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Sem solução durável, governo francês realiza nova operação para evacuar cracolândia em Paris

Usuários de crack foram evacuados na sexta-feira (24) dos jardins d'Éole, no 19° distrito, ponto de consumo de crack em Paris, gerando tensões com cidades vizinhas. O governo francês diz que a solução é apenas "temporária", enquanto a prefeitura quer criar centros sociais para usuários. 

Um usuário de crack nos jardins de Éole, em Paris. O local foi evacuado nesta sexta-feira, 24 de setembro, mas moradores temem que a solução não seja durável.
Um usuário de crack nos jardins de Éole, em Paris. O local foi evacuado nesta sexta-feira, 24 de setembro, mas moradores temem que a solução não seja durável. © AFP/Geoffroy Van der Hasselt
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Com grande mobilização policial, a operação, realizada sob o comando do ministro do Interior, Gérald Darmanin, foi realizada de maneira tranquila e terminou às 11h30 da manhã (hora de Paris). Aproximadamente 50 usuários foram transportados em ônibus para a saída noroeste da cidade, na fronteira com os municípios de Aubervilliers e Pantin.

“Nós assumimos nossas responsabilidades”, declarou Darmanin à tevê francesa.

Mas a chegada dos ônibus não agradou o prefeito de Pantin, Bertrand Kern. “Estou furioso porque o prefeito de Aubervilliers e eu fomos colocados diante do fato consumado”, declarou à agência AFP. “Acrescentam mais 150 ‘crackeados’ a Quatre chemins, que já é um bolsão de miséria”, disse referindo-se a esta região precária da periferia parisiense.

Um túnel separa Paris de Pantin, nas proximidades da praça onde os usuários foram realocados. Para impedir que eles usem esta rota para chegar às cidades vizinhas, um muro de blocos de cimento começou a ser construído nesta sexta-feira, por iniciativa do comandante da polícia de Paris, Didier Lallement. Segundo a polícia, além de bloquear o acesso direto a Pantin, o objetivo é garantir a segurança no túnel.

Tensões entre governo e prefeitura

Há meses a concentração de usuários no noroeste da capital francesa gera conflitos entre a prefeitura de Paris e o ministério do Interior. A prefeita, Anne Hidalgo, lamentou não ter sido informada sobre a operação, mas reconheceu que a decisão alivia os moradores do bairro. 

“Eu falei com a prefeita de Paris há 48 horas”, replicou Darmanin, afirmando que a socialista, candidata às eleições presidenciais de 2022, pediu a nova evacuação.

Desde 30 de junho, quando foi realizada pela prefeitura de Paris uma primeira evacuação, os usuários de crack que se reuniam dentro dos jardins d’Éole começaram a se encontrar no lado exterior norte do parque. Em condições precárias, um pequeno acampamento de vendedores e pessoas viciadas na droga se constituiu, levando à degradação do espaço público e grandes incômodos para os moradores.

A nova localização destinada aos consumidores de crack, uma praça ao norte do turístico parque de La Villette, no 20° distrito, não fica em um bairro residencial.

Mudar o problema de lugar

Emmanuel Grégoire, prefeito adjunto de Paris, destacou o “risco real” de que essa evacuação apenas “mude o problema de lugar”.

“Nós preferiríamos uma evacuação mais bem coordenada com a uma assistência humanitária. Nós pedimos uma reunião urgente dos poderes públicos competentes (polícia, governo regional, Agência regional de saúde) para que este tipo de mudança não signifique a instalação de uma nova ‘colina do crack’”, disse referindo-se a um terreno vazio, ao norte de Paris, que se transformou em ponto da droga, antes de ser evacuado em 2019.

Posteriormente, os consumidores foram realocados na praça de Stalingrad, em Paris, e depois colocados nos jardins d’Éole.

O presidente do departamento de Seine Saint Denis, onde estão os municípios de Pantin e Aubervilliers, Stéphane Troussel, não aceita “o método escolhido que consiste simplesmente em colocar o problema às portas de Seine Saint Denis!”, disse.

Os moradores do 19° distrito e o prefeito adjunto de Paris pedem uma “solução perene” ao problema, que afeta os bairros do noroeste de Paris há décadas.

Em um comunicado, Lallement afirma que a evacuação, “necessária”, representa apenas uma solução “temporária”.

Centro médico-social

A prefeitura de Paris quer criar um centro médico-social e de repouso para acompanhar os usuários de crack na desintoxicação e reinserção social. Hidalgo se comprometeu a abrir antes de outubro este tipo de centro, conhecidos como salas de consumo, e recebeu o aval do governo francês em 15 de setembro, sob reserva de uma oferta e uma localização adaptadas, sem mencionar a possibilidade de consumo da droga no local.

O governo francês também defende a prorrogação das salas de consumo a risco diminuído, para além de 2022. Dois locais deste tipo existem atualmente na França, um em Paris e outro em Estrasburgo, no leste do país.

(Com informações da AFP)

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