Polícia usa gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes antivacinas de “comboio da liberdade” em Paris
A polícia francesa dispersou, neste sábado (12), os manifestantes que participavam nas caravanas contra as restrições anticovid na Avenida Champs Elysées, em Paris. Milhares de opositores ao passaparte vacinal, do chamado “comboio da liberdade”, chegaram na capital francesa vindos de toda França e se juntaram aos protestos contrários às restrições sanitárias, que vêm ocorrendo há meses aos sábado.
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Por volta das 14h locais, uma centena de veículos conseguiu chegar até a célebre avenida, com bandeiras da França e gritos de “liberdade”, causando bloqueios. Para dispersá-los, a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo, em cenas que lembravam os confrontos de 2018 e 2019 durante o movimento dos “coletes amarelos”.
As forças de seguraça retiraram os manifestantes que cercavam o Arco do Triunfo e dispersaram os participantes até os jardins que se encontram no lado oposto da avenida. Segundo a polícia, 337 pessoas foram multadas por “participar de uma manifestação não autorizada”.
Um dos líderes do movimento dos “coletes amarelos” e apoiador ativo do “comboio da liberdade”, Jérome Rodrigues, foi detido nas proximidades do palácio do Eliseu, residência do presidente, de acordo com a polícia.
Rodrigues disse em redes sociais que era um dos organizadores das caravanas contra as medidas sanitárias.
Rede de solidariedade
Muitos motoristas dirigiram dois ou três dias para chegar a Paris, em camping-cars e vans, e acamparam na sexta-feira (11) às portas da capital, onde foram acolhidos por militantes anti-vacina.
"Faz mais de um ano que estamos na rua para defender a liberdade do povo francês, para se opor a todas as medidas anti-democráticas que são feitas sob pretexto de covid-19, para defender a liberdade de circulação, a liberdade de ir em restaurantes, em bares e recusar o 'apartheid' sob pretexto sanitário que está sendo aplicado”, disse em entrevista à RFI o militante Eric Richermoz. De acordo com ele, uma rede de solidariedade foi organizada em Paris para acolher os manifestantes.
“Aqui nós acolhemos as pessoas que vêm de toda a França. Não só as pessoas da caravana. Nós montamos uma rede de solidariedade para permitir que as pessoas que vêm de muito longe sejam hospedadas e tenham comida”, diz.
“Chegamos sexta-feira às 17h em Paris, igual a um cavalo de Tróia. Ficamos invisíveis, queríamos nos misturar com a massa. Eu sou ‘colete amarelo’, mas tem muitos que se manifestam pela primeira vez”, disse Laura, de 57 anos, monitora de auto-escola em Seine et Marne, na grande Paris.
Campanha
As manifestações contra as medidas sanitárias acabaram invadindo a campanha para as presidenciais de abril.
A candidata de extrema direita Marine Le Pen criticou o presidente Emmanuel Macron. “Ele começa sua campanha com veículos blindados”, disse fazendo referência ao forte esquema de segurança mobilizado contra as manifestações. “Na verdade, parece com seu mandato. Um mandato de caos, de desordem e de conflito, de divisão dos franceses”, acrescentou.
À esquerda, a candidata socialista e prefeita de Paris, Anne Hidalgo, preferiu defender “a firmeza” e a “ordem” na capital.
Já a equipe de campanha da candidata de direita Valérie Pécresse criticou abertamente os “comboios da liberdade”, que “não deveriam se chamar assim porque o objetivo é bloquear Paris.”
Mas o sociólogo Michel Wieviorka, entrevistado pela RFI disse que não acredita que o movimento perturbe as eleições. Para ele, a “característica híbrida” acaba enfraquecendo as manifestações. “Não são pelo passe sanitário, que consideram uma medida liberticida, e são por temas temas sociais. Mas essa mistura não é harmoniosa. Não podemos colocar em oposição pessoas que são contra a vacinação, o passe sanitário, e de outro lado pessoas que não se preocupam com medidas sociais e políticas.”
Para ele, é verdade que desde que o momento dos atentados de 13 de novembro “vivemos um momento em que as liberdades estão mais restritas. Mas não podemos dizer que as medidas (sanitárias) são incompreensíveis”, diz. “Elas tem a ver com uma política de saúde pública, uma política pra proteger a população”, conclui.
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