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EUA pedem fim protestos de caminhoneiros contra restrições sanitárias no Canadá

O governo americano pediu, nesta quinta-feira (10), que o Canadá coloque um fim nos protestos dos caminhoneiros contra as restrições anticovid-19 que bloqueiam três passagens de fronteira com o país. Os Estados Unidos também incentivaram a França, a Bélgica e a Nova Zelândia a impedirem os protestos, que estão sendo chamados de "comboio da liberdade."

Washington pede intervenção de Trudeau para encerrar bloqueios de caminhoneiros no Canadá. Na foto,  protesto contra as restrições da COVID-19 continua em Ottawa, na quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022.
Washington pede intervenção de Trudeau para encerrar bloqueios de caminhoneiros no Canadá. Na foto, protesto contra as restrições da COVID-19 continua em Ottawa, na quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022. AP - Justin Tang
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Quatro dias após o bloqueio da ponte Ambassador, que liga a província de Ontário, no Canadá, ao estado de Detroit, nos Estados Unidos, a passagem de Emerson, que liga Manitoba à Dakota do Norte, também se tornou alvo dos manifestantes canadenses."Um protesto que envolve grande quantidade de veículos e equipamentos agrícolas bloqueia o porto de entrada de Emerson", detalhou a polícia de Manitoba em sua conta no Twitter.

Uma terceira passagem, situada na província ocidental de Alberta, também esteve bloqueada durante dias por caminhões e manifestantes, liderados por caminhoneiros que fazem transporte de carga. Eles estão nas ruas há duas semanas e o conflito atinge principalmente a indústria automotiva, dos dois lados da fronteira.

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, voltou a pedir fim das manifestações. "Está na hora disso acabar, porque prejudica os canadenses", afirmou, garantindo que trabalha com as províncias para sair do impasse.

Manifestantes bloqueiam estradas na fronteira com os Estados Unidos, em Emerson, em Manitoba.
Manifestantes bloqueiam estradas na fronteira com os Estados Unidos, em Emerson, em Manitoba. AP - JOHN WOODS

Washington pediu que o Canadá use sua autoridade federal para acabar com os protestos e ofereceu "plena ajuda", informou a Casa Branca nesta quinta-feira (10), garantindo que a administração Biden está "mobilizada 24 horas por dia para acabar" com a crise.

Considerando que a situação representa uma "crise nacional", o prefeito da cidade de Windsor, Drew Dilkens, anunciou sua intenção de "expulsar" os manifestantes "para permitir a movimentação segura e eficiente de mercadorias através da fronteira", caso a Justiça permitir. "Os danos econômicos que esta ocupação causa ao comércio internacional não podem continuar e devem acabar", acrescentou.

"O que nós queremos, é o fim de todas as restrições. Não pedimos nada que já não tínhamos antes. Queremos apenas nossa liberdade, é tudo",reagiu um manifestante em Windsor, em entrevista ao repórter da RFI, Guillaume Naudin, que foi até a cidade acompanhar os protestos.

Protestos contra restrições sanitárias nas ruas de Otawa.
Protestos contra restrições sanitárias nas ruas de Otawa. AP - Adrian Wyld

Impacto na economia

Na quarta-feira, a polícia canadense ameaçou deter os manifestantes que se uniram ao bloqueio da ponte Ambassador em solidariedade às centenas de caminhões que bloqueiam há duas semanas a capital, Ottawa.

O chamado "Comboio da Liberdade" começou em janeiro no oeste do Canadá, conduzido por caminhoneiros que rejeitam a vacinação ou testes obrigatórios para cruzar a fronteira com os Estados Unidos.

Mas o movimento virou um protesto mais amplo contra todas as medidas sanitárias aplicadas contra a Covid-19 e, em alguns setores, contra o governo de Trudeau.

Em Washington, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que as autoridades americanas estavam em "contato direto" com as agências de fronteira canadenses devido ao bloqueio da ponte e advertiu sobre o "risco para as cadeias de abastecimento" e a economia dos dois países.

