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Insatisfação que gerou coletes amarelos há três anos continua presente na sociedade francesa

Há três anos, milhares de manifestantes vestidos com coletes amarelos começaram a se mobilizar por toda a França para protestar contra um aumento nos impostos sobre os combustíveis. Desde a primeira mobilização, no sábado do dia 17 de novembro de 2018, em rotatórias de estradas e em protestos espontâneos nas cidades, o movimento ganhou força a cada semana, até ser freado com a chegada da pandemia.

Coletes amarelos na Champs-Élysées, em Paris, 24/11/18.
Coletes amarelos na Champs-Élysées, em Paris, 24/11/18. © Photo : Benoît Tessier / Reuters. Montage : Studio graphique FMM
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Há três anos, no começo do inverno, Rémi, colete amarelo e funcionário de um hospital, deu o seu testemunho à RFI: “Trabalhamos e trabalhamos. Mas no final do mês, não temos nada. Quando você recebe € 1.100, paga o seguro do carro, paga o aluguel, água, luz, gás. O que sobrou no final do mês? Nada. No dia 15, já estamos com fome. "

O movimento dos “coletes amarelos” surpreendeu a França e fez o governo recuar na questão do imposto sobre os combustíveis e do preço da eletricidade. Emmanuelle Reungoat, pesquisadora em Ciências Políticas na Universidade de Montpellier, falou sobre as origens do movimento em entrevista à jornalista Laurence Théault, do serviço francês da RFI: “É um movimento que, no início, se centrou no poder aquisitivo, pois é uma questão importante para muitos coletes amarelos”, explica. “Porém, nossas pesquisas mostram que o movimento era muito mais que isso. Ou seja, existe também uma parte que não é afetada pela precariedade”.

Classe trabalhadora e classe média

A pesquisadora insiste que a tendência não afetou os mais vulneráveis. “É um movimento popular, de classe média. E vimos também que não tínhamos exatamente as mesmas populações nas rotatórias de estradas e nas manifestações urbanas. O movimento foi relativamente representativo de grande parte da população francesa”, relata.

Emmanuelle Reungoat observa que os motivos do descontentamento dos coletes amarelos “não mudam” há três anos. Para ela, os manifestantes, que lutam para terminar o mês, continuam a ter as mesmas dificuldades econômicas no dia a dia, “ainda que por vezes o movimento tenha conseguido criar redes de solidariedade e ajuda mútua”.

“Não foram as políticas públicas que mudaram. E mesmo que seja um movimento de trabalhadores ou de empregados em geral, a reforma do órgão para o trabalho (Pôle Emploi) e do seguro-desemprego não vai nessa direção. “A questão do sentimento de invisibilidade ou desprezo social também não mudou”, nota a pesquisadora.

Um retorno à mobilização?

A mobilização durou muito tempo, mas acabou se enfraquecendo. O movimento pode ser retomado? "Eu acho que ele não vai acontecer da mesma forma, se ele voltar. Dito isso, os motivos de insatisfação são sempre os mesmos”, acredita Emmanuelle Reungoat.

“O movimento criou redes entre as pessoas. Mesmo que as pessoas tenham se desvinculado, foram criadas redes sociais, de novos contatos vindos de meios políticos distintos. Essas são as coisas que permanecem. São redes que, potencialmente, podem ser remobilizadas, especialmente as redes de amigos ​​e as redes sociais. Daí dizer que o movimento será retomado e sob qual forma é algo difícil de prever”.

No total, o movimento dos coletes amarelos mobilizou quase três milhões de pessoas do final de 2018 e início de 2019. Os coletes amarelos na França têm voltado timidamente às ruas, mesclados aos manifestantes contra a obrigatoriedade da vacina. 

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