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"Presidência da Interpol é troféu para ditadores", denuncia jornal francês

A 89ª Assembleia Geral da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) começou nesta terça-feira (23) em Istambul, na Turquia, marcada por uma controvérsia em torno da escolha do futuro presidente do Comitê Executivo da entidade. O favorito ao cargo, segundo o jornal francês Libération, é o general Ahmed Nasser al-Raisi, dos Emirados Árabes Unidos, um militar acusado de promover detenções arbitrárias e atos de tortura em seu país. 

"A presidência da Interpol, um novo troféu para ditadores" é a manchete de capa do jornal francês Libération nesta terça-feira, 23 de novembro de 2021.
"A presidência da Interpol, um novo troféu para ditadores" é a manchete de capa do jornal francês Libération nesta terça-feira, 23 de novembro de 2021. © Fotomontagem RFI/Adriana de Freitas
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Em sua reportagem de capa, nesta terça-feira, o jornal Libération denuncia a crescente influência de governos autoritários na gestão da entidade. Com sede em Lyon, no sudeste da França, a Interpol elege um novo Comitê Executivo a cada cinco anos. Este ano, os 13 membros da direção serão designados pela assembléia geral, composta por representantes de 194 países, na quinta-feira (25).

O jornal francês considera que a escolha dos dirigentes da poderosa organização internacional acontece num contexto de "total falta de transparência". Três concorrentes ao cargo de presidente do Comitê Executivo são conhecidos: o general emiradense al-Raisi, apresentado como favorito; a vice-presidente eslovaca Sarka Havrankova e o nigeriano Adamu A. Mohammed. Mas nem todas as candidaturas foram divulgadas, sublinha o Libération. Quase um século após sua criação, em 1923, a Interpol pode ter, pela primeira vez, um representante brasileiro na vice-presidência. O delegado de Polícia Federal Valdecy Urquiza Júnior disputa a vaga com candidatos da Colômbia e de Trinidade e Tobago.

Ao chegar em Istambul, o general Al Raisi disse que a Interpol deve estar à altura de combater "crimes cibernéticos que ultrapassam as fronteiras e redes criminosas internacionais". Em sua conta no Twitter, ele escreveu que no cargo de presidente, deseja modernizar a Interpol, amparado nos "anos de experiência" que acumulou na "transformação das forças de polícia nos Emirados Árabes Unidos". Ativistas de direitos humanos denunciam, no entanto, o balanço repressivo de Al Raisi nessa função. 

Várias ONGs, entre elas o Centro do Golfo para os Direitos Humanos, a Liga de Direitos Humanos e a Federação Internacional de Direitos Humanos, acusam o militar emiradense de promover "detenções arbitrárias e atos de tortura de forma repetida e sistemática contra prisioneiros de opinião e defensores dos direitos humanos", quando dirigia os serviços de polícia no país do Golfo, relata o Libération

Além da oposição a Al Raisi, cerca de 50 parlamentares, a maioria europeus, enviaram cartas a ministros do Interior de vinte países, incluindo o representante da França, solicitando a rejeição da candidatura do chinês Hu Binchen ao cargo de delegado para a região da Ásia no Comitê Executivo da Interpol. Os signatários da carta consideram que a eleição de Binchen daria carta branca ao governo da China para continuar a fazer uma utilização "abusiva" da Interpol. 

Deputado francês foi alertado sobre abusos de candidato

O deputado francês Hubert Julien Laferrière, assinante da carta, afirma nas páginas do Libération que regimes autoritários como China e Emirados Árabes Unidos possuem "uma estratégia de influência global nas organizações internacionais".

O parlamentar da região de Lyon, onde fica a sede da Interpol, foi alertado por uma ONG há mais de um ano sobre a candidatura de Al Raisi. Ele foi informado sobre o caso do ativista Ahmad Mansoor, um poeta e blogueiro dos Emirados, defensor dos direitos humanos. Preso em 2017 e posteriormente condenado a dez anos de prisão por "prejudicar a reputação do Estado", Mansoor foi barbaramente torturado e acusa o general Al Raisi de estar por trás das violências. Mansoor tem um advogado francês, William Bourdon, que prestou queixa na Justiça francesa contra o militar emiradense por "atos de tortura".

Al Raisi também é considerado responsável pela prisão, em novembro de 2018, do jovem pesquisador britânico Matthew Hedges, que viajou a Dubai para uma estadia de estudos e acabou sendo acusado de espionagem pelas autoridades locais. Condenado à prisão perpétua e torturado, ele foi finalmente libertado após a intervenção diplomática de Londres.

Na véspera da reunião em Istambul, outro lembrete sobre a opacidade da Interpol refrescou as memórias. A mulher de Meng Hongwei, o ex-presidente chinês da Interpol que desapareceu repentinamente em Lyon em 2018, e dois anos depois foi condenado na China por corrupção, pediu à assembleia geral provas de vida de seu esposo. A mulher e os dois filhos do casal obtiveram asilo político na França. Desde o desaparecimento de Meng, ela não sabe o paradeiro do marido. Por outro lado, o indicado chinês deste ano, Hu Binchen, é ex-braço direito de Meng na Interpol.

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