Mapa dos locais onde ocorrem os protestos no Canadá
Mapa dos locais onde ocorrem os protestos no Canadá Jonathan WALTER AFP

Mais de 40.000 passageiros, turistas e caminhoneiros carregando mercadorias no valor de US$ 323 milhões cruzam a ponte diariamente. Dezenas de câmaras de comércio e associações industriais no Canadá e nos Estados Unidos exigiram que a ponte fosse liberada. "À medida que nossas economias emergem dos impactos da pandemia, não podemos permitir que nenhum grupo prejudique o comércio na fronteira", disseram.

O presidente da Associação Canadense de Fabricantes de Veículos, Brian Kingston, alertou que o bloqueio da ponte Ambassador estava "ameaçando as frágeis cadeias de abastecimento, que já estavam sob pressão". As autoridades destacaram que 5 mil trabalhadores em Windsor foram enviados mais cedo para casa na terça-feira devido ao bloqueio e que várias montadoras estão se preparando para fechar porque as peças não estão sendo entregues.

Manifestantes de Bayonne, no sudoeste da França, viajam a Paris para participar de protesto, proibido pela polícia
Manifestantes de Bayonne, no sudoeste da França, viajam a Paris para participar de protesto, proibido pela polícia AP - Bob Edme

Prostestos ganham outros países

O movimento dos caminhoneiros se espalhou para outros países, incluindo a Nova Zelândia, França e Bélgica.

Na França, milhares de manifestantes inspirados nos caminhoneiros canadenses planejam ir a Paris na noite de sexta-feira. Alguns estão dispostos a seguir para Bruxelas na segunda-feira. Vários comboios partiram com destino à capital francesa de cidades como Nice, Baiona e Perpignan.

A polícia de Paris anunciou que vai aplicar "um dispositivo específico" de sexta para a segunda-feira "para impedir o bloqueio" da capital francesa. Para isso, determinou a mobilização de forças em estradas e rodovias e preveniu que quem tentar obstruir as vias públicas será multado ou detido.

Na capital belga, a prefeitura de Bruxelas proibiu oficialmente nesta quinta-feira a realização da manifestação "Comboios da Liberdade" prevista para o fim de semana com um bloqueio na cidade em protesto contra as restrições sanitárias e determinou medidas especiais.

Nesta quinta, no centro de Wellington, policiais e manifestantes antivacina se enfrentaram em frente ao Parlamento neozelandês. Os confrontos acabaram e violência e terminaram com mais de cem detidos.

Caminhoneiros tomaram as ruas de Ottawa.
Caminhoneiros tomaram as ruas de Ottawa. Dave Chan AFP

Instrumentalização política

O porta-voz do governo francês, Gabriel Attal, alertou nesta sexta-feira (11) contra a tentativa de "instrumentalização política" dos "Comboios da liberdade". Na França, milhares de opositores ao passaporte sanitário devem chegar à capital, apesar da proibição da Secretaria de Segurança Pública. 

"Há uma instrumentalização em torno do cansaço e do desencorajamento dos franceses em relação à epidemia", declou Attal à rádio francesa Europe 1.

"Existem políticos que buscam capitalizar politicamente isso lançando movimentos", declarou, citando Florian Philippot, deputado no Parlamento Europeu e ex-integrante do partido de extrema direita Reunião Nacional, de Marine Le Pen. Ele também é candidato às eleições presidenciais francesas pelo partido que fundou, "Os Patriotas". 

"Não é um comboio da liberdade, é um comboio da vergonha e do egoísmo. Não são patriotas, são irresponsáveis", disse Clément Beaune, secretário de Estado para as Relações Europeias. Para ele, "trata-se de um novo episódio protagonizado pelos antivacinas, que em alguns casos são complotistas que acreditam que a vacina serve para inserir um chip no braço das pessoas."

(RFI e AFP)

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