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França: Quadrilhas organizadas e amadores movimentam indústria de falsos passaportes sanitários

O diário Le Monde desta terça-feira (21) traz uma reportagem sobre a movimentada indústria dos falsos passaportes sanitários na França, mostrando os diferentes métodos e perfis de infratores que alimentam esse novo tipo de tráfico.

Um garçon verifica o passe sanitário de uma cliente em um café na France.
Um garçon verifica o passe sanitário de uma cliente em um café na France. AP - Bob Edme
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O artigo assinado por Lucie Soullier afirma que há quem altere seu próprio código QR e o venda online, quem finge imunizar um amigo na clínica onde trabalha, ou ainda aquele que hackeia diretamente o site dos serviços de saúde francês. Há quem explique aos investigadores que o fizeram de graça, "por convicção", e quem afirme que era "puro negócio". Há o tráfico de passes sanitários "verdadeiros falsos", que chegam a ser usados, mas há o de passes "totalmente falsos", que são realmente inutilizáveis.

Nas 400 investigações abertas e centenas de detenções enumeradas pelo Ministério do Interior francês, os perfis dos falsificadores e detentores são tão diversos quanto os métodos utilizados. De ações de quadrilhas organizadas a golpes caseiros artesanais, quantas pessoas esse tráfico permitiu ir a restaurantes, ao cinema, trabalhar ou viajar sem vacina ou teste negativo?

Ainda de acordo com o ministério, desde junho já foram descobertos 182 mil falsos passaportes sanitários em circulação. Muito mais, portanto, ainda estaria circulado. No Ministério Público de Nanterre, ao norte da região parisiense, uma investigação judicial aberta em 25 de novembro levou à detecção de milhares de atestações emitidas pelos mesmos falsificadores. "Produção em massa baseada em hacking de computador", afirmou uma fonte legal. Mas muitas investigações revelam atos mais isolados e menos organizados.

O jornal usa o exemplo de uma enfermeira de 55 anos que, “para ajudar” um amigo músico antivacina, o recebeu no centro de vacinação onde trabalha e "fingiu administrar uma primeira dose", em junho.

Se gabou e foi denunciado

Mas como os falsificadores e seus "clientes" são identificados? Nesse caso, o falso vacinado se gabou tanto, que acabou denunciado. Na maioria dos outros casos, são as autoridades de saúde que detectam as inconsistências. Em um outro caso, uma médica faturou a aplicação de quase 2 mil vacinas, embora ela tivesse recebido apenas 530 doses. Ele foi indiciada por falsificação e por fraude a uma organização de saúde, mas também por colocar em risco a vida de outras pessoas.

“Muitos de seus pacientes já apresentaram queixa, explicando que acreditavam estar realmente vacinados”, frisa a procuradoria local.

Mesmo tipo de anomalia foi identificada em um vacinódromo que emitiu mais certificados do que vacinas que recebeu. Entre seus quase 140 “clientes” estavam auxiliares de enfermagem, um funcionário de uma casa de repouso, dois auxiliares de farmácia, uma equipe de segurança em hospitais, um policial e até um executivo de uma empresa especializada em desinfecção anti-Covid. Eles compraram seus falsos passes por valores entre € 100 e € 380. A propaganda teria sido feita no boca à boca, mas também por um "anúncio publicitário" no Snapchat.

Para complementar a renda familiar

Foi nessa mesma rede social que um casal, Mohammed M. e Nathalie D., vendeu seus passes "falsos" para “complementar a renda familiar”. Ela já fazia outras vendas pela internet, mas rapidamente os passes falsos passaram a ser o carro-chefe dos seus negócios. “Diziam-me o tempo todo: Não me interessam os outros artigos. Você tem passe? Havia um monte de gente perguntando", conta.

Mohammed M. então começou a emitir passaportes sanitários com seu próprio código QR válido para vender a € 100. Com o sucesso das vendas, o casal acabou pegando o dinheiro sem enviar nada em troca. “Com o tempo, descobrimos que enviar uma falsificação era como enviar nada a eles”, explica Nathalie D. "Vigarista por vigarista...", disse ela, confessando que o pequeno negócio ia "muito bem", com quase € 6 mil euros arrecadados em três meses.

“O caso ilustra a atração por se beneficiar de um mercado nascido da crise da saúde. (…) Vimos as situações dramáticas a que isto pode conduzir ”, insiste em enfatizar o procurador do caso. Em 1º de dezembro, uma mulher de 54 anos morreu de Covid-19 no hospital Raymond-Poincaré em Garches (Hauts-de-Seine), com um passe de saúde falso em seu bolso.

O marido dela apresentou uma queixa contra X. O nome do médico de Nice que consta em seu certificado de vacinação chamou a atenção de diversos promotores, incluindo o de Nice. O médico havia entrado com uma reclamação por roubo de identidade há algumas semanas.

Perdão aos arrependidos

“Ela poderia ter tido um tratamento melhor se tivesse dito que não foi vacinada. Diga ao seu médico, ele não avisará a polícia, temos o sigilo médico", insiste a chefe da unidade de terapia intensiva do hospital, Djillali Annane. O ministro da Saúde, Olivier Véran, e o ministro do Interior, Gérald Darmanin, levantaram a ideia de um estatuto de arrependimento, prometendo aos fraudadores que finalmente desejariam ser vacinados "o abandono da acusação".

"Uma ideia muito boa", disse Carole Ichai, chefe do departamento do Hospital Universitário de Nice, onde 30% dos pacientes da Covid-19 em tratamento intensivo possuem um passe sanitário falso. Um promotor suspira: "Eles precisam explicar como vamos conseguir aplicar isso, porque eu os vejo todos os dias, esses arrependidos."

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