversos critérios (custo, tempo, segurança, ordem pública, hora do dia, lugar do jogo, acessibilidade ao estádio e a proteção do meio ambiente)”.

Na noite de segunda-feira, o PSG informou à Radio France que negocia há meses com a SNCF. “É um tema que levamos muito a sério. Temos por volta de 25 jogos fora de Paris nesta temporada”.

O PSG também lembrou que utiliza o ônibus como meio de transporte para cidades próximas. Mas, de acordo com a Liga de futebol profissional francesa, durante a temporada 2019-2020 do campeonato francês, 65% dos trajetos foram feitos em avião, 31% em ônibus e 4% em trem.

Em outros países como Itália, Espanha e Inglaterra, algumas grandes equipes usam o trem como meio de transporte. Este é  o caso de clubes como o Juventus Turin ou o AS Roma. Isso também acontece em outros esportes. A SNCF é inclusive patrocinadora Copa do Mundo de Rugby da França, em 2023, e deve garantir o transporte de todos os times.

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