Governo francês foca em crianças e escolas para conter nova onda de Covid-19

O primeiro-ministro francês, Jean Castex, anunciou na segunda-feira (6) novas medidas sanitárias nos estabelecimentos de educação e a possibilidade de estender em breve a vacinação para os menores de 12 anos. Para a imprensa francesa, os novos alvos do governo são, sem dúvida, as crianças e as escolas, para conter o aumento dos novos casos de Covid-19. 

Jornal Le Parisien questiona a estratégia do governo francês nesta nova fase da pandemia de Covid-19, voltada às crianças. © Fotomontagem RFI/ Adriana de Freitas

"Por que tantas medidas voltadas para as crianças que correm menos riscos" de desenvolver uma forma grave da doença?, questiona o jornal Le Parisien. O jornal lembra que o papel dos pequenos na transmissão do vírus no começo da pandemia não era muito claro. Mas nessa quinta onda que atinge a Europa, existe um verdadeiro "perigo jovem": um quarto dos testes positivos na França é registrado entre menores de 15 anos.

Desde a volta às aulas, em setembro, a taxa de incidência nessa parcela da população - a única ainda sem acesso à vacina - não parou de aumentar. São quase 955 casos por 100.000 habitantes, enquanto a taxa de incidência no resto da população é de 430, menos da metade.

Por isso, a França prepara a logística para integrar à campanha de vacinação todas as 6 milhões de crianças entre 5 e 11 anos, a partir de 20 de dezembro. O governo ainda espera o sinal verde da Alta Autoridade de Saúde e do Conselho Nacional de Ética, mas já encomendou doses da vacina Pfizer de uso pediátrico, de acordo com o ministro da Saúde Olivier Véran.

Contaminação entre gerações

Apesar da explosão do número de casos entre as crianças, a doença continua sendo menos grave nesta faixa etária. A grande preocupação do governo francês, de acordo com o Le Parisien, é o risco de contaminação entre gerações, nas famílias, durante as festas de fim de ano.

Outros países como Israel, China e Estados Unidos já ampliaram a vacinação para menores. Enquanto a comunidade médica francesa está cada vez mais convencida desta solução, a Sociedade Francesa de Pediatria é reticente. Para alguns pediatras entrevistados pelo jornal, a Covid-19 continua não sendo uma doença mortal para as crianças, enquanto seria necessário provar que a vacina não acarretaria nenhum risco para os pequenos.

Mas outros especialistas lembram que o perigo começa a não ser mais tão insignificante, principalmente para a faixa etária entre 0 e 9 anos. Atualmente a França tem quinze crianças em UTIs. Desde o começo da pandemia, três menores de idade morreram no país vítimas da Covid-19.

Para o jornal Libération, a cautela do governo também teria a ver com a resistência de muitos pais à ideia de vacinar os filhos. Por isso, aposta em uma campanha voluntária.

Fortalecimento das medidas sanitárias

Além da vacinação, o governo francês fortaleceu as medidas sanitárias nas escolas dos níveis infantil e fundamental, principalmente o uso de máscaras no interior das salas e também nas áreas externas, durante atividades esportivas e recreação.

As novas medidas não agradaram pais e sindicatos de profissionais da educação, de acordo com o jornal Libération, que traz uma entrevista com a presidente de um dos principais sindicatos da categoria na França, Guislaine David. Para ela, as medidas não são suficientes, porque o protocolo não leva em conta o período de incubação do vírus e, para os professores, as mudanças frequentes no protocolo imposto pelo governo as escolas é um verdadeiro "quebra-cabeças".

Para representantes de pais de alunos, é necessário reforçar a estratégia, mas ao mesmo tempo dar meios para que os educadores tratem o problema: com mais salas de aula, distribuição de auto-testes e contratação de mais professores.