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França: professores criticam medidas sanitárias insuficientes na volta às aulas

Mais de 12 milhões de alunos voltam às salas de aula nesta quinta-feira (2) na França. Diante do avanço da variante delta, mais contagiosa, o governo decidiu adotar o nível 2 do protocolo sanitário, em uma escala que vai até 4 em função da gravidade da epidemia.

Escola em Nice, na França: professores e pais temem onda de Covid-19 entre alunos menores de 12 anos.
Escola em Nice, na França: professores e pais temem onda de Covid-19 entre alunos menores de 12 anos. REUTERS/Eric Gaillard
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Taíssa Stivanin, da RFI

Apesar da estabilização no número de infecções no país, professores e pais consideram as medidas insuficientes: não há vacina para crianças menores de 11 anos e elas podem se tornar o novo alvo do vírus, gerando uma nova onda de casos.

As contaminações vêm caindo na França: nas últimas 24 horas, 19.425 casos foram registrados, contra 24.853 na semana passada. Mas a taxa de incidência por faixa etária mostra que o vírus se propaga mais entre os jovens e menores de idade.

Entre 10 e 19 anos, a circulação do SARS-CoV-2 é 35% maior do que na população em geral: 260 casos positivos para cada 100 mil pessoas. Entre as crianças de menos de 10 anos, as infecções também aumentaram, mas como muitas são assintomáticas, o vírus se espalha em silêncio.

Nesta quarta-feira (1), o ministro da Educação francês, Jean-Michel Blanquer, assumiu que é provável que haja um aumento das contaminações, mas citou a taxa de vacinação dos professores como um fator de proteção. Segundo ele, 78% têm um esquema vacinal completo, dado que vem sendo contestado por internautas nas redes sociais.

O protocolo do Ministério da Educação francês prevê o fechamento da classe caso um aluno do ensino primário, faixa etária que ainda não dispõe de vacina, teste positivo para a Covid-19. A partir dos 12 anos, o ensino remoto será reservado aos alunos que não foram imunizados. De acordo com os dados da agência de saúde francesa, Santé Publique France, apenas 33% dos jovens de 12 a 17 anos estão totalmente vacinados

O uso da máscara a partir dos seis anos de idade também continuará sendo obrigatório, assim como a separação entre classes de níveis diferentes, que não devem se cruzar nos estabelecimentos. Outras medidas incluem o distanciamento nas cantinas, ventilação para arejar ambientes fechados e higienização frequente das mãos.

O documento, entretanto, não prevê a instalação obrigatória de purificadores de ar, sensores de CO2 ou o limite do número de alunos nas salas de aula. Para Guislaine David, secretária-geral de um dos principais sindicatos de professores da França, o uso dos equipamentos para monitorar a ventilação nas classes deveria ser obrigatório e o governo poderia votar um orçamento específico para equipar as escolas.

“A questão é que o Ministério preconiza, mas não obriga as coletividades locais, que gerenciam as escolas, a instalar os sensores de CO2 ou os purificadores de ar. É um problema de recursos, por isso esperamos que o governo vote um orçamento para que as escolas sejam um local seguro, sem diferenças regionais”, disse à RFI Brasil.

As classes lotadas também são motivo de preocupação. Em algumas escolas, 30 ou 40 crianças dividem o mesmo espaço. “Vai ser complicado respeitar a distância física”, ressalta a sindicalista francesa. “As classes estão cheias, principalmente na pré-escola, onde a adoção das medidas de proteção é ainda mais complicada: as crianças não usam máscaras, estão sempre em grupo e perto umas das outras. Com esse protocolo, não há como protegê-las”, afirma.

Trabalho à distância e ensino remoto

A questão principal é que, sem proteção adequada, é provável que durante o outono na França muitas classes fechem, obrigando os pais a trabalhar e assegurar as aulas em ensino remoto. Para Rodrigo Arenas, porta-voz da FCPE, o principal sindicato francês de pais de alunos, “mais uma vez as famílias deverão assumir o ensino das crianças em casa”, em razão de um protocolo inadequado.

"A regra de fechar a classe com um só caso positivo não faz sentido: os alunos vão ficar em casa, mas bastaria testá-los todos os dias para evitar esse problema”, diz, em referência aos testes de saliva. “Sabemos que as crianças precisam ir para a escola”, acrescentou em entrevista à AFP.

Élodie, professora em um liceu no subúrbio parisiense, diz que, um ano e meio após o início da epidemia, aprendeu “a não antecipar os problemas”, como explicou em entrevista à RFI. A professora francesa afirma que este será um ano onde a escola terá que preencher as lacunas de ensino deixadas nos meses anteriores, o que deverá gerar uma sobrecarga de trabalho para os alunos.

Em relação ao protocolo sanitário, Élodie diz que se preocupa com os alunos. “Não me sinto em segurança. O objetivo é manter as escolas abertas o máximo possível, apesar dos riscos. E com uma variante tão contagiosa, temo que haja um aumento das contaminações”, declara.

Para Laila, diretora de uma pré-escola na região parisiense, o fato da vacinação não ser obrigatória para professores e alunos a partir de 12 anos complica ainda mais a situação. “Espero que o Ministério da Educação tenha previsto substituições em caso de licença-médica. Se as ausências se repetirem, será problemático”, comenta. “Apesar de tudo, mantemos o otimismo. Mantenho a confiança, senão não trabalharia nessa área, resume.

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